domingo, 10 de setembro de 2023

Yes e Jethro Tull: Os Dinossauros Estão De Volta?





Yes e Jethro Tull: Os Dinossauros Estão De Volta?





Por  Melina born
Este artigo especial focaliza em duas das maiores bandas do rock dos anos 70, que passaram pela sua dose de problemas no século XXI e ressurgiram recentemente: Jethro Tull e Yes. A primeira banda passou mais de vinte anos sem lançar nenhum álbum original, a segunda perdeu o último membro fundador da sua formação em 2015, com a morte de Chris Squire. Ambas lançaram dois álbuns de inéditas com pouco tempo entre eles, fazendo a gente pensar que as bandas estão efetivamente de volta (e não somente fazendo shows), e, como quando a esmola é muita o santo desconfia, vai-se aqui analisar essa produção recente.



JETHRO TULL: Existe vida sem Martin Barre?
O caso do Jethro Tull é curioso. A banda pertence a Ian Anderson, ninguém jamais questionou, mas entre 1969 e 2011 contou com o excelente guitarrista Martin Barre. Anderson, de acordo com Barre, quis encerrar o Jethro Tull, e lançou os seus álbuns seguintes com seu próprio nome: Thick as a Brick 2 e Homo Erraticus. Mas em 2017 o flautista anunciou uma turnê de 50º aniversário para o Jethro Tull, e como integrantes da banda, os membros de sua banda solo: Florian Opahle na guitarra, John O’Hara nos teclados, David Goodier no baixo e Scott Hammond na bateria. Também anunciou um novo álbum de material inédito. A turnê veio e terminou, e o novo disco não saiu.

Em 28 de janeiro de 2022, The Zealot Gene saiu com Anderson sozinho na capa e o nome Jethro Tull. Gravado ao longo de um período de quatro anos, o álbum registra uma banda que já não existia quando do lançamento, pois Florian Opahle tinha anunciado que iria sair para se dedicar à produção e ao trabalho em estúdio em 2020. Seu substituto, Joe Parrish-James, participa em uma música, “In Brief Visitation”, e outras quatro músicas do disco, que Ian Anderson decidiu lançar como estavam por causa da dificuldade de reunir os músicos por causa da pandemia, são gravações solo do vocalista.

Detalhes para lá, o que se tem em The Zealot Gene é um bom disco do Jethro Tull, aberto pela excelente “Mrs. Tibbets”, dedicada à sra. Enola Gay, mãe do coronel Paul Tibbets, que comandou o bombardeiro – batizado “Enola Gay – que lançou a primeira bomba atômica em Hiroshima. Arrisco dizer que é a melhor música da banda desde os anos 80, com um ritmo contagiante, uma bela melodia, bom arranjo e uma letra excelente, mas infelizmente nenhuma das posteriores é tão marcante; há boas músicas no disco, algumas mais rock, como “Shoshana Sleeping” e a faixa-título, outras mais elaboradas, como “Mine is the Mountain”, e várias com influência mais folk, como “Sad City Sisters” (com belo trabalho de O’Hara no acordeão), mas nenhuma se compara à abertura. Mas a guitarra de Opahle não é tão forte quanto a do velho Martin Barre, e em “Barren Beth, Wild Desert John” e “The Betrayal of Joshua Kynde”, este fez muita falta. “Three Loves, Three” faz menção ao livro “Os Quatro Amores”, de C. S. Lewis, e é provavelmente a melhor das músicas solo de Ian Anderson no disco, com uma bela melodia e um arranjo mais elaborado. “Fisherman of Ephesus” traz algumas memórias do Jethro Tull dos anos 70, mas, mais uma vez, Barre faz muita falta.



Um aspecto interessante é o número de referências religiosas na maioria das músicas. No belo livreto da edição Deluxe, Anderson chega a incluir uma lista de versículos da Bíblia que o inspiraram para compor as músicas; além disso, há várias fotos de igrejas e objetos religiosos. Essa edição é acompanhada por um segundo CD com as demos para as doze músicas do álbum final, mais “She Smells Sweet”, que não chegou a ser completada. Um DVD ou Blu-Ray completa a edição, trazendo a mixagem em Surround de The Zealot Gene, mas não as demos. Uma experiência que pessoalmente fiz e achei interessante: ouvi “Aqualung” e este disco com as letras nas mãos, e é interessante ver a mudança de posição de Ian Anderson sobre a religião, pois, se em “Aqualung” o ódio à religião é nítido, aqui se está diante de uma declaração de respeito. O livreto traz, inclusive, os acordes de cada música.

Em novembro de 2022, anunciou-se que um novo álbum do Jethro Tull, RökFlöte, seria lançado em breve (e de fato o disco saiu em abril deste ano). Baseado na mitologia nórdica, e inspirada pelo fato de que Anderson mapeou seu DNA para descobrir que tinha ancestrais vikings, RökFlöte traz a formação atual do grupo (Anderson, O’Hara, Goodier, Hammond e Parrish- James) e conseguiu uma boa colocação na parada britânica, atingindo o 4º lugar (The Zealot Gene foi 9º na Inglaterra). A atriz e cantora islandesa Unnur Birna participa do disco em duas faixas, declamando textos sobre a base musical da banda, incluindo a abertura, “Voluspo”, e o encerramento com “Ithavoll”. Pode-se destacar diversas músicas no álbum. “Ginungagap” traz generosas e bem-vindas doses de peso à música do Tull, ressuscitando a dinâmica de guitarras distorcidas e bateria pesada com a suavidade da flauta. O clima épico de “Hammer on Hammer” cativa, mas a música se beneficiaria de um acompanhamento mais forte – os músicos atuais são bons, mas fico imaginando essa música com Barre, Clive Bunker e Dave Pegg, por exemplo. “Wolf Unchained”, bem trabalhada e variada, é outra que chama a atenção, destacando o bom trabalho de guitarras. O acordeão de John O’Hara dá as caras em “Trickster (And the Mistletoe)”, que em alguns momentos me lembrou do clássico “The Whistler”. A bela “Cornucopia” é provavelmente a minha favorita, com sua melodia que remete aos grandes momentos do Jethro Tull no passado. “Ithavoll” fecha o ciclo trazendo de volta Unnar Birna e sua voz expressiva.



