domingo, 19 de setembro de 2021

ENTREVISTA MARCELO VASCO

 

 

Artista gráfico brasileiro com mais de 100 capas publicadas (Slayer, Kreator, Machine Head, Testament, Hatebreed, Soulfly), chefe do departamento gráfico da agência AISA, com escritórios na Noruega, Suíça e Estados Unidos, além de guitarrista das bandas Patria The Troops Of Doom e  Mysteriis, entre outros projetos musicais.

Por Alexia Rádio Rock





1) Marcelo, primeiramente gostaria de agradecer a você por nós conceder essa entrevista e
dizer que sou um grande fã e admirador do seu trabalho. Gostaria de iniciar por como você
começou a desenhar e em que momento o hobby se tornou profissão?


Marcelo Vasco - Ah que legal! Fico feliz! Eu que agradeço pelo espaço e interesse no meu
trabalho. Bom, eu comecei a desenhar quando era muito novo, ainda nos anos 80, mas nunca
estudei desenho de fato e esse hobby sempre esteve comigo desde então. Uma certa vez um
amigo do colégio me apresentou uma fita cassete do Iron Maiden, que era do irmão mais velho
dele, pedindo para eu desenhar o monstro da capa. O monstro era o Eddie e o álbum era o
Killers do Iron Maiden. Depois disso minha vida mudou, me apaixonei pelo Heavy Metal e dai
pra frente foi só ladeira abaixo sem freio, no bom sentido (risos). Eu por ter músicos na família
já me interessada por instrumentos musicais e até já tocava alguma coisa de violão, ensinado
pelo meu tio. Com o passar dos anos e com o Heavy Metal na minha vida eu obviamente
acabei indo para o lado da guitarra, estudei, comecei algumas bandas e tudo foi fazendo mais
sentido com o tempo. Em meados dos anos 90 eu tive acesso programas gráficos no
computador e isso também despertou meu interessante. Ainda no final dos anos 90 eu já
estava fazendo alguns trabalhos gráficos para minhas bandas, alguns amigos e acabei
expandindo para bandas de fora através do boca a boca. E esse hobby acabou virando aos
poucos uma possibilidade de virar profissão. No começo dos anos 2000 eu comecei a fazer
faculdade de Design Gráfico, trabalhei na área durante bons anos e paralelo a isso mantive
meu trabalho focado no mundo do Heavy Metal. Quando a demanda de trabalhos nesse nicho
aumentou e eu senti que poderia viver disso, mesmo estando no Brasil, onde não existe um
mercado real para esse tipo de música, eu acabei arriscando, largando emprego e focando
meu trabalho apenas para bandas. Por sorte deu muito certo e basicamente desde 2008 minha
vida gira em torno disso. Acho que foi nessa época que eu posso considerar verdadeiramente
que o hobby virou profissão, pois começou a ser meu ganha pão. Eu já estava casado, tinha
uma filha pequena e dependia disso pra sobreviver.






2) Como começa o processo de criação para a arte de um álbum?

Marcelo Vasco - Eu gosto de estar livre para criar de acordo com a minha própria interpretação
e perspectiva, baseada muitas vezes no título, conceito ou letras do álbum. As ideias iniciais
vindas da banda também são importantes para me dar um “norte”, então junto tudo isso e
começo a desenvolver alguma ideia na minha cabeça, ainda antes de ir para o computador e
meter a mão na massa. Meu trabalho é feito 99% em ambiente digital, então raramente uso
papel, lápis ou tintas.

3) Você tem acesso às músicas do álbum que você está trabalhando?
Marcelo Vasco - Nem sempre, pois geralmente quando a banda me procura, o estágio de
produção do álbum ainda está inicial, então muitas vezes eles nem tem a música gravada
ainda. Mas quando eu tenho essa possibilidade, eu prefiro ouvir o som, é claro. Isso me ajuda
bastante na inspiração e até para saber que tipo de estética cabe bem ou não naquele
trabalho. Mas eu ouvindo algum material prévio ou ao menos sabendo o estilo da banda, já me
dá algum bom parâmetro também.
4) Como você começou a trabalhar com artistas internacionais?
Marcelo Vasco - A primeira capa internacional que eu fiz foi para a banda sueca Lord Belial, no
álbum “Angelgrinder”. Isso foi no final de 99 ou começo de 2000, mas o álbum só foi lançado
em 2001 ou 2002, não me lembro ao certo agora. Esse trabalho me abriu algumas portas para
o mercado estrangeiro, houve uma procura maior de bandas de fora do Brasil para eu fazer
trabalhos e isso foi muito positivo. Apesar de eu receber pra isso, eu ainda considerava um
hobby, mas estava aos poucos se expandindo, como eu disse anteriormente.

