Charles Michael Schuldiner nasceu em 13/05/67 em Long Island/NY, e desde muito cedo teve contato com a música. Aos 9 anos de idade começou a tocar violão como forma de terapia, pois havia perdido seu irmão de forma trágica em um acidente de carro, passando para a guitarra pouco tempo depois, esta que viria a ser sua grande paixão. Tinha como influência as bandas da NWOBHM (New Wave of Britsh Heavy Metal), como Iron Maiden e Saxon. Era também muito fã de Kiss.
Em 1983, com apenas 16 anos de idade, formou o Mantas, que seria uma espécie de embrião do Death. Em janeiro de 1986, entrou como guitarrista no Slaughter (antiga banda Thrash canadense), mas permaneceu pouco tempo na banda. Logo em seguida, uniu-se a John Hand (guitarra) e Chris Reifert (bateria), formando o Death, considerado por muitos como a banda que fundou o Death Metal. Death em foto da época de “Spiritual Healing” (da esq. pra dir.): James Murphy, Chuck Schuldiner, Bill Andrews e Terry Butler
Em 1987 foi lançado o primeiro disco da banda, o ultra-mega-clássico Scream Bloody Gore. Contando com a produção de Randy Burns e uma arte gráfica brutal do remomado Ed Repka, o grupo acabava de lançar o disco que seria uma espécie de divisor de águas na música pesada. Com uma sonoridade agressiva e pesada, com influências latentes de heavy e thrash metal, a banda abordava temas como morte, doenças, zumbis, desmembramentos, e toda sorte de desgraças possíveis, tendo muita importância e influência na formação do que seria considerado o Death Metal. O primeiro full-lenght é recheado de clássicos: Zombie Ritual, Regurgitated Guts, Evil Dead, Scream Bloody Gore, entre outros. Capa do primeiro álbum da banda “Scream Bloody Gore”
O segundo álbum veio logo em seguida, no ano de 1988. Intitulado Leprosy, este é talvez o maior clássico de toda a carreira da banda. Contando com composições marcantes de Chuck, aliados a uma ótima produção sonora e gráfica, a nova formação composta por Rick Rozz (guitarra), o grande Bill Andrews (bateria), Terry Butler (baixo), além de Chuck comandando as guitarras e o vocal, gravaram grandes clássicos como Leprosy, Born Dead, Primitive Ways e Pull the Plug, e a banda já começava a investir na técnica, associada à brutalidade e rapidez dos temas. O segundo álbum, “Leprosy”
Spiritual Healing, o terceiro petardo da banda, chegaria em 1990 e mostrava um grupo em constante evolução. Contando com a produção do “pai das podreiras” Scott Burns e com uma belíssima ilustração de Ed Repka (ele de novo. Esse cara é um gênio!), mostrando um grupo de fiéis ardorosos em transe coletivo e, ao centro, um pobre coitado paraplégico em estado catatônico sendo “abençoado” pelo pastor, numa clara alusão ao líder religioso Jim Jones, aquele zé-ruela que corrompeu e incentivou centenas de fanáticos ao suicídio para obter a “salvação”. Isso já indicava uma mudança, não só na sonoridade, mas também na parte lírica da banda, focando em um aspecto mais social, político e religioso da realidade. Neste disco a banda passou novamente por mudanças na formação, contando agora com James Murphy na outra guitarra. O álbum todo é maravilhoso, mas destaco a faixa título, Low Life e Genetic Reconstruction. Este é, sem sombra de dúvidas, um dos meus discos de cabeceira. Lindo!
Chuck, além de muito talentoso, era um autêntico “workaholic”, sendo assim, não perdendo tempo, já no ano seguinte ele solta a pérola Human. Neste álbum, nosso querido Chuck quis reunir os maiores e melhores músicos que o dinheiro (e a influência) poderiam comprar. Sente a ignorância: Steve Digiorgio (baixo), Sean Reinert (bateria), Paul Masvidal (guitarra), além do nosso anfitrião aqui. Esse “dream team” do Death Metal técnico criou um álbum simplesmente impecável, tanto na parte de composição, quanto na parte técnica e gráfica. Novamente produzido por Scott Burns, desta vez em conjunto com o próprio Chuck, o disco é um verdadeiro deleite para os fãs do estilo, e tome pedradas do naipe de Flattening of Emotions, Suicide Machine e Lack of Comprehension, aliás, é até injusto enumerar destaques, pois o álbum todo merece atenção. Você precisa ter esse disco! O quarto trabalho de estúdio, “Human”
Individual Thought Patterns viu a luz em 1993 e, estilisticamente, o álbum continuava a expandir os horizontes da banda, contando até com influências de jazz. Mais uma vez com mudanças na formação, contando agora com Andy LaRocque na guitarra, Gene Hoglan (o maior baterista do mundo), além de Chuck e Steve DiGiorgio, o disco já fugia consideravelmente da proposta podreira do início de carreira. Solos inspiradíssimos divididos entre Andy e Chuck, aliados a fraseados de baixo impecáveis e arrematados por uma bateria extremamente técnica e precisa, o trabalho mostra momentos de pura inspiração e talento, como em Trapped in a Corner, Mentally Blind , a faixa título e The Philosopher, está que rendeu um vídeo clipe de grande veiculação na MTV na época, sendo considerada uma das músicas mais conhecidas da banda. Individual Througt Patterns
Após shows e turnês de divulgação, o inquieto Chuck não podia nem pensar em parar. Assim sendo, entra em estúdio para a gravação de Symbolic, sexto trabalho da banda. Como seu antecessor, o álbum é extremamente técnico e musicalmente evoluído para os padrões das bandas do estilo, deixando pra trás definitivamente o direcionamento gore e brutal de início de carreira. Novamente com mudanças na formação – aliás, o Death devia fazer parte de alguma categoria no “Guinnes Book”, talvez como a banda que mais teve mudanças na formação em toda a história do Metal -, pois para cada trabalho houve uma formação distinta. Chuck devia ser muito casca grossa mesmo! Dessa vez, Kelly Conlon assume o baixo e Bobby Koelble vai para a outra guitarra. Gene mantém o posto. O álbum é acentuadamente mais progressivo que o anterior, contando com belíssimos momentos como Symbolic, Zero Tolerance, Crystal Mountain, entre outros. O disco foi classificado por sites especializados como o sétimo melhor álbum de Metal extremo da história e está entre os cinquenta e oito melhores discos de Heavy Metal de todos os tempos. Nada mal pra quem começou uma banda aos 16 anos e sem muita perspectiva. Definitivamente, Chuck era um gênio.