Particularmente, acho RökFlöte um álbum menos interessante do que The Zealot Gene, mas não é, de modo algum, um disco ruim. Pelo contrário, o fato de ser um álbum conceitual, em que as letras foram escritas seguindo um mesmo padrão, cada uma com três estrofes narrando a lenda ou mito que a inspirou e mais duas trazendo essa história para os tempos atuais, indica que Anderson não se aquietou e ainda tem lenha para queimar. Independentemente disso, é um esforço mais coletivo do que o disco anterior, e Joe Parrish-James se mostra um guitarrista bem mais presente do que seu antecessor Florian Opahle. A edição Deluxe traz as demos das músicas no CD 2, e o Blu-Ray, a mixagem em Surround, bem como uma versão alternativa para “Voluspo” e uma entrevista com Ian Anderson. No todo, os dois discos recentes do Jethro Tull mostram que a banda ainda consegue brindar seus fãs com boa música. Está à altura do passado? Não, ninguém deve esperar esses álbuns no Top 10 da banda, mas, convenhamos, nenhuma banda com 50 anos de carreira lançará seu melhor disco nesses tempos que vivemos…

YES OR NO? STEVE HOWE SE RECUSA A DEIXAR A BANDA MORRER



Em 2001, o Yes lançou Magnification, último álbum com Jon Anderson. Quando este, por problemas de saúde, não pôde participar de uma turnê da banda, Chris Squire, Steve Howe e Alan White simplesmente decidiram seguir em frente, contratando Benoit David para o vocal e Oliver Wakeman para os teclados. No álbum que lançaram em 2011, a banda retrabalhou um épico dos tempos de Drama que ficara inédito, Fly from Here, o que trouxe Geoff Downes de volta para o grupo, e resultou em um bom disco. Três anos depois, saiu o questionável Heaven & Earth, com Jon Davidson nos vocais acompanhando Squire, Howe, White e Downes. Essa formação também rendeu dois álbuns ao vivo, ambos intitulados Like it is, que revisitam álbuns clássicos do grupo.

Com a morte de Chris Squire no ano seguinte, parecia o fim da banda. Steve Howe, entretanto, tinha outros planos. De acordo com ele, Squire queria que o grupo continuasse, e sugeriu seu velho amigo e parceiro de composições Billy Sherwood (que participara do Yes nos anos 90, gravando Open Your Eyes e The Ladder) para o baixo. E, verdade seja dita, Sherwood não apenas desenvolveu um estilo que emula bem o mestre, como ainda por cima canta de maneira muito semelhante a Squire. O Yes continuou se apresentando ao vivo, lançando três álbuns ao (Topographic Drama, 50 Live e The Royal Affair Tour, provando que o grupo executava bem as composições antigas e honrava o passado) e em outubro de 2021 saiu The Quest, com uma formação composta por Howe, White, Downes, Davidson, Sherwood e Jay Schellen, que acompanhava a banda ao vivo devido aos problemas de saúde do veterano Alan White. Esse primeiro fruto do Yes liderado por Steve Howe (que o produziu) é muito superior ao disco anterior (o que não era difícil, convenhamos), e começa com a boa “The Ice Bridge”, parceria entre Jon Davidson e Geoff Downes, com créditos também para Francis Monkman, do Curved Air – Downes aproveitou uma velha demo que tinha tanto ideias suas quanto uma gravação de Monkman.

O sintetizador da abertura remete um pouco a “Touch and Go”, do Emerson, Lake & Powell, mas não se trata de plágio e nem compromete a música, que é favorecida pelas belas guitarras de Howe. A música seguinte, “Dare to Know”, é um AOR relaxado e tranquilo, que traz acompanhamento da orquestra do FAME Studios, localizado na Macedônia do Norte, e destaca o dueto entre Howe e Davidson. A música é boa mas fica muito aquém do que se espera do Yes – até porque eles já fizeram coisa muito superior nessa área. “Minus the Man”, que vem a seguir, não melhora muito e mantém o álbum numa vibe suave, desta vez com Billy Sherwood acompanhando Jon no vocal. “Leave Well Alone” é aberta por Howe, e seguida por um riff razoavelmente pesado para os padrões do Yes; com mais de 8 minutos de duração, a música é bem variada e faz a gente lembrar das glórias do passado. O que lhe falta é uma presença mais incisiva dos teclados (aliás, o desempenho de Downes está abaixo de sua capacidade), mas no todo é uma das melhores do álbum.



“The Western Edge” é outro destaque, com belo trabalho de vocais e as guitarras etéreas de Howe se destacando sobre a base orquestrada – mas mais uma vez sente-se falta de teclados mais proeminentes (o sintetizador de Downes ficou muito baixo na mixagem). Já a baladinha de Jon Davidson, “Future Memories”, é prejudicada pelo excesso de açúcar no arranjo, ainda que apresente mais um bom desempenho de Steve Howe. Felizmente, o álbum volta a ganhar força com “Music to my Ears” – outra balada, mas bem mais interessante, com Downes no piano e um dueto bonito entre Davidson e Howe; durante o refrão, a música tem um andamento semelhante às do Yes dos anos 80, com Trevor Rabin, mas o arranjo remete à década anterior. “A Living Island” encerra o disco normal, mas não se destaca, com melodia pouco atraente e sem grande variação no arranjo. O álbum foi lançado com um CD bônus de três músicas, a razoável “Sister Sleeping Soul”, a fraca “Mystery Tour”, cuja letra alude aos Beatles (e é a única coisa interessante da música) e “Damaged World”, que é a melhor das três, e poderia ter substituído “Future Memories” no disco principal.



