quinta-feira, 9 de março de 2017
ENTREVISTA COM O GUITARRISTA MICHAEL ANGELO BATIO
“O meu objetivo se tornou fazer com que os músicos de rock tocassem tecnicamente tão bem quanto os guitarristas de jazz. E, com as minhas aulas, acho que contribui para os músicos de rock aprimorarem a sua execução.”
(Michael Angelo Batio)
Texto e entrevista por Eduardo Simões
Me recordo da primeira vez que tive contato com o guitarrista Michael Angelo Batio. A sua técnica era inacreditável. Rápido, limpo e preciso. Ele também repetia os riffs, frases e arpegios com a mão por cima do braço. Mas, como se estivesse se divertindo em nos humilhar, fazia a mesma coisa tocando como canhoto (veja esse exemplo)
Depois vieram as fotos com guitarra de 4 braços, o CD da sua banda Nitro e a consagração do seu nome como um dos mais populares para aulas e workshops ao redor do mundo.
Em janeiro estive com ele na NAMM, feira de instrumentos musicais realizada em Los Angeles. Ele estava especialmente ocupado: uma entrevista atrás da outra, várias participações em shows, autógrafos no stand das guitarras Dean, fotos com guitarristas. Após essa maratona o músico ia retornar para o estúdio para continuar a gravação do CD do Nitro, que, além de Michael e do vocalista original, Jim Gilette, contará com o baterista Chris Adler (Lamb of God) e será produzido pelo ganhador do Grammy Josh Wilbur (Lamb OF God, Avenged Sevenfold, Korn, Megadeth, Hatebreed).
Ele nos recebeu no stand da Dean para uma entrevista exclusiva, na qual falou sobre o Brasil, a volta do Nitro, a sua técnica e revelou com exclusividade e em primeira mão quem gravará o baixo no CD do Nitro.
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METAL: Obrigado pela entrevista.
MICHAEL ANGELO BATIO: Eu que agradeço pela atenção.
IMETAL: Primeiro me fale sobre o ano de 2017, especialmente sobre a volta do Nitro.
MICHAEL ANGELO BATIO: Estamos de volta! Eu e o vocalista original, Jim Gillete estamos acompanhados pelo baterista Chris Adler (Lamb of God) e pelo produtor ganhador do Grammy Josh Wilbur, que trabalhou com o Lamb of God por 10 anos. O disco está muito pesado. Eu uso 7 cordas em muitos momentos. O Jim Gillete tem um vocal gutural muito bom, mas ainda soa como ele. E também teremos os gritos altos, como nos velhos tempos. A sua voz está intacta, mesmo após tantos anos. Ele consegue, por exemplo, cantar a música Freight Train igual fazia naquela época. Ele é um atleta e professor de canto. Estamos sempre estudando e nos aprimorando. É muito pesado, mas ainda soa como Nitro. Tudo está talhado ao redor das músicas. As composições se destacarão em função da produção de Josh Wilbur.
METAL: Você mencionou a capacidade de reproduzir os gritos do primeiro CD, mesmo após 27 anos. Mas aquelas notas são realmente muito altas.
MICHAEL ANGELO BATIO: Sim, mas ele ainda consegue cantar daquela forma. Ele tinha 19 anos naquela época, mas sempre usou os gritos de forma seletiva. Como o Rob Halford, ele não gritava o tempo inteiro, apenas quando cabia na composição. E sempre o fez com muita técnica.
METAL: Eu assisti todos os seus vídeos, como, aliás, todos os guitarristas devem fazer. E você comenta que, mesmo tocando durante anos nunca teve tendinite em função da sua técnica. Isso pode explicar a voz do Jim. Parece que vocês estudam antes de fazer as coisas.
MICHAEL ANGELO BATIO: Exato! Sempre nos preparamos antes de fazer as coisas.
O meu professor me dispensou quando fiz 13 anos. Ele me disse: ‘você já toca melhor que eu, mais limpo e mais rápido. Não tenho mais nada para te ensinar’
METAL: Sei que apesar de muito conhecido pelo trabalho como guitarrista de Hard Rock e Heavy Metal você também estudou Jazz. Vou fazer uma pergunta difícil: quando foi a última vez que você ouviu algo e não conseguiu tocar na guitarra?
MICHAEL ANGELO BATIO: Tem muito, muito tempo. O motivo é simples: quando escutava algo que não conseguia tocar imediatamente, eu estudava e aprendia a tocar aquela música. Hoje a minha técnica me proporciona a versatilidade que preciso para tocar tudo que preciso tocar. Acho que os meus vídeos são tão famosos por isso: eu não digo que uma técnica é melhor que outra, mas que você deve aprender todas e usar de acordo com o que a música precisa. Eu sou bom com os dedos, palhetada alternada, “sweep picking”… Eu sei usar a técnica que me permite tocar o que a música precisa. Esse é o objetivo: ter uma técnica que te permita executar a música que está na sua cabeça.