5) Sobre a capa do Slayer. Você considera a capa do álbum “Repentless” do Slayer o seu
trabalho mais importante? Como a banda chegou até você e se teve algum contato direto com
os integrantes durante o processo de criação para o disco?

Marcelo Vasco - Sem dúvida! O Slayer é até hoje meu trabalho mais importante e o que ainda
me rende ótimos frutos. Foi esse trabalho que me mostrou para o mundo, digamos assim. Eu
sou mega fã da banda desde moleque, eles são minha banda de Metal preferida, então
trabalhar pra eles sempre foi um sonho que eu achei que nunca pudesse ser concretizado. A
vida é muita louca né?! (risos). Até hoje meio que não caiu a ficha que eu trabalhei pra eles. É
algo surreal! O contato inicial foi através da Nuclear Blast, gravadora para a qual eu já havia
trabalhado por alguns anos. Eles entraram em contato comigo e perguntaram se eu estava
interessado em mostrar o meu trabalho e tentar criar algo pro Slayer. Eu fiquei atordoado com
a notícia, mesmo sem saber se seria eu de fato o escolhido. Então eu trabalhei
incansavelmente por muitos dias, fiquei estressado, dormia mal, enfim, a pressão era grande.
Foi um sofrimento mas extremamente positivo (risos). Sobre o processo de criação, eles me
passaram o nome do disco e me deixaram super livre pra criar, então eu acabei trabalhando
em cima de alguns rascunhos e mandei, pra ver se eles gostavam de algum dos caminhos. Até
o momento eu estava em contato somente com a Nuclear Blast, eles faziam a ponte com a
banda, até que num determinado momento eles escolheram um dos caminhos que eu havia
proposto e o Tom Araya e o Kerry King entraram em contato comigo. Eles disseram que
estavam adorando o resultado. Eu quase chorei (risos). Quando soubemos qual era o
direcionamento certo da banda, então trabalhamos todos juntos em adaptações, detalhes e
tudo mais, até a finalização da arte. Isso durou alguns meses. Foi um trabalho enorme, pois eu
fui responsável também pelo layout interno do disco, de todos os formatos, além de
merchandise e tudo mais. Mas valeu super a pena todo aquele “sofrimento”. Depois de
“Repentless” eu praticamente fiz todo material gráfico para o Slayer até que eles resolveram
parar com a banda em 2018, como programação visual do palco, mais merchandise, fiz a capa
do ComicBook deles na versão limitada de capa dura, fiz arte do ao vivo “Repentless Killogy” e
a ilustração da Tour final de despedida deles. Nesse período de 2015 a 2018 tive ainda a
oportunidade de conhecer eles pessoalmente, estive junto com eles mais de uma vez e eles
foram nota 10 comigo. Fiquei feliz demais por ter conhecido meus ídolos de infância, e ter
trabalhado pra eles é algo que não tem preço.




6) Quais são seus planos futuros?
Marcelo Vasco - No âmbito do mundo gráfico, eu simplesmente sigo trabalhando arduamente
para milhares de bandas, pois faço muitos trabalhos para grandes selos como a Nuclear Blast,
Century Media, Napalm Records entre outros. Minha vida e agenda é sempre bem turbulenta,
as vezes até mais do que eu gostaria (risos). Recebi também uma proposta de uma editora do
Reino Unido querendo lançar um livro solo meu, com minhas artes e algumas histórias ao redor
delas. Pretendo trabalhar nisso para 2022, se der tudo certo.

7) Alguma banda ou artista que você gostaria de trabalhar mas ainda não teve oportunidade?
Marcelo Vasco - Meu sonho de consumo sempre foi o Slayer, então eu posso dizer que zerei a
vida e nada estaria além dessa conquista, mas obviamente existem muitas outras bandas
importantes pra mim que eu ainda gostaria de trabalhar, como o Metallica, o Sepultura ou o
Iron Maiden, por exemplo.]