Infelizmente, em maio de 2022 Alan White veio a falecer. Mais uma vez, Steve Howe se recusou a pôr fim no Yes, e a banda efetivou Jay Schellen na bateria. E outra vez com produção do guitarrista, saiu em maio de 2023 Mirror to the Sky. O 23º álbum de estúdio creditado ao Yes mostrou-se mais ambicioso do que os anteriores, com músicas mais longas (a faixa-título dura quase 14 minutos), e mais uma vez tem-se a participação da FAME Studios Orchestra. O álbum começa com a boa “Cut from the Stars”, parceria entre Jon Davidson e Billy Sherwood; a bela linha de baixo deste é digna de quem ocupa o posto de Chris Squire. Os nove minutos de “All Connected” são introduzidos pela steel guitar de Howe (um dos craques desse instrumento no rock), e a música tem suficiente variação para sustentar essa duração, com os vocais de Sherwood soando muito parecidos com os de Chris Squire. É um dos destaques não apenas do álbum, mas de toda a discografia do Yes sem Jon Anderson.

“Luminosity”, na sequência, tem uma introdução um tanto pomposa, diferente do resto da música, mas o que vem a seguir não decepciona e novamente tem-se uma composição de mais de nove minutos que consegue prender a atenção do ouvinte. Aqui há um pouco mais de presença dos teclados de Downes, que na maior parte do disco está muito discreto – e ele faz falta. Mas o final da música, com Howe solando acompanhado da orquestra, é marcante. Howe, aliás, é o astro de “Living Out their Dream”, com múltiplas guitarras e um ótimo solo – mas cujo final é um tanto abrupto, como se a banda não soubesse como encerrar a música. E a seguir, a faixa-título, música mais ambiciosa do disco, com longa introdução instrumental, seguida por um trecho acústico e orquestrado, com Howe, Davidson e Sherwood harmonizando nos vocais. A música é bem trabalhada, com um interlúdio instrumental que destaca a orquestra, e Howe mais uma vez é destaque absoluto, com um excelente trabalho de guitarras. Entretanto, mais uma vez sente-se a falta de maior destaque para os teclados, com Downes soando muito tímido. O trecho orquestral perto do final é muito bonito, tornando Mirror to the Sky uma das melhores músicas do Yes no século XXI. “Circles of Time” encerra bem o álbum, uma bela balada com bom desempenho de Davidson.



Como em The Quest, há um CD bônus de três músicas, todas de autoria de Steve Howe. “Unknown Place” poderia ter feito parte do álbum principal sem problemas, com mais de oito minutos de duração e belo trabalho de vocais, numa música em que Jay Schellen se mostra um substituto à altura de Alan White. Downes aparece um pouco mais no órgão, e Howe dá seu show no violão. “One Second is Enough” e “Magic Potion” completam o segundo CD; a primeira também traz Downes com um pouco mais de destaque, e embora não comprometa, não chega a se destacar. Já “Magic Potion” é mais animada, outra vez colocando o destaque nas ótimas guitarras de Steve Howe. No todo, o álbum se mostra um pouco superior ao seu anterior, em especial por conta de “Mirror to the Sky”, uma música que faz o fã se lembrar dos motivos pelos quais aprendeu a gostar do Yes. Como atestam os vários álbuns ao vivo, o Yes atual consegue honrar seu passado, tocando muito bem os clássicos, e até arriscando algumas novidades. Em estúdio, a banda sofre a falta de Jon Anderson, principal compositor da fase clássica, mas não chega a embaraçar os fãs ou os ex-integrantes com discos ruins (à exceção de Heaven & Earth, possivelmente o pior álbum lançado sob o nome do grupo); Steve Howe confessou que estava inseguro em gravar novos discos após a morte de Chris Squire, mas The Quest saiu-se melhor do que ele esperava – e Mirror to the Sky o agradou ainda mais (com o plus de serem bem-sucedidos comercialmente, pois ambos alcançaram o 22º lugar na Billboard). Os dois álbuns mais recentes, como os do Jethro Tull, não são bons o bastante para aparecer entre os favoritos dos fãs, mas são discos que trazem bons momentos em quantidade suficiente para satisfazer quem gosta do Yes.



YES E JETHRO TULL AINDA SÃO RELEVANTES?
A produção atual dessas duas grandes bandas, certamente, não se compara com a clássica, mas não chega a fazer a gente se perguntar por que eles insistem em continuar. Em ambos os casos, cada uma lançou dois álbuns que agregam positivamente ao seu legado, ainda que muito provavelmente as músicas não venham a sobreviver nos setlists após o encerramento das respectivas turnês. Além disso, “Mrs. Tibbets”, no caso do Jethro Tull, e “Mirror to the Sky”, no do Yes, são músicas surpreendentemente boas para bandas tão veteranas, e ajudam a justificar o lançamento de novos discos. É verdade que ninguém vai tirar Close to the Edge ou Aqualung para colocar qualquer um dos quatro discos recentes, mas pelo menos não são um Under Wraps ou um Big Generator. Ian Anderson e Steve Howe não deixaram suas bandas morrerem, mesmo que falte um Martin Barre para um e um Jon Anderson para o outro, mas não estão envergonhando seu passado ao lançarem novas músicas. Ian Anderson já declarou que não sabe por quanto tempo ainda conseguirá gravar ou fazer shows, mas não dá sinais de quem vá parar. E embora o Yes tenha adiado sua turnê de 2023, tudo leva a crer que a banda ainda irá circular por mais um tempo. Mas se eles encerrarem suas carreiras agora, pelo menos o farão com trabalhos melhores do que J-Tull Dot Com ou Heaven & Earth.


