O álbum No More Tears, lançado em 1991 por Ozzy Osbourne, é considerado um dos melhores trabalhos da carreira solo do lendário cantor inglês, além de ter consolidado a reputação de Zakk Wylde como um dos grandes guitarristas dos anos 1990, e servir de influência para muitos aspirantes a músicos em todo o mundo.
Quatro destes rapazes com certeza são os garotos suecos que formaram, em 1998, o Below, que depois mudaria de nome para Firebug. Com a formação estabilizada em Andy Alkman (vocal), Jocke Lundgren (guitarra), Henke Lönn (baixo) e Kent Svensson (bateria), o grupo gravou algumas demos e mudou novamente de alcunha (para Hellfueled, com o qual ficariam conhecidos daí por diante) antes de assinar com a gravadora Black Lodge e lançar seu primeiro disco em 2004. Chamando a atenção dos fãs de metal por causa da incrível semelhança da voz de Andy com a do Madman, e pelo estilo de Lundgren ser muito influenciado por Wylde, o grupo alcançou grande repercussão em sua estreia, e construiu uma carreira bastante interessante depois dela. Confira agora uma análise dos quatro lançamentos dos garotos originários da cidade de Huskvarna!
Volume One [2004]
Se este fosse um álbum da carreira solo de Ozzy Osbourne, com certeza seria um de seus melhores trabalhos. A abertura (com a veloz “Let Me Out“) já deixa isso claro, com a guitarra soando ao melhor estilo Zakk Wylde (cheia dos bends e vibratos característicos do americano) e os vocais muito semelhantes aos de Ozzy (além de um pouco de órgão Hammond na melodia para deixar tudo ainda melhor – instrumento que ficou a cargo do renomado Fredrik Nordstrom, que ficou responsável pela produção do trabalho e ainda executa um solo de guitarra em “Eternal”). Faixas como “Someone Lives Inside”, a citada “Eternal” (com um trecho mais “viajante” lá pelo meio), “Rock´N´Roll” (um pouco mais cadenciada), “Hunt Me Down” (e seu fantástico riff) ou “Mindbreaker” poderiam estar em qualquer disco do Madman pós-No More Tears, e certamente seriam apontadas como destaques de tais álbuns. “Live My Life” (cujo riff inicial lembra “Rat Salad”), “Midnight Lady” (que ganhou um interessante vídeo clipe) e boa parte de “Break Free”, apesar de rápidas, soam mais ao estilo dos primeiros discos do Black Sabbath, sendo que a segunda ainda gerou um EP que contém duas faixas inéditas e exclusivas (intituladas “Endless Work” e “Big Fat Eight”). Não fosse pela voz, a pesada (apesar de mais calma) “Sunrise” seria a que menos lembraria as composições da carreira solo do famoso comedor de morcegos, e o track list se completa com “Second Deal”, que possui um riff repetitivo e muito atraente. Muitos não dão tanta atenção a este disco, acusando-o de ser uma mera cópia dos trabalhos do Madman pós-Sabbath, mas eu afirmo que este é justamente o maior atrativo deste play. Ouça e confira você mesmo!
Born II Rock [2005]
Após tocar em grandes festivais europeus e abrirem para o Europe na turnê de reunião deste ícone do rock sueco, era hora de lançar o segundo disco da carreira do Hellfueled. Como em time que está ganhando não se mexe, Born II Rock repete o produtor Fredrik Nordstrom, e vem na mesma pegada da estreia do quarteto, como fica claro em um de seus maiores destaques, a faixa de abertura “Can’t Get Enough” (que tem a bateria a cargo do engenheiro e co-produtor Patrik J Sten, que já havia executado percussão e backing vocals no registro anterior, além das mesmas funções técnicas), ou em canções como “Look Out”parece saída dos discos gravados pelo Madman na década de 1980, além de ter recebido um clipe promocional), “Friend” (que possui um trecho acústico em seu arranjo, com um violão flamenco a cargo do músico convidado Emil Pernblad, e nova participação de Nordstrom no órgão Hammond) ou a veloz “Old” (que possui um trecho mais cadenciado lá pelo meio). O peso e o timbre das guitarras em “Regain Your Cromn” e “Make It Home” chegam a lembrar algumas coisas do Black Label Society, assim como o riff inicial da faixa título e partes de “Girls Girls” e “Angel”. “On The Run” é uma das faixas mais velozes da carreira dos suecos, e o track list é completado pela também veloz “I Don’t Care”, onde a guitarra de Lundgren (assim como em quase todo o álbum) é o destaque, apesar de soar como se executada por Zakk Wylde. Born II Rock é a sequência natural de Volume One, e as acusações de que o Hellfueled era pouco mais que uma mera cópia da carreira solo de Ozzy Osbourne não diminuíram nem um pouco por causa deste registro, sendo que, a meu ver, isso não constitui nenhum problema!
