terça-feira, 4 de abril de 2017

ENTREVISTA COM GUITARRISTA BRASILEIRO BILL HUDSON





Ao invés de falar ‘vou me mudar para Suécia’ o brasileiro deveria ter a mentalidade de um sueco, prestigiando o Heavy Metal do seu país”



(Bill Hudson)

Texto e entrevista por Eduardo Simões

A rotina do guitarrista brasileiro Bill Hudson não é exatamente tranquila. Radicado nos EUA, ele divide o seu tempo entre ensaios com a banda de Metal extremo I Am Morbid, a gravação do álbum solo do Jon Oliva (Savatage) e as turnês com o Trans Siberian Orchestra e o Circle II Circle. Vive de música nos EUA. E vive bem.

Nas “horas vagas” estuda guitarra, tirando as músicas do Morbid Angel, Dream Theater e Tom Jobim. Nesse bate papo exclusivo o músico falou sobre redes sociais, diferenças culturais, a cena musical brasileira e, claro, a sua carreira.

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HELLMETAL : Em primeiro lugar gostaria de agradecer pelo seu tempo.
BILL HUDSON: Eu que agradeço pela oportunidade.

HELL METAL : Eu te vi ontem no show Randy Rhoades Remembered, dividindo o palco com músicos do Ozzy, Skid Row, Dio, Nitro, Journey, Stryper. Me fale um pouco sobre o a sua trajetória.
BILL HUDSON: Excelente começo de entrevista. As coisas realmente estão acontecendo, mas venho investindo na minha carreira desde 1993. Algumas pessoas comentam que devo ter um pai rico ou algo assim. Mas tudo é fruto de muito trabalho. Me lembro de ver o vídeo de November Rain do Guns N’ Roses e quando vi o Slash solando na frente da igreja pensei: é isso que quero na minha vida.

O recibo da minha primeira aula de guitarra está guardado, e foi exatamente no dia em que o Cris Oliva faleceu, 17/10/93, o que é curioso tendo em vista que vim trabalhar com seu irmão Jon Oliva no Jon Oliva’s Pain, Trans-Siberian Orchestra e até no próprio Savatage. O meu segundo professor foi o Kiko Loureiro, que já era um monstro. Mas vim para os EUA porque no Brasil não é fácil viver como músico. Às vezes me perguntavam qual o meu trabalho além de ser músico. Nós não somos respeitados no Brasil. É uma pena, é o meu país, amo o Brasil e a sua música.

HELL METAL : Então você não apareceu naquele palco de uma hora para outra. Foram 23 anos de investimento.
BILL HUDSON: Exato! E aqui nos EUA tive acesso a equipamentos e oportunidades. É engraçado, eu adoro o Brasil, mas só conheci O Hibria aqui nos EUA, porque eles não ganham o espaço que merecem na mídia brasileira. O Aquaria é outro exemplo de uma banda brasileira com um disco que é uma obra prima, mas ninguém conhece no Brasil. Não dão espaço para o Heavy Metal brasileiro.

As pessoas falam muito do Sepultura, Angra e Krisium. Eu amo e respeito essas três bandas. Mas existem várias outras. Veja bem, quando me mudei para os EUA, consegui um patrocínio da Ibanez após um ano. Hoje sou patrocinado pela ESP. No Brasil as empresas acabam tendo menos recursos e menos dinheiro para investir nos músicos. Vocês estão de parabéns pelo trabalho que fazem, divulgando as bandas brasileiras e ajudando os nossos talentos.

HELL METAL : Me fale sobre a sua relação com a ESP.
BILL HUDSON: Eu não tenho nada contra a Ibanez, mas fiquei um período parado em função de problemas de alcoolismo. Na época em que ia renovar o contrato conheci o pessoal da ESP no Rainbow Bar and Grill aqui em Los Angeles. Conversamos longamente e eles ficaram impressionados quando eu disse que iria tocar no Wacken Open Air na Alemanha. É um dos maiores festivais do mundo. No dia seguinte passei na fábrica da ESP e já saí com duas guitarras para testar na turnê na Europa. Me apaixonei pelas guitarras da ESP.