8) Você é um artista completo. Como anda seus projetos musicais como o THE TROOPS OF
DOOM, PATRIA entre outros?
Marcelo Vasco - Acabamos de lançar um segundo EP com o THE TROOPS OF DOOM,
chamado “The Absence of Light”, com participação do lendário Jeff Becerra do Possessed e do
Lars Nedland do Borknagar. Está disponível, juntamente com o nosso Ep de 2020, em todas as
plataformas digitais e também em formato físico. Quem tiver interesse de adquirir o material é
só acessar o link da nossa loja (https://www.thetroopsofdoom.com/compreaqui). E também já
estamos gravando o Full álbum, que pretendemos lançar por volta de Maio do ano que vem.





Com o PATRIA, estivemos num hiato de 4 anos, desde que lançamos nosso último álbum
“Magna Adversia”, mas atualmente estamos gravando finalmente material novo que será para
um novo álbum, também em 2022. Tenho também um projeto paralelo chamado LE CHANT
NOIR, que estamos lançando disco novo agora no dia 22 de Outubro. É um projeto que tenho
com baterista Malphas, que toca comigo no MYSTERIIS, e com o ex-vocalista do ANCIENT
(Noruega), Lord Kaiaphas. O som é mais experimental, transitando entre o Black Metal
sinfônico e Doom/Death Metal, com pitadas de música clássica, progressiva e algumas outras
loucuras. Não é um material para todos os ouvidos, eu diria (risos).

9) Vivemos em um mundo diferente devido a pandemia, como você enxerga essa nova
realidade em que vivemos?

Marcelo Vasco - É uma situação ainda muito recente e eu acho que apesar de já não estarmos
tão perdidos como no começo da pandemia, ainda não sabemos bem o que isso representa ou
vai representar no futuro. Ainda estamos aprendendo a lidar com ela e com todos os possíveis
efeitos colaterais. Agora com uma boa parte da população vacinada eu acredito que as coisas
vão estar um pouco mais controladas, na medida do possível. Temos que observar o que
acontece, aprender a conviver com vírus e continuar tomando todos os cuidados possíveis. E
apesar de parecer que não vai acabar nunca, tenho certeza que vai passar, se houver bom
senso e cada um fizer sua parte.

10) Sobre o THE TROOPS OF DOOM? Como a banda conseguiu a sonoridade de discos
antigos? Nós entrevistamos o Jairo Guedz e lembro que não perguntamos sobre como a banda
chegou a sonoridade destruidora desse álbum?


Marcelo Vasco - Desde que montamos a banda essa era uma das nossas principais
preocupações. Não queríamos soar moderno, com produções cristalinas ou seguindo o molde
do “mercado”, onde você precisa soar de tal jeito para ser bem aceito. Hoje em dia muitas das
bandas acabam parecendo todas iguais e eu acho isso algo muito monótono e sem
personalidade. Então investimos em tentar resgatar da melhor maneira possível essa
sonoridade mais oitentista, que tem tudo a ver com a proposta do THE TROOPS OF DOOM,
nadando contra a maré. Como formamos a banda no meio de uma pandemia, não tivemos
sequer a oportunidade de estarmos todos juntos para a produção das músicas. Foi tudo feito
de maneira remota, via WhatsApp, cada um gravando sua parte separadamente em sua cidade
e depois sendo mixado. Não foi um trabalho muito fácil (risos), mas no final deu super certo.
Ficamos bem felizes com o resultado e acho que essa sonoridade mais primitiva que
conseguimos alcançar é exatamente a cereja do bolo. Inclusive muita gente desavisada acabou
não entendendo a proposta desse som mais raíz que estamos fazendo, mas ai também não é
problema nosso (risos). Mas quem entendeu a proposta simplesmente adorou!




9) Deixe uma mensagem aos fãs do seu trabalho?
Marcelo Vasco - Gostaria de agradecer demais a todos pelo apoio e carinho com os meus
trabalhos, tanto com as artes gráficas como com as minhas bandas e projetos. Muito obrigado
pela força! Espero que a gente consiga atravessar esse momento ainda conturbado de
pandemia e num futuro próximo possa se encontrar pelos shows e se divertir! Valeu! Grande
abraço e saúde!










Visite o site de Marcelo Vasco em www.marcelovasco.com

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