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Dieth “To Hell And Back”





“To Hell And Back” é o álbum de estreia da banda Dieth, uma nova banda de thrash/death metal formada pelo baixista David Ellefson, o guitarrista e vocalista Guilherme Miranda e o baterista Michał Łysejko. Esses três músicos renomados formam uma nova força musical, fundada na Polônia. O primeiro single “In The Hall Of The Hanging Serpents” foi lançado em meados do ano passado e já tivemos uma amostra do que teríamos pela frente, uma otima amostra.


O título do álbum descreve o processo individual pelo qual os membros da banda passaram. Eles foram para o inferno e voltaram. Para Ellefson, esse foi o desastre que levou à sua saída forçada do Megadeth. Michał Łysejko deixou o Decapitated depois que a acusação de estupro coletivo foi retirada para toda a banda. A batalha contra o câncer e a morte do grande amigo Lars-Göran Petrov, vocalista do Entombed AD, tem cobrado seu preço de Guilherme Miranda. Às vezes é preciso morrer por dentro para renascer. Todos esses problemas deram força para o trio formar a banda Dieth, como diz o velho ditado: “A males que vem para o bem”.

O primeiro single “In The Hall Of The Hanging Serpents” está no álbum. A faixa-título apareceu como o segundo single e é igualmente descolada e cativante. A transição da introdução limpa para a violência brutal é bastante abrupta e não muito agradável. A faixa pesada deixa claro que especialmente David Ellefson ultrapassou consideravelmente seus limites musicais. Quando “Don’t Get Mad … Get Even!” foi lançado, mostrou o lado thrash do trio. A melhor vingança é ser melhor do que antes. Esta faixa também tem um significado mais profundo e, de fato, se aplica a todas as músicas.



O que você pode esperar é muito mais do que apenas as faixas pré-lançadas. Não estou falando tanto de grooves esmagadores como em “Wicked Disdain” e “The Mark Of Cain” , ou o thrasher “Dead Inside”. Não, os números mais marcantes são realmente surpreendentes. “Free Us All”, com vocais limpos e grunhidos brutais, uma atmosfera psicodélica e um baixo sinuoso e jazzístico, é uma música que cresce a cada escuta. “Heavy Is The Crown” atinge imediatamente a nota certa com notas de blues e stoner.

Mais uma vez, a combinação de vocais limpos e grunhidos é o grande trunfo. Imediatamente depois vem a tão esperada estreia de David Ellefson como vocalista, em “Walk With Me Forever”, que é uma música séria sobre a perda de um ente querido e sua memória fornecendo forças para continuar. Como é o desempenho dele? É realmente muito bom. Dave certamente tem uma boa voz e é bom que ele finalmente tenha a saída criativa para utilizá-la. A música em si é diferente do estilo musical do resto do álbum do Dieth, mas funciona bem e ajuda a adicionar uma diversidade bem-vinda. Lembrando que Dave também divide os vocais com Guilherme em “Heavy is the Crown” e faz os backing vocals em “Don’t Get Mad… Get Even”, “To Hell and Back” e “Mark of Cain”.



Posso dizer que “To Hell And Back” é um álbum interessante de se ouvir. Riffs poderosos, grooves esmagadores e letras raivosas predominam e a produção própria também é excelente. David Ellefson, Michał Łysejko e Guilherme Miranda deixaram para trás os estereótipos de seus gêneros anteriores e aproveitaram sua própria dor e conflito para entregar um álbum de estreia forte. Você só pode admirar isso. Ficamos na torcida, para que essa banda lance outros trabalhos na sequência.



Músicas
1- To Hell And Back
2- Don’t Get Mad … Get Even!
3- Wicked Disdain
4- Free Us All
5- Heavy Is The Crown
6- Walk With Me Forever
7- Dead Inside
8- The Mark Of Cain
9- In The Hall Of The Hanging Serpents
10- Severance

KIKO LOUREIRO FORA DO MEGADEATH?




Na tarde desta terça-feira (05), o Megadeth, através de seu líder Dave Mustaine, comunicou em suas redes o aviso de Kiko Loureiro, que precisará dar um tempo da atual turnê de divulgação do álbum The Sick, The Dying… And The Dead! por questões familiares que, ao que tudo indica, demandam urgência.

Disse Mustaine na postagem:

“Drogies! Kiko teve algo acontecendo em sua vida familiar que o obriga a perder a próxima etapa da nossa “Crush The World Tour”. Vou deixar ele explicar…

“Kiko por aqui! Nosso novo disco, “The Sick, The Dying… And The Dead”, e nossa “Crash the World Tour”, têm sido ótimos. As posições nas paradas mundiais foram as melhores até agora! Queremos realmente agradecer por isso.

Tenho algo que é difícil de compartilhar, mas gostamos sempre de mantê-los informados com a verdade. Tenho que deixar a turnê por enquanto, para estar em casa com meus filhos, e ajudá-los a enfrentar os difíceis desafios que surgem de nós, sendo “pais que trabalham fora de casa”.

Encontrei um guitarrista, Teemu Mäntysaari, para me substituir durante o outono, e acho que vocês ficarão muito felizes. Ele é um guitarrista incrível, fantástico. Eu compartilhei isso com meu parceiro, Dave Mustaine, e sem nenhuma surpresa, ele disse: ‘Vá, vá ficar lá com sua família e nos mantenha informados!”

Aos meus companheiros de banda e a todos os nossos fãs ao redor do mundo, até breve, de volta à Killing Road“.