No ano seguinte eles procuravam uma cara nova para associar com a marca e colocaram a minha foto na capa do catálogo, o que obviamente me deu uma grande visibilidade nos EUA. Eles sempre me tratam muito bem. Por exemplo, cheguei no Brasil dois dias antes do show do Randy Rhoades Remembered. Liguei do aeroporto pedindo mais uma guitarra e um violão e me mandaram imediatamente. Então vou te devolver a pergunta: por que não a ESP? As guitarras são excelentes e eles me apoiam em tudo que faço. Depois da entrevista vamos no stand da ESP aqui na NAMM para te mostrar algumas guitarras. A ESP Eclipse é uma guitarra perfeita. Bonita e muito confiável! Nunca vai te deixar na mão. Se arrebentar uma corda você termina a música tranquilamente.

HELL METAL : E você está mal acompanhado na ESP. James Hetfield, Ron Wood, George Lynch…
BILL HUDSON: (risos) E não se esqueça dos músicos brasileiros Silas Fernandes, Max Cavelera E Luis Kalil.

HELL METAL : Você toca no Trans Siberian Orchestra, que é quase um musical. Mas também toca em bandas de Hard Rock e Metal Extremo, como o I Am Morbid. Me fale um pouco sobre as suas influências, preferencias musicais e rotina de estudos.
BILL HUDSON: Eu sempre gostei de músicas com refrões fortes e boas para cantar. Eu sempre gostei de Guns N’ Roses, Skid Row e outras bandas de Hard Rock, especialmente as que tinham bons guitarristas. Mas também ouvia Helloween, Gamma Ray, Stratovarius. Cheguei a tirar os dois primeiros discos do Dream Theater, nota por nota.

Na guitarra ouvia Malmsteen, Satriani, Greg Howe Steve Vai e alguns guitarristas de Fusion, como Holdsworth E Gambale. Ouvi um pouco de Coltrane e outros saxofonistas. Mas jazz fusion realmente não era a minha praia, gostava de Rock e Metal Melódico. O Savatage mudou o meu mundo. Era uma mistura de tudo com Queen, Metallica e tantas outras coisas. Depois veio o Metal Extremo. No início eu não era um grande fã, mas acabei me tornando obcecado pelos riffs do Sepultura. Sou um grande fã da banda. Quando me mudei para a Flórida acabei conhecendo toda a comunidade do Metal Extremo e em 2012 me convidaram para fazer uma turnê com o Vital Remains. Também fiquei muito próximo do David Vincent e acabamos compondo juntos algumas coisas de thrash e death que ainda não foram lançadas.

Estou sempre trabalhando. Nas turnês com o Trans Siberian Orchestra eu não me preocupo com nada. A estrutura é gigante e me entregam a guitarra afinada antes de subir no palco. Mas também faço turnês com bandas menores e de outros estilos. Tudo é aprendizado.

HELL METAL : É importante ter um vocabulário musical rico para tocar em vários estilos. Me fale um pouco da sua rotina de estudos.
BILL HUDSON: Nunca tinha pensado nisso. Escrevi uma reportagem para a Revista Roadie Crew, a pedido do meu amigo Ricardo Batalha. E enquanto escrevia pensei que não vejo tanta diferença entre Anthrax e Skid Row. As letras podem ser diferentes, mas musicalmente o “Fistfull of Metal” não está tão longe do “Slave to the Grind”. Para mim são duas bandas de Metal e eu gosto das duas. São formas diferentes de fazer Metal, mas todos acabam usando a mesma afinação, lá menor, etc.
É arte! Ontem conversei com o Scott Hill do Skid Row, e ele me disse que o “Slave to the Grand” tem muita influência de Pantera. São bandas de Metal!

