domingo, 5 de setembro de 2021

RESENHA: IRON MAIDEN — SENJUTSU (2021)




Muitos fãs ou admiradores da música pesada se questionam se o Iron Maiden ainda precisa lançar material novo. A resposta é simples: não! Porém, isso não significa que não devem lançar. Todo e qualquer material da Donzela sempre será bem-vindo — bom, pelo menos eu aceito com todo o entusiasmo.


Gravado em 2019, antes dessa desgastante pandemia, as novas músicas do Maiden ficaram guardadas a sete chaves por Steve Harris, receoso por um suposto vazamento, já que o sucessor de “The Book of Souls” acabou atrasando pelo menos um ano e meio. Mas, 2021 chegou e esse material inédito estava sedento para ver a luz do dia; sob o nome de “Senjutsu”, após uma série de teasers misteriosos, o novo álbum do Iron Maiden finalmente veria a luz no dia 3 de setembro.

Em “Senjutsu”, a banda repete sua fórmula que vem sendo usada nos últimos 26 anos, desde o subestimado “The X Factor”, onde a banda abraçou o lado mais sombrio e progressivo, com elementos orientais, sintetizadores e uma harmonia marcante em praticamente todos os momentos. Também é bom destacar que a banda não segue mais estruturas piegas de verso-refrão-verso-refrão-ponte-refrão, não que a banda abandonou seus refrãos épicos e pegajosos, eles ainda estão aqui, mas você percebe que isso não é mais uma regra.



Senjutsu”, a faixa de abertura, é uma canção sombria que foge da tradição de músicas up-tempo abrindo álbuns da banda. É uma música forte que conta com sintetizadores harmonizando e criando um tom marcante, que tem seu triunfo na interpretação de Bruce Dickinson. Uma verdadeira aula de vocal. Talvez alguns questionem se essa deveria ser a música que abre o álbum, mas acredito que foi a escolha certa.


Aos saudosistas de plantão, não podem reclamar de “Stratego”, que tem aquele galope tradicional de Steve Harris que comanda a faixa. O refrão é muito bom, mas aquela guitarra de Janick Gers acompanhando o refrão poderia não existir. Mas vamos ao primeiro gosto que o álbum teve, com “The Writing On The Wall”, uma faixa ambiciosa, onde tem um elemento Folk/Country com um violão marcante que precisava estar ali, pois dá um charme para a faixa. Refrão mais uma vez impecável e marcante, além de Adrian Smith simplesmente arrepiando no solo.




Falando em violão, “Lost in a Lost World” tem uma intro acústica bastante sombria, com Bruce usando seu tom mais grave contrastando bem com o teclado. Porém, na parte elétrica é onde a banda começa a pecar com a repetição da fórmula, acordes semelhantes a várias músicas da banda, guitarras gêmeas idem, além de que tudo começa a ficar muito maçante com seus quase dez minutos, ainda mais com muitas partes repetitivas antes de retornar ao refrão. “Days of Future Past” me surpreendeu positivamente, um riff pra lá de empolgante puxa-nos para um tom animado que daria uma perfeita faixa de abertura.

“The Time Machine” também abusa da repetição de fórmula, automaticamente no seu início você lembra da faixa “The Book of Souls” e “The Legacy”, a segunda do álbum “A Matter Of Life And Death”, porém essa repetição não é maçante como duas faixas atrás, pois é uma baita faixa, com um violão ditando boa parte da melodia, que passa por mudanças de tempo, solos épicos e mais uma performance esmagadora de Bruce.

“Darkest Hour” rouba a cena e sem dúvidas é a melhor faixa de “Senjutsu”, seu tom sombrio chega a ser melancólico em certo momento. Seu ápice que é o refrão, fica na sua cabeça logo de cara e você que ouví-la novamente assim que acaba a audição. A banda acertou em manter o ritmo dela e não acelerar na parte dos solos, ficou tudo bem encaixado.


Para as três últimas faixas, é um sentimento de ame ou odeie, pois são três faixas de dez minutos para fechar um álbum, então vai depender muito da paciência do ouvinte o bom acolhimento delas. “Death of the Celts” podemos chamar de “The Clansman Part II”, pois é incrível como as duas se assemelham, ás vezes parecem até usar as mesmas notas e transições, será que Harris achou que ninguém perceberia? Mas vamos adiante que ainda temos mais de vinte minutos de álbum. “The Parchment” é longa, tem seu climax apenas depois de seis minutos decorridos com um ponte incrível, mas até lá, muitas repetições e isso acaba cansando, várias partes onde a banda repete o riff dezesseis vezes, poderiam diminuir para quatro vezes que daria uma dinâmica melhor para a faixa. Fechando, vem “Hell On Earth”, começando com dois minutos de uma intro que, como disse antes, poderia ser reduzida pela metade. Com dois minutos Nicko McBrain dá um basta nisso e inicia a faixa, que mais uma vez peca na repetição, mas inegavelmente é a melhor das três últimas, a performance vocal é mais uma vez impecável e é o ponto alto da faixa. Encerra bem o álbum, não brilhantemente, mas fez bem o papel.





No final da audição, o que fica é a impressão de que “Senjutsu” não é um álbum para os fãs antigos da banda, os saudosistas provavelmente não irão curtir esse som mais longo e arrastado. Os novos fãs, da era “Brave New World”, vão gostar bastante, ainda que possam se sentir um pouco entediados com as faixas mais longas, aí vai depender da paciência de cada um. A mixagem peca em não dar o peso necessário para o as faixas, principalmente para os bumbos da bateria, o que é inadmissível, afinal de contas isso ainda é Heavy Metal.

Agora, impossível não elogiar Bruce Dickinson com seu vocal impecável, que ainda alcança notas incríveis e sabe posicionar o tom de sua voz de forma perfeita de acordo com a necessidade da música, ele ainda é o cara. Os solos, principalmente de Adrian Smith e Dave Murray são incríveis e sempre são destaque. Gers pode ser peça importante na composição, mas seu timbre ainda não me agrada.

Enfim, ao fim da audição, os destaques ficam para “Senjutsu”, “The Writing on the Wall”, “The Time Machine”, e “Darkest Hour”. O sentimento de satisfação existe, por ter um novo álbum do Maiden, a banda ainda mostra fome e vontade de continuar, mas também fica um sentimento de cansaço por conta das faixas maçantes e com fórmula desgastada. Ao meu ver, um álbum mais agradável de ouvir do que seus dois antecessores, mas que não terá a vida útil tão longa e não vai figurar nem no top 10 da vasta discografia da Donzela.




Iron Maiden — Senjutsu
Data de lançamento: 03 de setembro de 2021
Gravadora: Parlophone / Warner

CD 1:
01. Senjutsu
02. Stratego
03. The Writing on the Wall
04. Lost In A Lost World
05. Days Of Future Past
06. The Time Machine

CD 2:
01. Darkest Hour
02. Death Of The Celts
03. The Parchment
04. Hell On Earth

Formação:
Bruce Dickinson — vocal;
Steve Harris — baixo, sintetizadores;
Adrian Smith — guitarra;
Dave Murray — guitarra;
Janick Gers — guitarra;
Nicko McBrain — bateria.

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