Sempre que o termo Thrash Metal é mencionado, alguns nomes são automaticamente associados em nosso subconsciente e, certamente, um desses nomes é o do Slayer. A banda sobreviveu ao passar das décadas e se tornou um sinônimo de música rápida, agressiva, visceral e blasfemadora. Como esta é uma semana dedicada aos norte americanos, nada melhor do que se aprofundar um pouco no início espetacular do quarteto que abrange o período que vai de 1981 à 1991.
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O ano é 1981. Quis o destino que dois jovens guitarristas se encontrassem ocasionalmente em uma audição e, após uma conversa informal, estes jovens perceberam que tinham em comum a vontade e a vitalidade necessária para montar uma banda que mudaria o curso da história da música pesada. Kerry King e Jeff Hanneman se entenderam de imediato e, para dar vida ao sonho, recrutaram o baixista e vocalista Tom Araya. O jovem Tom era um velho conhecido de Kerry King e ambos já haviam tocado juntos em outra banda. Ainda faltava alguém para ocupar o posto de baterista, mas isto seria resolvido com uma pizza. Sim, Kerry King conheceu Dave Lombardo enquanto o mesmo trabalhava entregando pizzas na região e, quis o destino outra vez, que o rápido bate-papo entre os dois revelasse um dos dons natos de Lombardo: tocar bateria. O rapaz foi convidado para uma jam session e, pronto, a formação clássica do Slayer estava reunida.
No início, a banda foi movida pela paixão de Kerry King pelas bandas britânicas e pelo movimento denominado NWOBHM, que estava em ebulição no Reino Unido. O Slayer tocava em pequenos clubes, bares e festas, nesta época os set lists eram todos baseados em músicas do Judas Priest, Iron Maiden e outras. Apesar da sonoridade mais voltada ao Heavy Metal tradicional, o quarteto adotava um visual chocante repleto de referências ao satanismo e dava uma roupagem mais agressiva às músicas. Foi em uma destas apresentações no sul da Califórnia que Brian Slagel os assistiu pela primeira vez. Slagel era o fundador da Metal Blade Records e começava a causar rebuliço na cena com as míticas coletâneas “Metal Massacre”. Reza a lenda que foi quando o Slayer executou uma versão absolutamente brutal de “Phantom Of The Opera”, do Iron Maiden, que Brian não teve dúvidas e resolveu convidá-los para participar da edição de número III da “Metal Massacre”.
O Slayer gravou a faixa “Agressive Perfector” para a compilação e, de quebra, conseguiu um contrato de distribuição de seu primeiro álbum, porém, eles teriam que bancar as gravações com dinheiro próprio. Tom Araya não pensou duas vezes e ofereceu todas as suas economias, Kerry King conseguiu o restante do valor com seu pai e, em novembro de 1983, o Slayer levou apenas três semanas para gravar, mixar, prensar e lançar o clássico “Show No Mercy”. O álbum chegou às lojas no dia 3 de dezembro e, à partir de então, nada foi como antes.
Em termos de musicalidade, “Show No Mercy” era um apanhado de canções de Heavy/Speed Metal com um toque a mais de peso e uma temática satanista que causou bastante impacto na época. O Thrash Metal é quase inexistente no álbum de estréia, mas mesmo assim, “Black Magic” já traz alguns padrões importantes que ajudariam a moldar a sonoridade Thrash clássica da banda nos próximos trabalhos. No geral, quase todas as músicas soam como se o Judas Priest ou o Iron Maiden tivessem tomado anabolizantes e feito músicas mais malvadas e brutais. Dentre os diversos grandes momentos do disco, destacaram-se “Evil Has No Boundaries”, “The Antichrist”, “Die By The Sword” e a já mencionada “Black Magic”. Na turnê de divulgação, o Slayer viajou no camaro de Tom Araya, que rebocava um trailer velho onde iam à bordo músicos, amigos, bebidas, instrumentos e equipamentos. A tour rendeu certa popularidade para a banda e isto refletiu nas vendagens do álbum que ao final da excursão registrou 20 mil cópias vendidas e se transformou automaticamente no maior sucesso comercial da Metal Blade Records até então.
Em 1985, mais confiantes e experientes, a banda parte para a gravação de seu segundo full lenght e, contrariando as expectativas, ao invés de focarem naquela musicalidade que vinha sendo lapidada e que havia resultado na faixa “Chemical Warfare”, resolvem compor músicas mais complexas, mais longas e cheias de viradas. “Hell Awaits” soava quase como um novo começo para o Slayer e, apesar de ter agradado sua base de fãs, também influenciou na criação de um outro estilo que começava a surgir: o Death Metal. Sua estrutura rítmica progressiva e ao mesmo tempo visceral, não era o que se esperava do recém criado Thrash. Composições como “Hell Awaits”, “Kill Again”, “At Dawn They Sleep” e “Crypts Of Eternety” era o Metal sendo levado a um outro nível de evolução ainda não desbravado.