Memories In Black [2007]
Parece que as constantes acusações (nem um pouco infundadas) citadas na última linha do texto acima começaram a incomodar os membros do Hellfueled após o segundo disco. Ao menos, é esta a impressão que se tem após ouvir seu terceiro registro, onde o conjunto se afasta um pouco do estilo “Madman” de compor, pisa um pouco no freio e injeta muitas doses de melodias nas doze faixas do play (que novamente contou com Fredrik Nordström na produção). A abertura com “Rewinding Time” chega a ser até um pouco chocante, pois mesmo a característica voz de Andy soa diferente (um pouco mais grave), não parecendo mais uma simples imitação do estilo do ex-cantor do Black Sabbath. As linhas de guitarra também não parecem mais tão derivadas de Zakk Wylde (embora o peso ainda seja digno de um Black Label Society), e o órgão Hammond (desta vez a cargo do músico convidado Mattias Bladh, que também executa o instrumento em outras músicas do disco) tem uma presença marcante. A viajante e psicodélica “Again” (que novamente apresenta o engenheiro/co-produtor Patrik J Sten nos backing vocals), apesar de alguns trechos mais pesados no refrão, nem parece ter sido gravada pela mesma banda dos discos anteriores, assim como a pesada “Queen Of Fire” (bastante “arrastada” para os padrões dos suecos) ou a oitentista “Down” (e seu marcante refrão). Lembrando muito a primeira fase do Sabbath com Ozzy (apesar do vocal não apresentar tanta semelhança quanto antes), “Sky Walker” se encaixa muito bem sob o rótulo de stoner metal, estilo que também dá as caras em “Face Your Demon” (outra composição com destaque para o Hammond) e na excelente “Master Of Night”, onde os vocais de Andy apresentam alguns efeitos bastante interessantes. É claro que alguns resquícios do passado ainda dão as caras no álbum, principalmente nos riffs de “Warzone”, “Slow Down” ou da agitada “Search Goes On” (que poderiam facilmente estar em um disco do Black Label Society), assim como em partes da veloz “Right Now”, que contém na letra a frase que dá título ao play, ou ainda em trechos de “Monster” (cuja condução é bem “marcada”), música que conta com o consagrado Snowy Shaw (Mercyful Fate, Dream Evil, Therion) nos backing vocals. Algumas edições, como a versão nacional (distribuída no país pela Hellion Records, assim como os registros anteriores), apresentam ainda duas faixas bônus, a agitada “Song For You” (que também tem uma pegada Stoner em seu arranjo) e “5 am”, talvez a que mais se pareça com a carreira solo de Ozzy no disco (até a voz de Andy soa diferente das demais canções, aqui ficando mais próxima do registro do Madman). Um disco diferente dos anteriores, mas não menos interessante.
Emission Of Sins [2009]
Apesar da troca de produtor (quem assume os botões agora é Rikard Löfgren), este disco continua do mesmo ponto onde o anterior parou.Se o vocal volta a apresentar muitas semelhanças com o do nosso amado comedor de morcegos (como na “quase” faixa ítulo “A Remission Of My Sins”, outra que parece saída da carreira solo do Madman, ou na marcante “Where Angels Die“, que abre os trabalhos e se configura em um dos destaques do track list), Lundgren continua, em boa parte o tempo, se afastando da pecha de “cópia” de Zakk Wylde, acrescendo ainda mais melodia a suas linhas de guitarra, sem, no entanto, se esquecer do peso. São assim “Am I Blind”, “Save Me” (que possui um belo refrão), “For My Family And Satan” (com uma linha vocal bem “viajante”), “Stone By Stone” (com um riff bem marcante) e “End Of The Road”, talvez a mais melódica de todas, e que possui um dos melhores solos de guitarra deste registro. “In Anger” (que ganhou um vídeo clipe) tem um inegável apelo radiofônico, onde a voz de Andy apresenta uma mistura do estilo dos primeiros discos com o do registro anterior, dependendo do trecho da canção, enquanto “I Am The Crucifix” (outra que mereceu um clipe) possui um breve trecho de canto gregoriano em sua introdução e muito peso nos riffs (que voltam a remeter ao Black Label Society, assim como o começo de “Lost Forever”, que depois ganha um tom mais melódico em seu arranjo), com o track list sendo encerrado pela instrumental “Moving On“, onde o destaque vai todo para a guitarra de Jocke Lundgren. É interessante notar que algumas músicas possuem um vocal “narrado” e meio sombrio em certos trechos, mas, como este álbum não teve lançamento nacional e não consegui encontrar maiores informações a este respeito, não posso confirmar quem é o autor dos mesmos. Um disco no mínimo do nível do anterior, e que merecia mais reconhecimento por parte dos fãs do grupo.