quarta-feira, 25 de outubro de 2023

NERVOSA – “JAILBREAK” (2023)









Nos últimos anos, escrevi as últimas três resenhas de discos anteriores da banda Nervosa e, em cada uma delas, um mesmo padrão se repetiu incessantemente. Quando analisei “Agony”, de 2016, “Downfall Of Mankind”, de 2018, e “Perpetual Chaos”, de 2021, mesmo observando e reconhecendo evolução musical e técnica em comparação aos trabalhos anteriores, no final, eu chegava invariavelmente a seguinte constatação: a banda necessitava urgentemente de uma segunda guitarrista. De preferência, uma que faça solos mais complexos do que os apresentados até aquele momento.



Pois finalmente os meus pedidos e também os pedidos de muitos outros fãs foram atendidos. A guitarrista, líder e, agora, também vocalista, Prika Amaral, resolveu adicionar uma companheira para lhe auxiliar nas seis cordas e o resultado é este que vamos discorrer à partir de agora.
Reprodução
UM NOVO COMEÇO

Antes de falarmos sobre o álbum em si, é bom explicar toda a reformulação que a Nervosa vem passando nos últimos anos. Depois das saídas da vocalista/baixista Fernanda Lira e da baterista Luana Dametto, em 2020, Prika Amaral precisou remodelar a banda completamente. Para o lançamento do álbum “Perpetual Chaos”, de 2021, foram chamadas Mia Wallace (baixo), Eleni Nota (bateria), assim como Diva Satanica (vocal).

O trabalho rendeu muitos elogios em território nacional e também foi bem internacionalmente (diga-se de passagem, com muito mérito). Parecia que Prika e cia. estavam no caminho certo, já que tirando as críticas sobre a necessidade de mais uma guitarrista, o registro trouxe uma banda afiadíssima e despejando Thrash Metal da melhor qualidade sobre nossas cabeças.

Acontece que todo período de adaptação tem os seus altos e baixos. Ao final da turnê de divulgação do disco, as novas integrantes da Nervosa, por diversos motivos, foram abandonando o barco uma a uma. Enfim, Prika se viu novamente em posição de começar tudo de novo…

Ninguém disse que seria fácil. E não foi mesmo, mas aqui estamos nós outra vez falando de mais um trabalho de inéditas da Nervosa. O primeiro que conta com Prika Amaral assumindo os vocais e o primeiro com a baterista Michaela Naydenova, a baixista Hel Pyre e a guitarrista Helena Kotina.
Reprodução
A GENTE AVISOU!

Para quem reclamou durante todos estes anos sobre a não presença de uma segunda guitarrista e estava só esperando isso acontecer para poder mandar um sonoro “eu já sabia”, a hora é agora!

Era evidente que ficaria bom. E mais evidente ainda que elevaria a sonoridade da banda a outro patamar.

Pois foi justamente o que aconteceu e é por este e outros motivos que vamos destacar à seguir, que podemos cravar sem qualquer medo de errar que estamos diante do melhor álbum da discografia da Nervosa. “Jailbreak”, o quinto disco de estúdio do quarteto, traz todos os elementos que um bom disco de Thrash precisa ter.

Com pouco mais de 45 minutos de duração e um total de 13 composições, somos convidados a transitar por uma verdadeira compilação de ótimos momentos. Adoro discos que possuem tracklists bem montados e que ajudam no equilíbrio da audição. E é justamente o que acontece em “Jailbreak” desde o início.
TRACKLIST BEM MONTADO

Após uma abertura furiosa com nada menos que três voadoras na porta muito bem aplicadas que atendem pelos nomes “Endless Ambition”, “Suffocare” e “Ungrateful”, chegamos naquele momento crucial onde a audição engrena de vez ou fracassa em suas próprias limitações. Neste caso, inegavelmente, engrena de vez com a sensacional “Seed Of Death” (uma das minhas favoritas!).
Photo: Reprodução/Grimm Gent – https://www.grimmgent.com/ @grimmgent



Enquanto as três primeiras canções tem a função de mostrar para o fã que esta é a mesma banda de Thrash de outrora, só que ainda melhor por conta das alterações no line-up, “Seed Of Death” caminha por estradas ainda não exploradas. Imagine uma mistura entre Kreator e Arch Enemy e terá uma boa idéia do que esperar. Se esta é uma faixa que quebra alguns paradigmas, “Jailbreak”, a canção que batiza o álbum, é outra que nos apresenta novas características e nos faz viajar nas partes instrumentais (vejam só!). Quem diria que em uma música da Nervosa teríamos, enfim, um longo trecho composto por solos de guitarra de muito bom gosto? Pois é isso mesmo que temos por aqui.



AUDIÇÃO SEM PONTOS DE QUEDA

Seguindo com a audição, temos duas mais cadenciadas, “Sacrifice” e “Behind The Wall”. Se a velocidade não é a principal marca desta dupla, o peso e a brutalidade sobram e nos convidam a celebrar as maravilhas da diversidade musical dentro de um tracklist.

“Kill Or Die” chega com seu riff cortante e refrão esmagador, abrindo alas para duas participações mais do que especiais, o guitarrista do Exodus, Gary Holt, que brilha na pesadona “When The Thruth Is A Lie”, e a vocalista do Infected Rain, Lena Scissorhands, que adiciona personalidade na visceral “Superstition Failed”. E ainda há tempo para uma trinca final tão colossal quanto a trinca de abertura. “Gates To The Fall”, “Elements Of Sin”, assim como “Nail The Coffin”, fecham de maneira bombástica uma audição praticamente perfeita e sem pontos baixos.

“JAILBREAK” CONVENCE!

Destaque total para os vocais de Prika Amaral. Se comparmos, os vocais de Fernanda Lira soavam apenas como clichês e variações absolutamente comuns no gênero, mas os de Diva Satanica eram realmente bons e caíram muito bem para a musicalidade proposta pela banda. Acontece que os vocais de Prika me parecem mais acertados e melhores mesmo quando a comparação é feita com Diva Satanica. Decisão corajosa e acertada.

Outro destaque absoluto é a anteriormente mencionada segunda guitarra. Helena Kotina é possuidora de uma técnica refinada e, ao que tudo indica, sua entrada rendeu uma bela parceria com Prika. As partes instrumentais que destacam o trabalho de cordas são muitas e todas elas são realmente satisfatórias.
Reprodução

A parte rítmica, que sempre foi um fator de destaque na discografia da banda, segue demolidora. Eu diria que apesar do excepcional trabalho, Michaela Naydenova (baquetas) e Hel Pyre (baixo) não tentam chamar tanto a atenção para si e, mesmo que este fosse o caso, talvez não conseguissem por conta das performances muito acima da média e acima do esperado de Prika e Helena.

Depois de acompanhar a banda por mais de dez anos, é muito legal poder encerrar esta análise sem aquele costumeiro “mas” que vem acompanhado de crítica pontual. Em “Jailbreak”, não tem “mas” ou “porém”, o disco é ótimo e ponto final. Espero que a banda siga nesta direção e consiga cada vez mais evoluir para nos presentear com trabalhos tão bons ou (por que não?) melhores que este.
NOTA: 8,9

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