A repercussão foi das melhores e o disco rendeu inúmeros prêmios neste ano para a banda. Desde “álbum do ano” e “melhor performance ao vivo”, até prêmios individuais como “melhor baterista”. Tal sucesso acabou por chamar a atenção de uma outra gravadora, a Def Jam Recordings, que apesar de maior e melhor estruturada, era especializada em artistas oriundos do Rap. O Slayer recebeu uma proposta de assinar com o selo e isto possibilitaria a banda trabalhar com o experiente produtor Rick Rubin. Eles toparam o desafio e, em 1986, partiram para a gravação de seu terceiro trabalho de estúdio.
Deixando se influenciar até a página dois, o quarteto aceitou a sugestão do produtor e compôs músicas menores que as músicas do disco anterior, porém, a fúria dessas músicas foi algo jamais visto até então. Ao mesmo tempo que as esmagadoras “Angel Of Death” e “Raining Blood” traziam o que se esperava do Slayer, o disco de forma geral era composto por faixas de curta duração (dois ou três minutos cada) e era veloz, muito veloz, extremamente veloz…
A brutalidade de “Reign In Blood” era algo estarrecedor e isso não passou despercebido. A criatividade dos integrantes estava em profusão nesta época e mesmo em músicas curtíssimas como “Altar Of Sacrifice” e “Jesus Saves”, a quantidade de riffs, mudanças de andamento e variações rítmicas era absurda, nada parece ter sido colocado neste disco por acaso.
No dia 7 de outubro de 1986, quando “Reign In Blood” chegou às lojas, o mundo da música pesada conheceu o disco definitivo que trouxe grande parte dos principais pilares de sustentação do Thrash Metal. O compacto moldou o gênero como poucos e ditou padrões, passou a ser referência e álbum de cabeceira dos demais músicos da cena. Enquanto o Metallica ganhava os holofotes no mainstream, o Slayer se consolidava como rei supremo do underground.
Tal reconhecimento rendeu à banda a sua primeira turnê mundial, a “Reign In Pain Tour”. E nesta excursão aconteceu a primeira debandada de Dave Lombardo, que decidiu abandonar a turnê alegando que a gravadora não estava pagando os músicos de acordo com o que havia sido combinado. Para seu lugar, chamaram Tony Scaglione, do Whiplash, que acabou tocando nos shows restantes, porém, em 1987, Lombardo resolveu retornar ao seu posto de origem.
Em 1988, era chegada a hora de gravar o sucessor de “Reign In Blood” e o Slayer tinha um baita problemão para resolver, já que todos os músicos estavam 100% conscientes que tinham tocado no limite no álbum anterior e qualquer coisa que gravassem naquele momento, não seria rápido o suficiente, brutal o suficiente e, principalmente, seria exaustivamente comparado com o que fizeram em “Reign In Blood”. Foi aí que Tom Araya achou uma solução bastante eficaz e propôs que a banda gravasse um disco totalmente diferente, pois a única forma de não haver comparações era não haver como comparar. Dessa forma, “South Of Heaven” foi composto propositalmente para ser mais lento, mais arrastado e mais denso. Até mesmo nas faixas mais rápidas, Araya cantava mais devagar.
No dia 9 de outubro de 1990, “Seasons In The Abyss” foi lançado e, ao mesmo tempo em que tínhamos pedradas rápidas e cortantes como “War Ensemble”, “Born Of Fire”, “Spirit In Black” e “Hallowed Point”, tínhamos canções mais arrastadas e melódicas como “Dead Skin Mask”, “Blood Red”, “Expendable Youth” e a canção título “Seasons In The Abyss”. Pode se afirmar que este é um trabalho que resume muito bem o que foi a primeira década de vida do Slayer.
Mais uma vez, o grupo saiu em turnê e, desta vez, favorecidos pelo bom momento do Thrash Metal, excursionaram pela Europa e depois retornaram aos Estados Unidos com a Clash Of The Titans Tour. No ano seguinte, em 1991, foi lançado um álbum ao vivo duplo chamado “Decade Of Aggression”. O disco era uma forma de comemorar os primeiros dez anos do grupo e funcionou praticamente como um divisor de águas, já que em 1992, o baterista Dave Lombardo deixou o Slayer e, daí em diante, tivemos o início de uma outra era. Mas isso é assunto para uma outra ocasião…