segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Decapitated: Como reagir em casos de acusação de estupro




No final do ano passado, os quatro membros da banda polonesa de death metal Decapitated foram presos durante sua turnê pelos Estados Unidos por uma acusação de estupro e sequestro. O ocorrido teria sido no show que fizeram com Thy Art is Murder na cidade de Spokane, em Washington, no dia 31 de agosto. A vítima afirmou que ela e uma amiga foram convidadas para irem ao ônibus da turnê para tomar umas bebidas com os caras e quando chegaram lá o baterista Michal Lysejko começou a passar a mão nos seus peitos. Isso a deixou desconfortável e a partir daí, segundo a moça, o clima mudou e eles começaram a falar em polonês. A sua história termina com um estupro coletivo, dentro do banheiro, pelos quatro integrantes. No início de janeiro, os promotores do condado de Spokane retiraram as acusações prezando o “bem-estar da vítima” e o “interesse da justiça”, é o que diz o jornal local The Spokesman-Review. O veículo de comunicação também afirma que apesar de terem sido retiradas, eles podem vir a ser processados novamente por esse mesmo caso.

Considerando todas as situações, falar sobre qualquer coisa que envolva estupro é sempre um caso bem delicado. Qualquer história contada tem várias versões, mas quando envolve um crime tão grave quanto esse, é possível multiplicar por mil. Cada um dos envolvidos tem o seu lado. E a verdade aqui fica comprometida, especialmente quando se trata da versão da vítima. Ela se torna vítima e algoz instantaneamente e, com certeza, é preciso muita coragem para levantar a cabeça e contar o que aconteceu. A melhor descrição que eu já vi sobre o assunto foi o conto de um escritor paranaense, Dalton Trevisan, que a história de um delegado que investiga um estupro e é possível ouvir as versões por todos os vieses, da vítima, dos acusados e das testemunhas. Em cada uma delas a situação muda completamente. Agora trazemos a cena para os dias de hoje, que parece ser mais aberto a uma real investigação de estupro. Ampliamos o acontecido em uma cidade pequena dos Estados Unidos, Spokane incluindo uma turnê de uma banda de metal, Decapited. Fica ainda mais complicado.

É fácil olhar de fora e discutir o que houve. Metade diz que foi e a outra diz que não. Existe uma situação que infelizmente é tão vista como comum e banalizada que faz com que continue acontecendo e com que muitas vítimas não denunciem. E isso é o pior ciclo que pode acontecer. Sou mulher, então, vou olhar para isso com tudo o que o fato de ser mulher me trouxe. A primeira coisa que acontece com a mulher que denuncia ser vítima de um estupro é ser desacreditada. A moral dela é posta em dúvida e qualquer deslize anterior já a faz ser vista como mentirosa. Automaticamente. Mas ela estava lá porque quis. Mas ela entrou no ônibus. Mas ela bebeu cerveja com os caras. O grande problema com essas acusações é que existe um belo limite aqui. Ela podia até ter ficado afim de um deles, e ter entrado no ônibus com a esperança de que algo acontecesse.

Só que estupro e sexo são duas coisas muito diferentes.

Nesse caso específico, a menina já havia mentido para a polícia sobre um caso, o que obviamente desacreditou a vítima. Outra questão vista como motivo para liberação da acusação foi o fato de que a moça estava no mosh e se jogou diversas vezes na grade durante o show e que isso seria a causa para os seus ferimentos no braço. No meu modo leiga de medicina forense, mas com conhecimentos advindos do CSI, imagino que se jogar contra a grade ou no mosh, e ter os braços segurados contra a pia do banheiro sejam machucados muito diferentes, e ainda assim difíceis de serem provados. Assim como há muitos casos de mulheres que mentem para a polícia com medo de apanharem novamente dos namorados ou maridos.

Como disse anteriormente, é um assunto muito delicado não sabemos se o estupro aconteceu, e ser liberado por falta de provas não quer dizer que se é inocente. A pior parte de tudo isso é a banalização em relação a um crime tão absurdo. Há muitas lacunas soltas nessa história, e que provavelmente jamais serão preenchidas. E o problema é justamente esse, muitas vezes somente a vítima e o criminoso sabem o que aconteceu e a justiça fica de fora nesses casos. Parece sem solução, não é? Então cabe a nós, como uma sociedade que preza sua própria liberdade sexual, que briga pelos direitos e aceitação de que fazemos o que queremos e com quem queremos, a repensar os conceitos sobre esse tipo de violência. Porque, sim, com provas ou sem provas, estupro é crime.

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