domingo, 10 de dezembro de 2017

Resenha: Judas Priest – Screaming For Vengeance (1982)





Já escrevi diversas vezes sobre várias bandas pelas quais tenho admiração. Semprei tenter expor um pouco do que cada uma me transmite com sua música e procuro fazer isso sem me deixar levar demais pela emoção, mas costumo falhar miseravelmente nesse intento quando escrevo sobre Judas Priest. Todo o Heavy Metal deve ao quinteto de Birmingham. Todo! Provavelmente o estilo ainda existiria sem eles, mas seria bem diverso do que conhecemos hoje. Algo amálgamado entre o Black Sabbath e o Motorhead, talvez, mas o visual, a postura, a musicalidade, não poderiam ser as mesmas. Trata-se de um caso de abrangência tão universalizada que basta traçar um rol de bandas absolutamente distintas entre si, como Iron Maiden, Slayer, Trouble, Ratt, Dimmu Borgir, Pantera, Exciter, Symphony X e mais tantas outras, para perceber como a influência do Priest está pulverizada pelo universo pesado.

Da mesma forma, eu também tenho dívidas com a banda. Quão grande não foi o impacto que tiveram no meu modo de vida: Os amigos que tenho, os livros que leio, as roupas que visto, a minha rotina do dia-a-dia, tudo seria completamente diferente se o Judas Priest nunca tivesse existido ou se eu nunca tivesse tido acesso à sua música. Não foi algo absorvido aos poucos ou que eu tenha aprendido a gostar com a passagem do tempo. Não… Foi instantâneo, foi imediato, foi paixão ao primeiro acorde. É claro que todos os discos que escutei quando estava descobrindo o estilo me marcaram, mas o Judas selou definitivamente a coisa toda, tal qual um contrato vitalício. A partir de agora, não há mais como voltar!

Em “Screaming for Vengeance”, seu oitavo disco de carreira, tudo exala Metal antes mesmo do álbum ser posto para rodar. O logo cheio de pontas, o título ameaçador e a capa com a águia estilizada mergulhando para o ataque. Logo ao começo do clássico-mor “The Hellion/Electric Eye”, um novo cápitulo, um recomeço, da história do estilo inicia o seu desenrolar e, é preciso dizer: ninguém, absolutamente ninguém nesse mundo poderia entoar o verso “Eu sou feito de metal” sem soar ridículo! Cantada por Rob Halford, porém, a frase torna-se épica e imponente! Nos seus segundos finais, enquanto o fôlego e os acordes vão se esvanecendo, Dave Holland dá início a “Riding on the Wind”, tão rápida quanto eram os padrões de velocidade da época. Halford rasga a garganta como somente ele era capaz de fazer e as guitarras soltam uivos no solo. Depois de uma sequência tão intensa, “Bloodstone” ainda mantém o peso em evidência com um refrão de força coletiva e a evidência do quão variado o disco é.

Esse álbum foi um grande e merecido sucesso, inclusive nos Estados Unidos, território que várias bandas queriam conquistar. Provavelmente, foi para impulsionar essa meta que “Take These Chains” foi inserida no mesmo. A música não é de autoria da banda e, juntamente com “Fever”, responde pelo lado mais acessível do disco, com alguma americanização bem dosada, evitando qualquer desequilíbrio ou perda de qualidade. Quando entra a faixa título, o Heavy Metal frenético volta a soar e a mais emblemática dupla de guitarristas da história do Metal se destaca, fazendo, no solo, aquilo que os Helloweens e Gamma Rays da vida transformariam em carreira.

Tem quem ache “You´ve Got Another Thing Coming” uma música maçante, mas eu a considero genial. Um clássico que insiro tranquilamente entre minhas cinco canções favoritas da banda. A mesma tem um refrão sensacional, emocionante e pesado, e que, arrisco dizer, reflete muito do que o Accept viria ainda a fazer ao longo de sua carreira. A marcação segura do carismático baixista Ian Hill define o apelo da canção, imortalizando o seu andamento irresistível e inconfundível.

No final, a última faixa fecha o álbum de forma absolutamente clássica. “Devil´s Child” é o Judas Priest dos anos setenta com a produção dos oitenta. É uma música que não soaria deslocada caso estivesse em um disco como “Stained Class”, por exemplo. Por mais variadas que tenham sido as fases pelas quais a banda passou, a assinatura que permeia todas as suas composições é sempre a mesma. Com uma ou outra diferença de produção, qualquer música, de qualquer disco, não se distancia da obra, vista de modo geral. Isso é personalidade, isso é talento, isso é o que me faz ser fã e ter, na expectativa de cada novo trabalho, a ansiedade mesclada com a memória afetiva da primeira vez que eu ouvi falar que existia uma banda chamada Judas Priest. Ouvir essas músicas, esse padrão de composição, é ter contato com algo que está sintonizado com minhas sinapses e, a cada nova audição, me faz retornar no tempo e reviver o percurso que me traz até aqui. Esse é o meu sacerdócio.

Formação:
Rob Halford – vocal
KK Downing – guitarra
Glenn Tipton – guitarra
Ian Hill – baixo
Dave Holland – bateria

Faixas:
01. The Hellion
02. Electric Eye
03. Riding on the Wind
04. Bloodstone
05. (Take These) Chains
06. Pain and Pleasure
07. Screaming for Vengeance
08. You’ve Got Another Thing Comin
09. Fever
10. Devil’s Child

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