Para estrear a coluna Clássicos e Achados na Consultoria do Rock, escolhi um disco que tem história para vários posts. Para começar, após o lançamento de Universal Migrator Part 2: Flight of the Migrator, do projeto Ayreon, que teve a participação de Bruce Dickinson (Iron Maiden), Arjen Lucassen, que é o mentor desses projetos, espalhou a notícia de que gravaria o próximo álbum solo de Bruce Dickinson e que este seria um disco voltado ao Heavy Metal, diferente do prog metal usualmente praticado pelo Ayreon. Paralelamente, Bruce Dickinson falava aos quatro cantos que o próximo disco solo se chamaria “Catacombs” e não dava mais detalhes disso. Eis que surge Rod Smallwood (empresário do Iron Maiden) estragando a alegria de todos, agendando diversos compromissos do Maiden e educadamente sugere que o guitarrista não divulgue nada antes do tempo.
Arjen e Bruce Dickinson
Mas onde foram as músicas compostas por Arjen? Não há nada oficial sobre isso, mas tenho uma teoria própria de que esse disco contém as músicas que seriam usadas no provável disco solo do vocalista. Claro que Space Metal com somente um vocalista soaria diferente, e eu imagino que diversas alterações foram feitas na obra final, mas não há nada que vá contra minha teoria até esse momento. Viagem minha, vai saber?
Sobre o disco, os vocalistas convidados foram:
Russel Allen (Symphony X)
Damian Wilson (ex-Threshold)
Floor Jansen (After Forever)
Dan Swanö (Nightingale, Bloodbath, Edge of Sanity)
Dave Brock (Hawkwind)
Robert Soeterboek (Cotton Soeterboek Band)
E os instrumentistas:
Arjen Lucasssen – guitarra, baixo, teclados, sintetizadores
Jens Johansson – teclado (Stratovarius, ex-Yngwie Malmsteen, ex-Dio)
Gary Wehrkamp – guitarra (Shadow Gallery)
Ed Warby – bateria (Gorefest)
Cast do projeto
O disco é bem voltado ao heavy metal, inspirado em Deep Purple, Rainbow e com vários toques de progressivo. Quem rouba a cena no disco todo são Russell Allen e Damian Wilson. O que esses vocalistas fazem no álbum é digno de nota. Sou honesto ao dizer que, depois da audição de Space Metal procurei outras performances dos dois em discos de suas respectivas bandas e não achei nada próximo, com poucas e raríssimas exceções. Escutem “Set Your Controls”, “The Eye of Ra” e principalmente “Intergalatic Space Crusaders” e “Starchild”, canções de arrepiar.
Após o lançamento do disco, Arjen assumiu um risco e resolveu levar tudo para uma turnê, que segundo o próprio era prejuízo na certa. Para tour os convocados foram:
Russel Allen – vocais
Damian Wilson – vocais
Floor Jansen – vocais
Irene Jansen – vocais (irmã de Floor)
Robert Soeterboek – vocais
Arjen Lucassen – guitarra
Joost Van den Broek – teclados (After Forever)
Peter Vink – baixo (ex-Q65, ex-Finch)
Ed Warby – bateria
O resumo da turnê foi que todos os custos foram pagos apenas com a venda de camisetas, e todo o resto foi lucro. Sucesso total! A tour foi registrada em DVD e os detalhes dessas gravações podem passar despercebidos, mas ofereço uma espécie de guia para que possam curtir.
O primeiro e principal ponto é que tudo foi gravado apenas com quatro câmeras, de forma até amadora, para ser bem sincero. Além disso, a gravação foi feita informalmente, mais como um registro, sem muita preparação ou algo especial para a ocasião.
Arjen Anthony Lucassen
O que temos no DVD é o show e alguns bônus guardados. Não sou muito adepto dos documentários, mas neste caso ele é parte fundamental para entender o que se passa no palco. Para começar, no bônus, os integrantes vão chegando e se conhecendo. Logo no início, Damian Wilson vem muito educadamente cumprimentando a todos e, quando é apresentado a Russell, ele diz “que voz incrível que você tem, Russell”, e os dois começam a conversar como grandes amigos. É um momento que, vendo no show, mostra uma interação impressionante.
Mais à frente, no documentário, é mostrada parte dos ensaios, onde a banda toca em uma sala separada e os vocalistas cantam sozinhos em outra. Nesse momento é possível escutar pelo menos um trecho de cada um, sem o instrumental, e digo que é um momento muito inspirador. Em outra cena todos aparecem brincando descontraidamente e cantando “Shooting Star”, do Bad Company, e novamente fica evidente o clima amigável e de excelentes músicos que formam esse time.
No show, toda esse clima se traduz num show bem produzido, com um guarda-roupa especial e muitos detalhes. Russell e Damian cantam tudo, Floor e sua irmã dão show nos backings e a banda segura a onda com precisão.
Sugiro assistirem a música “The Eye of Ra” para começar e deixem rolar até o final, onde todos os vocalistas cantam juntos, em coro, o refrão final sem a banda. Arrepiante! Reparem também no fundo do palco, no lado esquerdo, que o tecladista Joost van den Broek começa a chorar, pois aquela é o último show da turnê (a primeira dele) e o baixista Peter Vink (que tem idade para ser avô do tecladista) vai em sua direção. Eles se abraçam e choram juntos. Imaginem, um garoto em sua primeira turnê e um senhor músico, já experiente, chorando no palco. É algo que só a música e em especial essa turnê podem apresentar de forma natural, sem parecer forçado ou brega.
No final do show, uma surpresa, eles tocam um cover do Deep Purple, a música “Space Truckin’“, e todos se divertem muito no palco, quando Damian Wilson pula na galera e fica rodando por todo o local em cima do publico. Ver isso nas filmagens é uma das coisas mais engraçadas que assisti na vida. Em um determinado momento ele reaparece no palco e faz gestos para Russell pular também, o qual responde com um gesto indicando que ele pesa um pouco mais que o seu amigo, logo Damian se atira no público sozinho novamente. Simplesmente hilário. O show acaba e todos são apresentados, inclusive Damian Wilson, que ficou por último, pois ainda estava no público e voltou ao palco nos ombros de alguém.
Capa do DVD
Após as apresentações, todos estão se retirando do palco, quando o tecladista dirige-se ao seu instrumento e começa a tocar uma canção tosca, e todos os músicos começa a vibrar. Essa era uma música que tocava dentro do ônibus da turnê todas as vezes que as portas estavam abertas. No último show, imagino que todos já deviam estar com o “saco na lua” de tanto ouvi-la, e naturalmente ela era motivo de piada nas viagens. Quando ele toca, a reação de todos é cair na risada, mas Floor começa a cantar junto e em seguida todos vão cantando e fazendo uma zona geral no palco. A banda começa a acompanhar e a diversão é geral. Até a equipe de apoio entra literalmente na dança! Notem nesse momento a sutil aproximação de Russell e Floor… não sei não, mas acho que teve algo nessa tour que só o Russell aproveitou.
Resumindo, é um CD e um DVD para se ouvir com muita atenção, com músicos muito acima da média e um registro histórico de uma turnê. Altamente recomendável, não canso de ouvir e assitir.
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