METAL: Recentemente você gravou clássicos do Hard Rock, como Deep Purple e Van Halen, mas sempre acrescentando algo seu. Nos conte um pouco sobre as suas bandas preferidas, influências e sobre o que te inspirou a tocar guitarra.
MICHAEL ANGELO BATIO: Quando era um garoto eu tocava com palhetas Fender, que são grandes e eu não gostava delas. Isso já me incomodava e eu achava que algumas coisas precisam ser mudadas. Na primeira aula, aos 10 anos, o meu professor me ensinou quatro acordos e os transformei em uma composição na mesma hora. Eu tinha isso, ouvia algo na rádio e sabia o que estava sendo tocado. O meu professor “me dispensou” quando fiz 13 anos. Ele me disse: “você já toca melhor que eu, mais limpo e mais rápido. Não tenho mais nada para te ensinar”. Eu estudei todos os grandes guitarristas. Eu adoro Rock, mas às vezes não gostava da forma como os guitarristas de Rock tocavam. Eu sei que soa estranho. Eu adoro o Eddie Van Halen, Hendrix e vários outros. Mas não queria copiar ninguém. O meu estilo seria mais próximo de um músico que toca violino em uma orquestra. Eu ouvi muito Al Di Meola, John MacLauglin. Esses grandes músicos do Jazz foram uma grande influência. E tentei fazer o que eles faziam no Rock. O meu objetivo se tornou fazer com que os músicos de Rock tocassem tecnicamente tão bem quanto os guitarristas de Jazz. E você conversa com grandes guitarristas como John Petrucci, Herman Li, Dimebag, os guitarristas do Trivium, todos assistiram os meus vídeos. Os guitarristas brasileiros são excelentes. O Kiko é excelente. E sei que estudaram as minhas aulas por lá. Então acho que atingi o meu objetivo.
METAL: Nunca tinha pensado nisso.
MICHAEL ANGELO BATIO: Em todos os estilos a composição era tão boa quanto a execução. Só que no Rock as composições eram muito melhores. E nós mudamos isso, porque tanta gente viu os meus vídeos.
METAL: Acho que todo guitarrista assistiu.
MICHAEL ANGELO BATIO: São muito populares.
METAL: Eles ajudaram muito tecnicamente.
MICHAEL ANGELO BATIO: Essa é a intenção. A técnica de guitarra nos primórdios não se compara com a de hoje. A musicalidade das bandas de Rock originais é sensacional! É impossível compôr algo melhor que os The Beatles ou Led Zeppelin. Não é possível compor algo melhor que Stairway to Heaven. Não pode ser feito. Talvez você consiga fazer algo tão bom em outro estilo, mas naquele estilo ele é insuperável. Mas eu pensava que deveríamos evoluir na forma de executar aquelas composições. E, com as minhas aulas, acho que contribui para os músicos de Rock aprimorarem a sua execução.
METAL: Nos seus discos solo sempre temos convidados. E no disco do Nitro temos três músicos celebrados, mas… Quem gravará o baixo?
MICHAEL ANGELO BATIO: Risadas.
METAL: Já vi que ainda não pode ser revelado.
MICHAEL ANGELO BATIO: Vou te contar… Conversamos com Victor Wooten. Ele disse que gravará o baixo!
METAL: Uau!
MICHAEL ANGELO BATIO: Como você sabe ele é um grande musico de jazz e ainda não colocamos nada no papel, mas ele nos disse irá gravar. Eu, o Chris e o Jim funcionamos bem juntos E iremos ver se irá funcionar com o Victor. Ele é um monstro, mas toca jazz, e o disco está muito pesado.
METAL: Me fale sobre o seu trabalho com a marca de guitarras Dean. Estamos no estande da NAMM e vi muitas guitarras com o seu nome. Se eu tivesse que roubar uma, qual seria a melhor escolha?
MICHAEL ANGELO BATIO: As Dean são todas excelentes. Mas a guitarra Dean Michael Angelo Batio – Armored Flame é provavelmente a minha favorita. É um instrumento sensacional e tem um preço muito acessível. Tem muitas guitarristas boas, mas as Dean são demais! Eu sempre quis inovar. Não gosto de copiar os outros. Inventei o braço duplo, técnicas diferentes. Eu não digo que sou melhor, mas sou diferente, como sempre quis. E com a Dean tive liberdade para criar novos modelos. Eu vivo para a comunidade de guitarra! Doei a minha técnica e vivo para isso. E sempre digo: seja você você. O Yngwie usa uma das minhas técnicas, passando a mão por cima da guitarra, mas eu não uso as técnicas dele. Eu sempre quis ser original. Eu não jogo a guitarra pelo ombro como o Blackmore. Quando digo que quero ser como os meus heróis, não penso em fazer o que eles fazem, mas ser original como eles. Muita gente usa Fender, muita gente usa Ibanez e não vejo por que deveria ser como eles. A Dean tem ligações com Chicago, que é a minha cidade. E acabamos pensando de forma similar, sempre tentando inovar. Pegue, por exemplo, as guitarras do Dimebag tem um desenho que só existia na Dean, mas hoje você vê o Gus G tocando com o Ozzy com um corpo parecido, feito pela Jackson. Por isso amo as Dean: são excelentes e inovadoras. E eu sempre quis inovar.
