sexta-feira, 27 de outubro de 2017

King Diamond: Trinta Anos de “Abigal




Foi muito injusto recém descobrir uma banda como o Mercyful Fate e, quase simultaneamente, saber que ela acabou. Mas, como assim? Com apenas dois discos??? Essa banda é muito fora da curva, não dá para ficarmos órfãos dela assim tão cedo…

E, de fato, não ficamos. Em pouco tempo, veio a notícia de que King Diamond, aquele exótico vocalista de uma Legião de vozes, estava vindo com sua estreia solo. Ou em banda autodenominada, caso você prefira assim. E, melhor ainda: três quintos do novo conjunto seria formado pelos ex-Mercyful Fate Timi Hansen, no baixo, Michael Denner, na guitarra, além do próprio King. Junto a eles, um baterista técnico e versátil, chamado Mikkey Dee, e um jovem guitarrista, Andy LaRocque, que viria a formar, com King, uma das parcerias musicais mais sólidas já vistas no meio musical. A versatilidade performática de King encontrando suporte na melodia e no neoclassicismo de LaRocque.

“Fatal Portrait” surgiu para tranquilizar os fãs. Estava tudo lá, como um prosseguimento natural do espírito do Mercyful Fate. É um disco essencial, mas restava ainda dar um grande passo. Algo que fizesse com que a nova banda fosse reconhecida para além de suas origens. Isso se concretizou em 1987, no disco que seria, para a King Diamond Band, aquilo que “Melissa” foi para o Fate. Duas mulheres, duas bruxas. Era o momento do nascimento de “Abigail”





Naquele período, caso alguém nos dissesse que, cada um daqueles novos discos que ouvíamos receberia o status de “clássico” no futuro, não teríamos como duvidar. Barreiras eram rompidas a todo momento e nós percebíamos que aqueles álbuns eram especiais. O passo para além do Mercyful Fate era dado ainda com a formação do disco anterior e seria a despedida da mesma. “Abigail” era mais elaborado, mais técnico e intrincado, tanto em termos musicais quanto líricos. Nascia ali, o King Diamond contador de histórias.

O disco antecedente já possuía uma pequena sequência de músicas com uma narrativa, mas “Abigail” era um álbum completamente conceitual. Pode-se até dizer que, grande parte de seu sucesso, veio desse ineditismo de contar, através das canções, uma história de horror gótico, com personagens puros que, de repente, veem-se envolvidos em uma teia de maldições. Traçando um paralelo, “Abigail” está para King Diamond, assim como “O Iluminado” está para Stephen King. A obra mais lembrada de cada um e que, por essa razão mesmo, chegou a gerar uma continuação, por parte dos dois Kings.

A noção de teatralidade de King percebeu que, agora, a produção de palco teria que passar por inovações. Atores, cenários, efeitos especiais… Tudo isso começou a ser mais e mais necessário a partir daqui e não foi coincidência o fato do cantor ter escolhido este ano, em que o disco completou trinta décadas no dia 21 de outubro, para executá-lo na íntegra, em shows especiais de aniversário.

Não vamos aqui falar sobre a história – que é, de fato, aterrorizante – pois esse é um tema já bastante conhecido e, para quem não conhece, pode facilmente encontrar traduções e adaptações pela internet. Tão assustador quanto a história, porém, são as declarações de King a respeito de como houve a sua inspiração, acordando de repente em uma noite de tempestade. Se há exageros, ou não, não importa. Músicas como “Arrival”, “Black Horsemen” e, principalmente, “The Family Ghost” atingem um nível de composição que apenas uma formação como essa poderia transportar com tanta perfeição para o vinil, tendo ainda a participação do engenheiro de som e tecladista Roberto Falcão. Há um King para dar voz a cada personagem e, contrariando qualquer lógica, o artista torna-se ainda mais demoníaco ao deixar de abordar a figura de Satã como tema central de suas composições e explorar outras facetas do macabro.

O disco ainda é o mais vendido da carreira do vocalista e perpetua-se em importância, tal qual perpétuo é o espírito de Abigail. Essa é a lógica tradicional dos contos de horror: o mal nunca é definitivamente sobrepujado. Ele sempre volta.

Natimorta em 1777.

Reencarnada em 1845.

Abigail retornou em 1987, através da mente de um Rei dinamarquês, nascido em um cemitério, e abriu seus olhos amarelos mais uma vez.

E 18 se tornaram 9.

Formação

King Diamond – vocal

Andy LaRocque – guitarra

Michael Denner – guitarra

Timi Hansen – baixo

Mikkey Dee – bateria

Roberto Falcao – teclado



Músicas

1.Funeral

2.Arrival

3.A Mansion in Darkness

4.The Family Ghost

5.The 7th Day of July 1777

6.Omens

7.The Possession

8.Abigail

9.Black Horsemen

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