Não cancelaremos a turnê e apresentaremos Teemu a vocês no dia 6 de setembro em Albuquerque, Novo México, na Revel Arena. Pedimos seu apoio e compreensão neste momento” – DAVE MUSTAINE.






De outro lado, o guitarrista substituto, Teemu Mäntysaari, comentou:

“Estou realmente animado por tocar com o Megadeth em sua turnê norte-americana que começa amanhã, 6 de setembro! Aprender as músicas tem sido bastante divertido e eu estou feliz em sair e detonar com a banda!”.





O finlandês Teemu Mäntysaari é um guitarrista e professor de 36 anos de idade. Desde 2004, ele toca com a banda de death metal melódico Wintersun. Teemu também tem trabalhos com as bandas Imperanon, Induction e Smackbound.O finlandês Teemu Mäntysaari fará seu primeiro show com o Megadeth nesta quarta-feira (06)



CRYPTOPSY As Gomorrah Burns’



Os reis do death metal técnico canadense CRYPTOPSY anunciam seu retorno com ‘As Gomorrah Burns’, seu primeiro álbum completo em mais de uma década, com lançamento previsto para 8 de setembro pela Nuclear Blast Records. O inovador quarteto de metal extremo surge renovado e vital como sempre em seu massivamente antecipado novo álbum que continua seu pioneiro caminho pela exploração sonora com composições excepcionalmente complexas resultando em um de seus álbuns mais complexos até agora.

O vocalista Matt McGachy comentou o novo álbum:
“Estou animado para finalmente revelar ‘As Gomorrah Burns’. É um álbum no qual temos trabalhado nos últimos cinco anos. Um esforço meticuloso do qual nos orgulhamos muito. É a mistura perfeita da velha escola do Cryptopsy com algumas reviravoltas modernas. Nós nos inclinamos fortemente para os grooves e deixamos alguns dos riffs respirarem um pouco mais do que nos últimos lançamentos. Estou muito feliz com a nova era do Cryptopsy”

Hoje, CRYPTOPSY lança o primeiro single do álbum, ‘In Abeyance’, e o vídeoclipe que o acompanha foi dirigido por Chris Kells (THE AGONIST, BENEATH THE MASSACRE).

McGachy acrescenta sobre a nova faixa:
“‘In Abeyance’ é conceitualmente sobre se sentir isolado ao ser emergido em um novo ambiente. A busca por um sentimento de pertencimento enquanto lamenta uma vida anterior. Musicalmente, é um tapa na cara. É uma faixa que parece ser direta, mas permanece ultra complexa.”

Faça a pré-venda de ‘As Gomorrah Burns’ e ouça “In Abeyance” aqui: https://cryptopsy.bfan.link/in-abeyance.ema

Tracklist ‘As Gomorrah Burns’:Lascivious Undivine
In Abeyance
Godless Deceiver
Ill Ender
Flayed The Swine
The Righteous Lost
Obeisant
Praise The Filth



Sobre CRYPTOPSY:

O gigante do death metal CRYPTOPSY retorna para esmurrar nossos sentidos coletivos novamente com seu novo álbum, As Gomorrah Burns. O primeiro deles pela gravadora Nuclear Blast, o quarteto de Montreal – apresentando o membro fundador/baterista Flo Mounier, o guitarrista Christian Donaldson, o vocalista Matt McGachy e o baixista Olivier “Oli” Pinard – continuam avançando no mercado musical com seu típico som extremo e celebram já 30 anos de história como uma das bandas mais renomadas em seu estilo. As explosões impiedosas de ‘Lascivious Undivine’ e ‘Flayed the Swine’ oferecem um CRYPTOPSY em sua forma mais intensa e maníaca, enquanto ‘In Abeyance’ e ‘The Righteous Lost’ abraçam um lado mais selvagem. ‘As Gomorrah Burns’ ressalta a alma do álbum favorito dos fãs – o intitulado None So Vile (1996) como também o meticuloso tecnicismo de And Then You’ll Beg (2000) com uma vibração notavelmente sinistra.

Formado em 1992, o CRYPTOPSY lançou oito álbuns de estúdio – contando com o As Gomorrah Burns – até o momento. Fora do padrão, a banda que é da cidade de Québec estabeleceu novos padrões para o death metal com seu ataque sem compromisso e musicalidade de um nível completamente novo. O álbum de estreia, Blasphemy Made Flesh, chocou todos que o ouviram, pois os sucessores None So Vile, Whisper Supremacy (1998) e Once Was Not (2005) posicionaram os canadenses como predadores de ponta. Ao longo de sua carreira histórica, o grupo embarcou em turnês de alto nível, como a turnê inaugural Death Across America em 1998, a Summer Slaughter Tour em 2008 e a turnê Devastation on the Nation em 2017. A banda já completou 1.000 shows em 47 países. O lançamento de As Gomorrah Burns pela Nuclear Blast reposiciona o CRYPTOPSY em seu domínio dentro de um estilo em que são mestres supremos – o death metal.

As Gomorrah Burns não é apenas a continuação dos EPs The Book of Suffering – Tome I (2015) e The Book of Suffering – Tome II (2018). É um animal selvagem completamente diferente. Elaboradas ao longo de dois anos durante a pandemia, as sessões iniciais aconteceram em uma cabana nas florestas de Quebec. McGachy chama o cenário de terror de “surreal”, mas, como em tudo relacionado com o CRYPTOPSY, o processo de composição foi como esperado bem árduo. Donaldson foi o principal motivador por trás de As Gomorrah Burns. O guitarrista e produtor serviu como capataz e advogado, extraindo de seus companheiros de banda que no caso são McGachy, Mounier e Pinard tudo o que ele poderia retirar. Se CRYPTOPSY era formidável antes de As Gomorrah Burns, eles são absolutamente monstruosos agora.