HELL METAL : Você tem um Facebook muito interessante. Tem família, humor, música e algumas menções à qualidade dos músicos brasileiros. Você acha que as redes sociais podem ser um instrumento para os mais jovens fazerem contatos e investirem em uma carreira internacional?
BILL HUDSON: Deve ser a terceira entrevista que pergunta sobre o meu Facebook hoje. Eu acho que hoje tudo está nas mídias sociais. Vou te dar a minha opinião, e você pode discordar se quiser: é um erro se colocar nas redes sociais como “uma banda brasileira” e ficar repetindo isso. O Accept não fica sempre repetindo que é da Alemanha. Nós temos essa coisa de “somos bandas de Metal contra inimigos”. Não vejo assim. Não acho que devemos nos classificar dessa forma.
É uma banda de Metal e pronto! Sem síndrome de vira lata. Pense no Eduardo Ardanuy. Sempre que mostro o aqui eles se perguntam como não o conheciam. Ele é excepcional!

As bandas da Suécia as bandas locais, como o Hammerfall, tocam para oito mil pessoas no seu país e mil aqui nos EUA. Da mesma forma as bandas americanas tocam para mais gente no seu país natal. Por que isso? Porque eles preferem prestigiar as bandas locais. Ao invés de falar “vou me mudar pra Suécia” o brasileiro deveria ter a mentalidade de um sueco, prestigiando o Heavy Metal do seu país. Enfim, eu sai do Brasil porque achava tudo caro, difícil e injusto.

HELL METAL : Interessante você falar isso. Comprei um encordoamento de guitarra ontem por U$ 10,00 (dez dólares). No Brasil pago aproximadamente o triplo (com o câmbio sai por mais de R$ 100,00). O preço das guitarras e amplificadores por aqui também é muito inferior.
BILL HUDSON: No Brasil tocamos com equipamento pior e cordas velhas, porque temos pouco dinheiro e pouco investimento. Tudo é caro.

E o pior: não somos respeitados. Passei as férias no Brasil e me disseram que alguns bares em algumas cidades demoram para pagar o músico alegando que os clientes pagaram com cartão de crédito. Isso aqui é inimaginável. Aí o músico acaba precisando arrumar um emprego para pagar as contas, e quando pinta uma turnê na Europa não pode ir porque depende daquele emprego para sobreviver. Isso é terrível. Hibria, Torture Squad e tantos outros são excelentes. Mas há talentos que estão presos no Brasil.

HELL METAL : Me fale sobre o seu disco solo. Já vi algumas amostras no Youtube.
BILL HUDSON: É um projeto ainda em andamento. Eu vejo muitos discos de guitarristas sendo lançados e alguns são chatos e repetitivos. O meu só será lançado quando eu estiver totalmente satisfeito. E infelizmente não tenho o tempo que gostaria para poder investir nele.

HELL METAL : E sobre a sua banda de Power Metal?
BILL HUDSON: Esse projeto será muito interessante. Ainda não posso adiantar todos os nomes, mas já tenho algumas músicas prontas. Fiquem atentos!
HELL METAL : Quem sabe um disco de inéditas do Savatage nesse período.
BILL HUDSON: Ninguém sabe ao certo o que se passa quando se trata de Savatage. A banda nunca acabou oficialmente e tudo são indefinições.

HELL METAL  É uma pena. O Jon Oliva é um gênio.
BILL HUDSON: O maior gênio que já conheci. Ele tem mais de 100 músicas prontas e está preparando um disco solo que deve ser um CD duplo com 40 músicas. Eu já gravei a guitarra de algumas músicas. Ele é realmente um gênio. De repente ele começa a batucar no seu piano, depois acrescenta notas e, em pouco tempo, faz uma música sensacional. Dias depois aparece a letra e fica ainda melhor. Esse trabalho solo deve sair ainda em 2017. E está com algumas das melhores músicas que ele já fez.

HELL METAL : Por último, um recado para os brasileiros.
BILL HUDSON: Prestigiem o talento brasileiro. Vamos ser como a Suécia e não mudar para lá. O Sabaton fez uma turnê em estádios na Suécia. Que banda brasileira de Metal consegui isso? E agradeço muito ao HELL METAL  e especialmente a você pela oportunidade. Nem sempre me dão muito espaço no Brasil e fico feliz em falar para oHELL METAL  É um site que sempre apoia o talento dos brasileiros e, repito, isso é importantíssimo!

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