Porém, em uma busca incessante pela técnica e evolução musical, eis que surge em 1998 The Sound of Perseverance, sétimo e último álbum de estúdio da banda. Contando com músicas mais longas, intrincadas e elaboradas, o direcionamento é mais Heavy e Thrash metal que seus antecessores. Contando com uma formação totalmente nova, dessa vez com Scott Clendenin (baixo), Shannon Hamm (guitarra) e Richard Christy (bateria), o álbum possui momentos da mais alta inspiração como Scavenger of Human Sorrow, Spirit Crusher, Flesh and the Power it Holds (com seus quase 10 minutos de duração), e a versão arrasadora para o grande clássico do Judas Priest, Painkiller, onde Chuck presta tributo a uma de suas maiores influências. Belo encerramento do trabalho. O ápice do talento em “The Sound of Perseverance”
Enquanto estava em turnê do álbum, em maio de 1999, o destino deu um golpe certeiro em Chuck. Durante uma apresentação, começou a sentir fortes dores no pescoço. A princípio não se preocupou muito, pois pensou se tratar de apenas um mal jeito, um torcicolo, ou algo do tipo. Como as dores foram ficando mais intensas, resolveu procurar o médico. Baseado na sintomatologia clínica, o médico sugeriu alguns exames, entre eles uma tomografia, sendo que esta lhe revelou uma dura e triste realidade. Segundo o laudo, Chuck estava com um tumor na base do cérebro. A notícia abalou a todos, incluindo familiares e fãs ao redor do mundo; porém, Chuck nunca se entregou. Dando início imediatamente ao tratamento, foi submetido a sessões de radio e quimioterapia, com a finalidade de diminuir o crescimento do tumor. Em outubro daquele mesmo ano, a família de Chuck anunciou que ele havia respondido bem ao tratamento inicial e que o tumor estava sob controle e seria retirado. Em janeiro de 2000 ele foi submetido à uma cirurgia de alto risco e o tumor foi retirado com êxito. No entanto, os custos da cirurgia e do tratamento eram elevados. Como sua família passava por uma situação financeira delicada, com a ajuda de fãs e pessoas ligadas à família, foram feitos vários concertos e campanhas visando a arrecadação do dinheiro necessário para cobrir as despesas médicas de Chuck.
Após a cirurgia e com uma vontade enorme de voltar à ativa, Chuck voltou a trabalhar com o Control Denied, sua banda de Heavy Metal tradicional, formada em um período em que o Death estava em recesso, por volta de 1996. Com esta banda, Chuck lançou o álbum The Fragile Art of Existence ( o título do disco, ironicamente, é uma clara referência à situação em que Chuck se encontraria pouco tempo depois, demonstrando a fragilidade do ser humano). Ele chegou até a fazer alguns shows com a banda, que era composta em sua última formação por Chuck (guitarra e vocal), Shannon Hamm (guitarra), Richard Christy (bateria), Tim Aymar (vocal) e Steve DiGiorgio (baixo). Após o tratamento e a delicada cirurgia, Chuck começou a escrever material para o segundo álbum da banda, intitulado When Man and Machine Collide. Porém, o que todos temiam aconteceu: em 2001 a doença retornou. Após uma árdua batalha, Chuck não resistiu e veio a falecer em 13 de dezembro de 2001, com apenas 34 anos de idade. Esta foi, sem sombra de dúvidas, uma das notícias que mais abalou os fãs de música extrema em todos os tempos.
Após a morte do músico, em 2001 ainda, a Nuclear Blast lança dois álbuns ao vivo do Death: o Live in LA (Death and Raw) e Live in Eindhoven. Em 2012 seria lançado ainda outro material da banda, o Vivus, lançado pela gravadora Relapse, que nada mais é que os dois álbuns ao vivo em uma edição dupla.
Pois bem, caros leitores do Música e Cinema, está é uma pequena retrospectiva da vida e obra de um dos maiores, senão o maior, gênio da música extrema de todos os tempos. Um músico de raro talento e muito à frente de seu tempo, sendo responsável pela formação de todo um estilo e servindo de alicerce e influência para milhares de bandas. Chuck, seu legado jamais será esquecido, tamanha a importância de seu trabalho para a formação de toda uma cena. Viverá sempre no coração de todos nós, fãs e seguidores do mundo todo. Descanse em paz, mestre!
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