Conceitualmente, As Gomorrah Burns coloca a história bíblica de Sodoma e Gomorra contra a Internet moderna. A ideia de McGachy era mostrar como é o local de nascimento da invenção e uma fossa de exploração. As histórias são baseadas em incidentes da vida real – perseguidores online, cultos, desinformação, isolamento e intimidação – mas todas situadas em um ambiente tortuoso para aumentar sua potência. CRYPTOPSY contratou o artista italiano Paolo Girardi (POWER TRIP, TEMPLE OF VOID) para complementar os temas líricos do velho mundo. Se os mestres renascentistas Hieronymus Bosch e El Greco fossem lançados na mente moderna de McGachy, a impressionante capa de As Gomorrah Burns seria o resultado.

Tal como acontece com The Unspoken King (2008) e o autointitulado (2012), CRYPTOPSY recrutou seu colega de banda Donaldson para dirigir a produção, mixagem e masterização de As Gomorrah Burns. Dom Grimard, famoso por Ion Dissonance, também entrou na produção. McGachy diz que o tempo no estúdio demorou muito mais do que o previsto, mas com a direção de Donaldson e todos finalmente na mesma sala novamente após a pandemia, CRYPTOPSY foi capaz de capturar vigor (e velocidade) recém-descoberta em As Gomorrah Burns. Faixas como ‘Godless Deceiver’, ‘Ill Ender’ e ‘Praise the Filth’ demonstram a maestria do death metal de Donaldson.

Agressivo ao extremo, mas atencioso em sua totalidade, As Gomorrah Burns – com canções como ‘In Abeyance’, ‘Flayed the Swine’ e ‘Lascivious Undivine’ – perfura a normalidade completa e implacavelmente. Este é um death metal sem limites, do tipo que nosso mundo belicoso precisava e que somente o CRYPTOPSY poderia oferecer.

“Estamos de volta”, diz McGachy. “Quero que nossos fãs saibam que somos mais do que uma banda com um legado. Sim, tivemos muitos álbuns favoritos e cultuados – como None So Vile – mas estamos criando música extrema moderna e relevante 30 anos depois. Estamos muito orgulhosos de As Gomorrah Burns e mal podemos esperar para que você ouça!”

LEFT TO DIE FEAT. CLASSIC DEATH MEMBERS ANNOUNCE REBORN DEAD WESTERN US TOUR WITH MORTUOUS, MORTAL WOUND, STREET TOMBS




Left To Die, featuring former Death members Terry Butler (bass) and Rick Rozz (guitar), announce their second US tour, to take place this November.

Butler and Rozz have teamed up with Gruesome members Matt Harvey (guitar, vocals of Exhumed, etc) and Gus Rios (drums, ex-Malevolent Creation) to perform their classic album Leprosy in its entirety, along with cuts from the Death debut, Scream Bloody Gore.

“You asked for it, and you got it!” stated Butler, adding “We’re excited to bring the Reborn Dead tour to the Western US. Rick Rozz, Matt Harvey, Gus Rios and yours truly will be hitting the dusty trail and rockin’ these DEATHly tunes for you in November!”









Edu Falaschi “Eldorado









Edu Falaschi anuncia “Eldorado”, seu segundo álbum solo
Sucessor de “Vera Cruz” será a parte seguinte de uma trilogia épica sobre o descobrimento, agora não só do Brasil, mas da América






Após o êxito de seu primeiro trabalho solo, o conceitual “Vera Cruz” (2021), o vocalista Edu Falaschi anunciou o disco sucessor, “Eldorado”. Trata-se do segundo capítulo de uma trilogia iniciada com o disco anterior e continua a história de Jorge, agora ambientada não em um Brasil dos tempos do descobrimento, mas no México dos Aztecas e do conquistador espanhol Hernán Cortez.Guia completo: os álbuns de rock e metal que saem em 2023




“Eldorado” deve seguir a mesma linha do antecessor, agora com influências e ritmos latinos acrescidas ao power metal bem executado pela banda solo de Falaschi, composta por Diogo Mafra e Roberto Barros (guitarras), Raphael Dafras (baixo), Fábio Laguna (teclados) e Aquiles Priester (bateria). A trama leva os personagens do primeiro disco a um novo mundo, que carrega semelhanças com a então desconhecida “Ilha de Vera Cruz”.

A história de “Eldorado” é explicada em nota à imprensa. Confira a seguir.


“1501 e a saga de Jorge continua…

Com a derrota do exército da Ordem da Cruz de Nero, durante a batalha final na ‘Ilha de Vera Cruz’ contra Jorge, seus aliados indígenas e o exército da Ordem de Cristo, seu líder, o Bispo Negro, ordena que seus navios remanescentes batam em retirada e voltem para Portugal. Mas durante o retorno, com a frota quase que totalmente destruída, o maléfico líder e seu exército são surpreendidos por uma tempestade sem precedentes, que os desviou de seu destino final.

Levados a mares nunca antes navegados por eles, após a tempestade, uma estranha calmaria se fez. Quase sem vida, com suas caravelas totalmente destruídas, Bispo Negro e parte de seus homens acordam em um novo mundo. Uma terra desconhecida, sob olhos curiosos e assustados de quem os vigiava a distância…

A mata densa, o sibilar da serpente, o canto do Quetzal e o rugido do Jaguar estavam por revelar o futuro do Bispo Negro, seus planos, novas alianças com o navegador espanhol Hernán Cortez, que em 1519, fundou a primeira cidade do México que curiosamente foi denominada ‘Villa Rica de la Vera Cruz’.”



