domingo, 10 de setembro de 2023

O amor de Tuomas por Tarja nas músicas do Nightwish [Parte III]






E seguindo agora para a parte final, falaremos mais um pouco dos bastidores da banda no período pós Wishmaster até a demissão de Tarja em 2005 e o ponto final deste relacionamento no lançamento de Dark Passion Play.

Em 2001 após o lançamento do EP Over the Hills and Far Away, Tuomas estava simplesmente em frangalhos. Marcelo Cabuli começou a fazer parte do dia-a-dia da banda e problemas com o baixista Sami Vänska começaram a incomodar o líder. Além disso, o clima nos bastidores dos shows estava bem ruim devido ao excesso de trabalho e as poucas folgas disponíveis.

Quanto a Sami, ele basicamente ligou o “foda-se” para a banda. Segundo os integrantes, ele sempre esquecia alguma coisa, se atrasava nas saídas de hotéis e seu desempenho no palco estava cada vez mais desanimado. Junto aos problemas citados anteriormente, Tuomas ali por setembro de 2001 ligou para as gravadoras dizendo que o Nightwish havia acabado. Então, ele convidou o amigo e vocalista do Sonata Arctica, Tony Kakko, para uma escalada nas montanhas e aproveitou o período meio que para desabafar sobre todos os problemas em relação a si e a banda. Kakko convenceu Tuomas de que ele não poderia largar tudo o que construiu e que seria o maior erro de sua vida, que os problemas poderiam ser resolvidos e que as coisas poderiam melhorar em relação a banda.



Assim, o tecladista resolveu demitir Sami. Todavia, como em todas as outras demissões da banda, ele não fez isso pessoalmente. Nesse caso, pediu ao empresário Ewo Pohjola para avisá-lo. Segundo o baixista, ele meio que já esperava que isso fosse acontecer mais cedo ou mais tarde e não esboçou nenhuma reação, pegou suas coisas e partiu. Veio Marco Hietala, que acabou brigando com Kimberly Goss do Sinergy em que ele também tocava baixo, para se unir ao Nightwish visto que na banda ele também teria mais chances de fazer vocais (e, presumivelmente, faturar mais também).

Com Hietala e uma conversa mais franca entre os membros e a equipe, as coisas a princípio deram uma melhorada. Independente disso, essa fase negra que viveu a banda inspirou Holopainen a se dedicar ainda mais a suas letras e expurgar ainda mais sentimentos através delas. Com isso, veio Century Child com uma tonalidade mais pesada e baixo astral em termos de arranjos. Once e seus hits vieram em seguida. Os aparentes sentimentos em relação a Tarja tornaram-se ainda mais evidentes:

Century Child

Ever Dream: tirado da própria biografia do Nightwish, pag. 212-213: “”Ever Dream” também é muito pessoal. Nesta música, eu estou confessando meus sentimentos de desejo por uma certa pessoa. Está tudo nas canções. Os fãs provavelmente interpretarão de maneira diferente e tudo bem. Você pode interpretá-las de muitas maneiras.” A música nada mais é que uma declaração de amor total à mulher que ele amava.

Slaying the Dreamer: segundo novamente o livro, esta música foi inspirada quando ele estava num bar e alguém veio até ele falando um monte de besteiras a respeito de coisas relacionadas à banda. Acho que já dá de se imaginar que era um certo sujeito latino-americano quando na canção há versos como “You bathed in my wine, drank from my cup, mocked my rhyme”. E outras como “As you’re slaying the dreamer” seria o próprio Tuomas o sonhador sendo destroçado por ele.

Forever Yours: aqui seria Tuomas lamentando novamente a sua solidão e o quanto tudo seria diferente caso houvesse reciprocidade. Todavia, os dois versos finais “My time is yet to come, so I’ll be forever yours” indicam que ele ainda possui esperanças de que vai conseguir dobrar o coração da vocalista.

Feel for You: nesse caso, imagino o finlandês naquele desejo ardente de indicar que ele seria o homem perfeito na vida dela, que ele seria o sujeito que a desejaria para sempre e que ela conseguiria sentir o mesmo desde que ela se entregasse a ele. E um recado bem claro: “This one is for you, for you, only for you, just give in to it, never think again, I feel for you”.

