De volta a São Paulo, Tarja Turunen celebrou os muitos sucessos da carreira solo em um show de carisma e intimidade com o público no último sábado, 23. A apresentação de quase duas horas teve convidados especiais e poucos acenos às músicas do Nightwish.
O retorno ao Brasil aconteceu pouco mais de um ano depois da última turnê pelo país, realizada em 2022, quando passou pelo Tokio Marine Hall, na capital paulista. E, antes mesmo de terminar os três shows de celebração de hits da carreira pelo país, ela já está com as passagens compradas para o retorno: depois da apresentação sold-out em Porto Alegre na última sexta-feira, 22, Tarja confirmou o retorno para março 2024, desta vez ao lado de Marko Hietala, colega dos tempos de Nightwish.
Mas enquanto essa reunião nostálgica não acontece, a apresentação de Tarja em São Paulo, segunda da Living The Dream Tour no Brasil, tem o foco bem estabelecido na prolífica carreira solo da artista, amplamente apoiada pelos fãs fiéis que já gritavam “Tarja, Tarja!” mesmo antes da hora, interrompidos pelos animados avisos e comerciais exibidos nos minutos antes do show.
Às 22h40, a banda entrou em cena diante de aplausos calorosos, mas nada se compara ao amor que o público reserva apenas para a estrela da noite. Vestida com a primeira das três roupas da noite, um belo vestido preto, Tarja aparece em cena com a energia que preservaria até o último instante no palco, sorridente e ansiosa para interagir com o público, que já começou a noite cantando “Eye of The Storm” com empolgação.
Ao longo de toda a apresentação, os fãs responderam muito bem aos pedidos de Tarja por palmas, gritos ou braços erguidos, mas talvez a mistura do calor na cidade e a casa de shows lotada explique os diversos momentos nos quais o público optou apenas por assistir, deixando os rompantes de animação para responder às interações da artista ou as músicas favoritas, como no caso de “Diva” um pouco mais adiante. A despeito da conotação ruim muitas vezes atribuída ao termo, foi essa a palavra escolhida para mais um coro do público, finalizando a faixa com gritos de “Tarja, eu te amo!”.
O belíssimo segmento acústico da performance aconteceu depois de “Naiad”. Sozinha no palco, acompanhada apenas da voz enorme e o piano, Tarja hipnotizou o público como uma sereia quando agradeceu os fãs por “ainda estarem aqui” desde a primeira vinda dela ao país e tocou duas músicas nesse formato: “Oasis” e “You and I”, com o retorno da banda para “Shadow Play”.
O segundo ato do show, por assim dizer, foi o mais animado de todos e contou com a primeira participação da noite com a presença do cantor de ópera Thiago Arancam, tenor conhecido por protagonizar O Fantasma da Ópera na passagem do musical pelo Brasil em 2018. A participação em “The Phantom of The Opera” trouxe um pedaço da peça ao palco, com o músico encarnando o próprio protagonista da peça e livro, de máscara e capa, exigindo que o anjo da música cantasse cada vez mais, ao que Tarja obedeceu como dita o roteiro.
Apesar de eternizada na voz da cantora nos tempos de Nightwish, a música é, no final das contas, um dos covers da banda e não um material original do grupo. Essa já é uma característica das turnês da cantora, mas fazer uma celebração dos sucessos da carreira levantou esperanças de clássicos como “Nemo” no setlist, algo que não aconteceu – e nem fez falta, algo que a sequência poderosa com “I Walk Alone” e “Victim of Ritual” provou bem.
Depois desse momento de êxtase, Tarja saiu de cena para a última troca de roupa e ressurgiu em um belo vestido prateado em “Innocence”, coordenando o público mais uma vez para manter um entusiasmo tão incansável quanto o dela. Apesar da imagem de classe e imponência, a musa do metal sinfônico se derreteu em sorrisos, fez caras e bocas, pulou, bateu cabeça e dançou o tempo todo, longe da imagem de primadonna intocável que muitos tentam atribuir às mulheres na música – inclusive Tarja.
Passada da meia-noite e se encaminhando para duas horas de duração, o show entrou na reta final com mais uma ótima sequência: “Dead Promises” e “Until My Last Breath”, muito cantadas pela plateia. Para encerrar a noite e sem muitas formalidades na apresentação do convidado que já é de casa, Rafael Bittencourt subiu ao palco para tocar a muito celebrada “Over the Hills and Far Away” com a cantora, repetindo uma parceria de longa data nos palcos: o guitarrista do Angra já colaborou com Tarja em faixas e shows, além da participação da finlandesa no DVD Angels Cry: 20th Anniversary Tour, cantando “Stand Away” e “Wuthering Heights” com a banda brasileira.
Completando mais de 35 shows no país apenas em carreira solo, a apresentação de Tarja em São Paulo neste ano explica bem o motivo por tanto sucesso por aqui. Além de uma voz e uma história que marcou para sempre o metal sinfônico, a artista fez um nome para si com o mérito completamente próprio, seja no carisma ou na construção de uma carreira solo forte e amada pela base de fãs conquistada ainda na juventude.
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