O novo álbum de Edu Falaschi tem previsão de lançamento para agosto de 2023 e a pré-venda já está aberta. O box disponível para quem comprar primeiro consiste em uma caixa estilizada em arte azteca, digibook, camiseta, caneca, réplica de um Dobrão Espanhol e um brinde surpresa.
Leia também: Mão forte? O segredo do som de Eddie Van Halen, segundo técnico
Edu Falaschi – “Eldorado” (capa)

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

KREATOR: MESTRES DO THRASH METAL ALEMÃO






Se pararmos para debater sobre a carreira de bandas veteranas ainda em atividade, invariavelmente, em algum ponto da conversa chegaremos ao termo “era de ouro”. Praticamente todos os grandes nomes da cena já tiveram uma (ou ao menos deveriam ter tido). Fãs do Iron Maiden vão relembrar os sete registros que abrangem o período de 1980 até 1988, fãs do Black Sabbath vão mencionar com carinho os cinco primeiros trabalhos com Ozzy, fãs do Metallica irão destacar os quatro registros que moldaram o Thrash na década de 80 e por aí vai.




Todas estas bandas mencionadas, além de muitas outras, tiveram aquele momento especial em sua história onde parece que tudo deu certo. Os discos lançados nestas épocas foram sucesso de vendas, se tornaram relevantes para o público, referência para os estilos e sobreviveram ao teste implacável do tempo. Geralmente pensamos nesses períodos como algo único, nostálgico, praticamente impossível de se repetir.

Sejamos justos, por melhor que sejam os álbuns mais recentes, dificilmente, o Megadeth irá lançar uma sequência mais notável que “Rust In Piece”, “Countdown To Extinction” e “Youthanasia”. Será que é possível ver o Anthrax, nos dias de hoje, conseguir equiparar uma quadra formada por discos do porte de “Spreading The Disease”, “Among The Living”, “State Of Euphoria” e “Persistence Of Time”? Será que um dia veremos o Destruction fazer algo do mesmo quilate de “Infernal Overkill”, “Eternal Devastation” ou “Release From Agony”?
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Seria algo quase impensável e muitos responderiam rapidamente que jamais aconteceria algo assim.

Temos que admitir, é extremamente difícil crer que nomes que já obtiveram sua importância histórica, alcançaram seu lugar ao sol e passaram por todo tipo de percalço, depois de tantos anos na estrada, ainda mostrem capacidade para se reinventar ao ponto de conceber discos tão impactantes quanto aqueles de seus melhores dias.
É EXTREMAMENTE DIFÍCIL, MAS… NÃO É IMPOSSÍVEL!

Pensando neste tema, apenas duas bandas me vieram à mente: Accept e Kreator. Esta segunda, com ênfase muito maior por conta de seu tamanho, alcance, importância e magnitude na cena Metal atual.
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Para entender este raciocínio, precisamos fazer uma breve viagem aos primórdios do Kreator. Prometo que será rápido.

Os alemães transitaram por praticamente todo tipo de musicalidade existente dentro do Metal. Há quem os coloque como uma das representantes da primeira onda do Black Metal por conta do brutal disco de estréia, “Endless Pain”, de 1985. Cruzaram a estrada do Death Metal com “Pleasure To Kill”, de 1986, e usaram seu terceiro full lenght para fazer uma transição muito habilidosa do Death para o Thrash. “Terrible Certainty”, de 1987, traz toda a grosseria presente no álbum anterior e ao mesmo tempo prepara o terreno para o Thrash técnico e lapidado que foi “Extreme Aggression”, de 1989. Neste ponto, parecia que o quarteto tinha encontrado sua identidade e “Coma Of Souls”, de 1990, apenas adicionou mais elementos a uma musicalidade que já era absolutamente única.


Somente por estes trabalhos iniciais (que são justamente os que marcam a era de ouro do Kreator), podemos ter uma boa idéia do potencial criativo do grupo, mas eles surpreenderam mais e mais com discos absolutamente fora da caixa durante toda a década de 90. “Renewal”, de 1992, chutou para longe o Thrash técnico tão ovacionado e trouxe composições que, apesar de extremamente pesadas, notoriamente, pisavam em terrenos ainda não explorados. “Cause for Conflict”, de 1995, seguiu viajando para longe e agregou até mesmo passagens industriais e Hardcore. “Outcast”, de 1997, pisou no freio e revelou uma banda que também sabia criar músicas densas, climáticas, cadenciadas e (por que não?) comerciais. Mille Petrozza e sua trupe estavam determinados a se aventurar e o limite disso tudo foi “Endorama”, de 1999, com elementos góticos e praticamente nada da musicalidade inicial. A idéia era criar um novo estilo, o Gothic Thrash, e mesmo que isso não tenha dado certo naquele momento, as referências a “Endorama” sobreviveriam dali em diante.


Ok, mas se os cinco primeiros discos representam a “era de ouro” e os álbuns lançados nos anos 90 representam a “fase experimental”, quais os argumentos que justificam chamar o que veio à seguir de “segunda era de ouro”?

Se você viveu os anos 90, sabe muito bem que o Thrash Metal foi se apequenando ao ponto de praticamente deixar de existir no final da década. Por volta de 1997 e 1998, não tínhamos nenhuma banda do gênero no auge. Pior do que isso, não tínhamos qualquer tipo de renovação se avizinhando. Além de quase todos os medalhões do estilo terem mudado completamente sua sonoridade, os poucos que se mantiveram fiéis (ou quase fiéis) não lançaram nenhum álbum realmente impactante. Foram tempos difíceis onde víamos um Sodom solitário asteando a bandeira do Thrash com álbuns que não emplacavam e tampouco chamavam a atenção da maioria dos headbangers. Em 1999, o Testament conseguiu dar início a uma vindoura reviravolta com o excelente “The Gathering”, mas foi somente no início dos anos 2000 que a coisa realmente aconteceu.