METAL: Sei que não gosta da distorção de amplificadores.
RESPOTA: Exato.
Eu fico feliz com o mundo de hoje. É uma era excelente. É excitante ver para onde a música está indo. Nos anos 80 havia muita composição. Falavam de mim, do Paul Gilbert, do Yngwie… Todos querendo superar todos. Hoje todos somos amigos.
METAL: Me fale um pouco sobre o seu equipamento. O que encontraria no seu set em um show.
MICHAEL ANGELO BATIO: Eu desenvolvi um pedal com o Tom’s Line Engineering. Tem preço razoável e são excelentes. Eu uso os amplificadores DV Mark. Eu já usei Marshalls e Mesa Boogies. Eu descobri que hoje gosto das modelações de hoje. Tem muita coisa boa. O que eu faço é regular o som do amplificador como se fosse tocar blues. Não chega a ser distorcido, mas também não é inteiramente limpo. E quando ligo o overdrive o som cresce e fica com aquela característica de Heavy Metal. O som fica “justo”, pesado e você escuta todas as notas. É um equipamento simples, o que te disse com delay com 320 milissegundos e um chorus, que de vez em quando uso nas bases. Não uso muito wah wah. Na minha humilde opinião alguns guitarristas usam wah wah demais, até mesmo porque ele disfarça algumas imperfeições da sua técnica.
METAL: Acho que em alguns casos o som fica pouco interessante, sem definição. Posso consigo pensar em alguns nomes que abusam do wah wah…
MICHAEL ANGELO BATIO: Concordo. Não estou dizendo que não gosto de wah wah, mas aquele som com muito wah wah não é para mim. Uso raramente. Eu gosto de um tipo de som. É importante não ter muita distorção do amplificador, para conseguir controlar bem o som. Tenho três sons. Um som mais rock, que lembra Aerosmith. Se diminuo o volume do potenciômetro fica limpo, se piso no Overdrive fica Heavy Metal.
METAL: Vamos falar sobre música Rock e Pop. O que acha do pop de hoje?
MICHAEL ANGELO BATIO: O nível da execução nunca esteve tão alto. E acho que há música Pop de qualidade. O problema é que há muita feita com computadores sem muita qualidade. Não gosto de tudo, mas há coisa boa. Escute Michael Jackson nos anos 80. Estava cercado de bons músicos. O nosso produtor disse que hoje o Metal é uma ciência exata, assim como o Pop. Temos os modelos, formatos, batidas, bons músicos… Não gosto de todas as músicas, mas o nível da execução é alto.
METAL: Eu acho que às vezes se cercam de muitos recursos como auto-tune, etc.
MICHAEL ANGELO BATIO: Em muitos casos sim, mas a maioria dos artistas pop de hoje se cerca de músicos excelentes. Eu fico feliz com o mundo de hoje. É uma era excelente. É excitante ver para onde a música está indo. Nos anos 80 havia muita composição. Falavam de mim, do Paul Gilbert, do Yngwie… Todos querendo superar todos. Hoje todos somos amigos.
METAL: Você esteve no Brasil. Me fale sobre a sua impressão do país.
MICHAEL ANGELO BATIO: E eu tenho um visto de 10 anos! Portanto nada me impede de voltar e passar alguns meses por lá. O seu país é lindo, tem mulheres lindas, belas praias e músicos excelentes. O nível dos músicos é excelente. Outra coisa excelente é a forma como apoiam o Heavy Metal. A música é rica, com bossa nova e nomes como Antônio Carlos Jobin. Conheço a música dele. Pegue o Sepultura como exemplo, eles não copiam as bandas inglesas, mas fazem algo original e excelente. Tenho a impressão que os músicos do Brasil conhecem todos os acordes, e não apenas os acordes básicos tradicionais do Heavy Metal. Como eu, que estudei jazz. Enfim, os guitarristas são muito bons.
METAL: Você já esteve no Brasil e vai muito aos países asiáticos fazer workshops. Já teve problemas com os seus cases?
MICHAEL ANGELO BATIO: A minha guitarra dupla pode ser desmontada. O case é muito pequeno. Cada guitarra pesa 3kg e o case completo, com as guitarras, não deve pesar mais que 8 ou 10kgs.
METAL: Mais um motivo para você voltar para o Brasil ainda nesse ano.
MICHAEL ANGELO BATIO: Seria excelente! Ainda mais com o Nitro lançando um disco novo.
METAL: Muito obrigado pelo seu tempo. Gostaria de ver um show do Nitro no Brasil.
MICHAEL ANGELO BATIO: Eu que agradeço. Gostei da nossa conversa. Foi uma excelente entrevista e espero vê-lo em breve no Brasil
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