quinta-feira, 25 de maio de 2017

Resenha: ZZ Top – Degüello (1979)





Em um mundo ideal, ninguém deveria estar resenhando um disco do ZZ Top no ambiente frio de um teclado de computador. Aliás, nem se deveria estar necessariamente escrevendo. Bastaria um grupo reunido ao redor de uma mesa, com uma garrafa de whisky no meio, ouvindo o disco e conversando a respeito! O primeiro acorde simultâneo ao primeiro gole, naturalmente, porque mesmo que você não estivesse pensando em beber, seu sinalizador de sede iria disparar logo aos quatro primeiros segundos da primeira música, “I Thank You”, um cover do soulman Isaac Hayes. O disco mal começa e já lhe traga pra dentro do modo de vida texano, explorado pela banda, com churrascos, mulheres e carrões. Não é a toa que a música seguinte já reune dois desses elementos em seu título, “She Loves My Automobile”.

Acho que nenhuma região americana tem bandas tão claramente identificadas, com o seu local, como o são as que compõem a cena sulista dos Estados Unidos. O ZZ Top, porém, é um pouco diferente das demais. Ele não é tão Country Rock quanto o são, por exemplo, o Lynyrd Skynyrd ou o Allman Brothers, mas, por outro lado, têm os dois pés fortemente fincados no Blues.



E Blues é o que você vai encontrar em “I´m Bad, I´m Nationwide”, primeiro grande clássico do disco. Tão harmônica quanto o tilintar das pedrinhas de gelo em seu copo, que chacoalham no ritmo das batidas de Frank Beard e que preparam o seu espírito para a beleza de “A Fool For Your Stockings”, uma música tão linda quanto o inferno permite ser! Nesse momento você tem que completar sua dose e esquecer de tudo ao redor, pois todos os seus demais sentidos tem que ser desativados em favor da utilização plena de sua audição. Essa música pode lhe deixar tão absorto que, quando inicia a seguinte, “Manic Mechanic”, é como se você fosse subtamente acordado no meio de um sonho, desorientado sem saber bem onde é que está. Provavelmente é o whisky fazendo efeito.

O disco segue e quando chega em “Hi-Fi Mama” você já bebeu o suficiente e pode agora apreciar o tira-gosto. O momento de degustação combina com o fato dessa música – que é um rockão bem ao estilo do que de melhor se fez na década de 50 – ser a única do disco cantada por Dusty Hill. Billy Gibbons é um guitarrista soberbo, que não precisa de maiores apresentações, mas, se por um lado, ele é um gênio, Dusty é O cara! Ninguém segura um baixo como Dusty faz! Em suas mãos, aquilo não parece ser apenas um pedaço de madeira trabalhado – como o é para tantos – mas, sim, um verdadeiro companheiro fiel, algo digno de ser bem tratado e acariciado, tal qual um animal de estimação querido.

“Cheap Sunglasses” é outra faixa que é bem a cara da banda: uma levada cheia de malemolência e uma letra satírica, descompromissada. Lembre-se que você está degustando sua bebida envelhecida, então nem pense em encontrar aqui letras com mensagens. A banda está dizendo pra você se divertir. Siga o conselho: relaxe e curta.

O fim do disco está próximo. “Esther Be The One” é a última, mas não precisa ser o encerramento do momento vivido. Vá em frente, peça outra garrafa e ponha o disco pra tocar de novo, ou coloque qualquer outra coisa do ZZ Top. Não precisa, de modo algum, se preocupar com o dia seguinte. Música boa não dá ressaca.

Formação

Billy Gibbons – guitarra/vocal

Dusty Hill – baixo

Frank Beard – bateria

Músicas

01.I Thank You

02.She Loves My Automobile

03.I’m Bad, I’m Nationwide

04.A Fool for Your Stockings

05.Manic Mechanic

06.Dust My Broom

07.Lowdown in the Street

08.Hi Fi Mama

09.Cheap Sunglasses

10.Esther Be the One

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