Precisamos ser pontuais aqui. Para que o Thrash pudesse renascer era necessário que nomes de peso na cena apostassem novamente neste tipo de musicalidade. O Testament havia dado o primeiro passo e o Destruction, que havia passado por momentos conturbados durante os anos 90, trouxe de volta o vocalista/baixista Marcel Schmier e lançou o bom “All Hell Breaks Loose”, em 2000. Uma revolução silenciosa começava a acontecer, mas ainda era pouco e, somente no ano seguinte, com as bandas alemãs tomando a linha de frente no renascimento do Thrash, tivemos a ressureição propriamente dita. O Destruction concebeu o impecável “The Antichrist”, o Sodom apresentou o mortal “M-16” e, quem diria, depois de uma década inteira dedicada aos experimentalismos, o Kreator resolveu reconquistar seu trono e lançou “Violent Revolution”.


De todas as bandas alemãs do Thrash, a mais bem sucedida (estatisticamente) sempre foi o Kreator. E mesmo na década de 90 enquanto lançavam álbuns “esquisitos”, mantiveram-se em evidência dentro do mainstream. Quando o maior medalhão da segunda maior escola do Thrash resolveu pisar novamente no acelerador e investir pesado em uma volta a sonoridade de seus discos mais ovacionados da década de 80, a onda de “revival” foi inevitável. Se alguns anos antes o Thrash Metal podia ser considerado um gênero quase extinto, no início do novo século ele retornou forte ao topo.
E O NOME QUE ENCABEÇOU TODO ESTE MOVIMENTO FOI, SEM DÚVIDA, O KREATOR.



“THE ONLY WAY TO SAVE YOUR SOUL
FROM SCUM WITH HEARTS OF STONE

RECONQUERING THE THRONE

OUR RISING HAS BEGUN!”

Depois de mostrar aos headbangers mundo afora que o Thrash Metal poderia ser novamente relevante e, mais do que isso, grande, os alemães precisavam se livrar das desconfianças do passado e apresentar uma sequência de álbuns importantes. E foi exatamente isso que Mille, Ventor e sua trupe fizeram. “Enemy Of God” chegou em 2005 e “Hordes Of Chaos” em 2009. Com eles, a banda já colecionava novos hinos, conquistava uma legião de novos fãs, conseguia manter a atenção dos entusiastas da fase experimental e, ainda por cima, trazia de volta grande parte dos antigos admiradores. O resultado não podia ser outro e o nome Kreator foi ganhando mais e mais prestígio.

Se as maluquices, experimentações e aventuras sonoras existentes em discos como “Outcast” ou “Endorama” não surtiram um efeito muito positivo nos fãs mais old school na época de seus lançamentos, estes elementos adicionados e combinados em meio a porradaria Thrash, acabaram caindo nas graças do público e geraram uma sonoridade realmente ímpar. Não há como negar que músicas do porte de “Violent Revolution”, “All Of The Same Blood”, “Reconquering The Throne”, “Enemy Of God”, “Suicide Terrorist”, “Hordes Of Chaos (A Necrologue For The Elite)” e “Demon Prince”, se transformaram em novos hinos da banda. Alguns, inclusive, se tornando tão obrigatórios quanto qualquer clássico dos anos 80.


E não parou por aí, pois além de se postarem imponentes na linha de frente do renascimento do Thrash, o Kreator acabou influenciando toda uma nova geração de bandas novas. É bom que se diga que estes grupos passaram a surgir somente depois da primeira metade da primeira década de 2000, isto é, depois que os alemães recarregaram as baterias do estilo. Se analisarmos alguns destes nomes mais proeminentes da nova safra (Angelus Apatrida, Havok, Suicidal Angels, Comaniac, Warbringer, Warfect e tantos outros), todos eles possuem algum tipo de influência ou referência à musicalidade do Kreator.

Se não bastasse, “Phantom Antichrist” chegou em 2012, “Gods Of Violence” em 2017 e, recentemente, assistimos ao lançamento de “Hate Uber Alles”, em 2022. Todos estes trabalhos consolidando ainda mais esta nova fase e, incrivelmente, trazendo mais uma coleção de novos hinos. O que dizer de composições poderosas do calibre de “Phantom Antichrist”, “Civilization Collapse”, “Satan Is Real”, “Hail To The Hordes”, “Fallen Brothers”, “666 – A World Divided”, “Hate Uber Alles”, “Strongest Of The Strong” e “Midnight Sun”?

Podemos afirmar que com a chegada destes últimos registros, além de conseguirem cravar uma sequência inédita e invejável de nada menos que seis álbuns de alto nível, ainda conseguiram renovar sua própria sonoridade sem descaracterizá-la.


O Kreator é uma das únicas bandas veteranas em atividade que poderia anunciar uma turnê inteira tocando apenas músicas de sua fase pós 2000 e, ainda assim, levaria a imensa maioria de seu público aos shows. O Kreator é uma das únicas bandas veteranas em atividade que tem fãs que gostam tanto (ou mais) dos discos mais recentes do que dos álbuns clássicos. O Kreator é uma das únicas bandas veteranas em atividade que pode trocar no seu setlist um hino do passado como “Extreme Aggression” ou “Betrayer”, por outro do presente como “Enemy Of God” ou “Hordes Of Chaos”, e praticamente nenhum fã (novo ou antigo) iria reclamar. O Kreator é uma das únicas bandas veteranas em atividade que mantém sua base de fãs em uma crescente constante baseando-se exclusivamente no conteúdo de seus trabalhos mais novos. O Kreator é uma das únicas bandas veteranas em atividade que lança registros que, possivelmente, se tornarão clássicos (sejamos justos, alguns já se tornaram).

Todos estes fatores, sem dúvida, demarcam uma “segunda era de ouro” acontecendo exatamente agora, nos tempos atuais.


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