Como é possível aprofundar-se no tema em relação a sociedade, até mesmo no metal extremo
Ao falarmos de rock existem vários assuntos que podem se ramificar a partir do tema, e em muitos casos eles vem de encontro com a sociedade, seja usando ela em seus exemplos ou criando algo que colabore com o estudo da vida em grupos. O black metal, não só como gênero musical, por exemplo, mas como estilo, a história e os pensamentos das pessoas envolvidas, pode ser usado como estudo científico ao abordarmos, em campos que possibilitem e apresentem ferramentas necessárias para análise, todo o mundo que envolve um dos gêneros musicais mais extremos e conhecidos.
Inúmeros registros já tiveram esse olhar ao tentar explicar acontecimentos como os ocorridos na Noruega dos anos 90, onde tivemos o surgimento do True Norwegian Black Metal, como os documentários Until The Light Takes Us e Satan Rir Media (Satan Rides The Media), assim como o livro Lords of Chaos. Destaquei esses três pois foram os objetos de estudo que pude utilizar para montar um artigo para a faculdade, analisando como jornalista, o surgimento do estilo e como a mídia reagiu aos acontecimentos como assassinatos e queimas de igrejas.
Aos que não são familiares com os produtos citados, os documentários abordam a música além das capas e guitarras estridentes, mostrando como a mídia criou uma cena satânica que muitas vezes não existia, e com esse destaque, muitas vezes sensacionalistas, acabou influenciando as pessoas a cometerem crimes relacionados a cena. Há também uma abordagem mais artística do tema, principalmente em Until The Light… que conta a história, a ideologia e a estética do black metal norueguês, sendo um dos únicos a realmente lançar uma luz sobre um movimento que até então foi envolto em trevas e rumores e obscurecido por representações imprecisas e superficiais. Apresentando entrevistas exclusivas com os músicos, uma riqueza de imagens raras dos primeiros dias do Inner Circle, o filme explora todos os aspectos do movimento. Ele utiliza bem os recursos para mostrar a visão das pessoas que fizeram, que vivem e respiram a arte do black metal, mostrando, em um certo momento, uma apresentação um tanto quanto bizarra do músico Kjetil “Frost” Haraldstad, que em um espaço rodeado de velas faz uma performance forte, se cortando e soltando gritos.
Em ambos os filmes, assim como no livro, Varg Vikernes tem um grande destaque, ficando clara a influência que o Conde (Count, como Varg foi chamado em um período de sua vida) teve na cena, não só norueguesa, mas na alemã, na finlandesa, na francesa e até nos Estados Unidos. É notável a grande influência dele em cima de alguns crimes que foram cometidos, alguns erroneamente ligados ao black metal, mas outros de pessoas que realmente estavam ligadas a cena, mesmo bandas que não tinham nenhum registro lançado como a “banda” Necropolis. Eles usavam a imagética black metal, os ensinamentos da cena para cometer os crimes.
Um ponto muito importante para se destacar é a imagem de Varg Vikernes. Mesmo sendo usado como fonte para inúmeros trabalhos, além dos citados nesse artigo, ele ainda é um criminoso que foi condenado pela queima de igrejas (mesmo ele afirmando até hoje sua inocência) e pelo assassinato do líder do Mayhem, Euronymous. Toda a aura de “mestre” que ele tem e as acusações contra ele são bem fundamentadas, e em diversas vezes suas falas são carregadas de preconceitos e seu extremismo político é condenável por muitos,o site The Intercept teve acesso a uma lista que determina as “organizações perigosas” que existem, lista essa que tem Varg e sua banda, o Burzum, junto com a bandas Absurd, Aryan Blood e Legion of Doom inclusos.
Cada meio de comunicação criou uma forma de abordar o tema, focando nas músicas ou nas ações ou na parte sensacionalista, então ao analisar os registros mencionados observamos e reafirmamos como cada um é capaz de criar uma realidade alternativa de acordo com o ponto de vista.
Entender os modos como as produções falaram sobre o tema, assim como a percepção das pessoas envolvidas na cena ajuda também a entender como um movimento pode causar tanto alvoroço e ser lembrado até hoje, buscando levá-lo ao grande público e aos que nunca ouviram nada sobre o True Norwegian Black Metal.
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