quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Blackmore’s Night: A excelência da fase atual de Ritchie Blackmore





O projeto de música medieval e renascentista, Blackmore´s Night, criado pelo guitarrista Ritchie Blackmore com sua esposa, a cantora Candice Night, já registra uma razoável longevidade, contando 20 anos de carreira, 10 álbuns, 3 ao vivo, 1 compilação e 4 DVDs. Por se tratar de algo vinculado a figura de Blackmore, a imprensa especializada em Rock/Metal acompanhou os seus primeiros passos, traçou comentários sobre os primeiros discos, até o momento em que, entendendo que não era uma mania passageira do músico, foi deixando de lado. Foi um comportamento meio previsível pois, mesmo naquele comecinho, quando se falava sobre os álbuns “Shadow of the Moon” e “Under a Violet Moon”, a maioria dos comentários nas resenhas era do tipo “é bom, mas tomara que Blackmore volte logo para a guitarra elétrica…”. Vendo isso, eu sempre me perguntava “porquê?”.

Tá, Blackmore é um gênio, influenciou músicos e bandas, além de ter assinado a criação de alguns dos mais emblemáticos discos de todos os tempos. As opiniões sobre um ou outro trabalho do Rainbow ou do Deep Purple podem mudar, de pessoa para pessoa, mas, mesmo quando, sob a visão de uma parcela do público, o guitarrista possa ter dado passos equivocados, ele sempre fez o que quis fazer. Ponto.

É exatamente isso que eu quero de Blackmore. Que ele faça a música que deseja e não aquela que eu desejo que faça, pois amarrar-se às vontades do público significaria entrar em um moto-contínuo infinito, preso constantemente ao compromisso de entregar sempre um novo “Burn”, um novo “Rising”, um novo “Perfect Strangers”, patinando sempre no mesmo local. Blackmore não precisa replicar esses clássicos e consegue nos presentear, com a exarcebação de uma característica sua, algo que nunca deixou de se fazer presente em seus trabalhos.

A vibe barroca sempre esteve lá. Não foi algo que repentinamente surgiu de um estalo. Se ele sentiu que não estava fazendo algo de relevante dentro do Rock e poderia encontrar mais satisfação artística nesse desvio de roteiro, então excelente. Ele pode retornar para o Rock quando tiver vontade, como ocorreu com os recentes shows de um reformulado Rainbow, realizados em 2015. No Blackmore´s Night, ele tem a oportunidade de criar canções originais, fazer releituras de peças clássicas, bem como reinterpretar músicas atuais, sob uma nova roupagem, como “Self Portrait”, “Street of Dreams”, “Child in Time”, “Rainbow Eyes” e “The Temple of the King”, de suas ex-bandas, ou outros números como “The Times They Are A-changin” (Bob Dylan), “Rainbow Blues” (Jethro Tull), “Diamonds and Rust” (Joan Baez), “I Got You Babe” (Sony and Cher) e “Lady in Black” (Uriah Heep).

Além de contar com convidados especiais como Ian Anderson ou Joe Lynn Turner – que surgem em aparições esporádicas – e de músicos da mais absoluta competência, é importante registrar que a co-estrela, Candice Night, é uma excelente cantora, dotada de um belo timbre e de muito carisma. São vários elementos bem combinados que somatizam o fato de que Blackmore está feliz com o momento presente e isso transparece com claridade solar quando vemos as fotos atuais ou assistimos suas apresentações em vídeo. Surge, porém, com mais força ainda quando escutamos a sensibilidade de suas execuções. Aquele modo único de soar as notas que apenas suas mãos possuem.

Então, caso não goste do que o Blackmore´s Night representa, faça como o seu idealizador, siga em frente. Afeiçoar-se a sua música foi uma reação unilateral sua e o artista não se torna escravo desse afeto, mas lhe oferece novas maneiras de vivenciar essa relação de reciprocidade.

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