Beauty of the Beast: mais uma vez, ele se declarando a Tarja e dessa vez de uma forma mais instigante. Há dois versos marcantes nesse relacionamento “You told I had the eyes of a wolf, search them and find the beauty of the beast” que seria basicamente os olhos de lobo o desejo que ele sente por ela e pediu para que ela visualizasse a beleza naquele ser que a desejava. O outro seria “All of my songs can only be composed of the greatest pains, every single verse can only be born of the greatest wishes”, aqui a declaração que Tarja ainda era a principal inspiração para que ele escrevesse suas músicas.

Once

Romanticide: mais uma lamentação por aquilo que sente e não é correspondido. Uma frustração interna gigante com aquele sentimento explicado no verso “see me ruined by my own creations”. Ou seja, a banda se tornou um fardo pessoal para ele que precisa conviver com o amor de sua vida tão próximo mas ao mesmo tempo tão distante.

Ghost Love Score: esta seria a cartada final de declaração de amor de Tuomas por Tarja. Mais uma declaração romântica em que ele faz um meio que “ou vai ou racha” em relação aos sentimentos dele pela vocalista.

Curiosamente, foi com este último álbum que o Nightwish se tornou um sucesso mundial e que os fez enriquecerem de vez. Seus singles tocaram muito nas rádios principalmente da Europa e América do Sul, embora a princípio, não houve tanto impacto nos Estados Unidos mas para o qual a banda sentia que estava a um passo de conquistar o país.

Tarja e Cabuli estavam completamente isolados enquanto o restante da banda passou a se incomodar com isso. Agora começaram alguns conflitos de versões de fatos entre o lado da banda e o lado do casal.

Segundo a banda, Tarja cedeu ao argentino todas as decisões que ele tomaria em nome dela. Ou seja, o que ele falasse, independente dela saber o que se passava ou não, seria a decisão que a representaria. Então, a cada show que agendavam, o empresário exigia mais dinheiro, mais benefícios, discordava quanto a qual show eles deveriam fazer ou não e várias questões relacionadas aos bastidores da banda. No início da tour, eles fizeram alguns shows nos Estados Unidos pouco antes da banda estourar mundialmente. De acordo com a banda, eles acreditavam que como o mercado americano é muito mais exigente e difícil de atingir, nos Estados Unidos eles tinham que se assumir ainda como uma banda pequena que estava adentrando aos poucos por lá. Ou seja, aceitarem tocar em casas menores por um cachê mais baixo em troca da exposição que teriam. Ainda segundo eles, após a tour europeia e sul-americana, eles deveriam voltar aos Estados Unidos para se estabelecerem e estourarem de vez por lá. Mas a tour norte-americana foi cancelada porque Tarja e Cabuli não aceitavam o dinheiro mais baixo que receberiam por aqueles shows e preferiam permanecer na Europa aguardando as novas tours para outros países. A banda ficou emputecida porque acreditavam que esta era a oportunidade de finalmente conquistarem o mercado americano. Outro problema foi em um vôo em que Tuomas saiu de seu banco para conversar com o casal, discutiram novamente e o qual Tarja teria declarado que “eu não preciso mais do Nightwish, posso declarar que saí amanhã e nem dar satisfação a você e a ninguém mais”. Isso foi meio que a gota d’água para baterem o martelo quanto a demissão dela após o último show da Finlândia, logo no primeiro dia das férias.

Já a versão do casal é diferente: em outubro de 2004, Tarja e Cabuli chamaram Tuomas em seu quarto de hotel. Lá, o argentino foi bem claro que era para o tecladista desistir desse amor por ela, que eles já haviam se casado e que Tarja nunca sentiu e nem sentirá nada por ele. Tuomas apenas ouviu calado e respondeu dando a entender que ele nunca desistiria do seu amor por ela. Após isso, as declarações dele nas entrevistas em relação à banda mudaram. Agora ele se referia ao Nightwish como “minha banda” e que ninguém é insubstituível. Eles reclamavam que nunca eram comunicados ou ouvidos sobre qualquer ação que a banda iria fazer e que muitas vezes mal sabiam quais eram os planos para o Nightwish nos próximos meses. Cabuli também negava qualquer influência negativa dele sobre a banda ou que exigia mais dinheiro e benefícios à vocalista.

Independente do que for a verdade, o fato é que logo após o festival Live n’ Louder aqui no Brasil, no mesmo mês de outubro, Tarja faria a última apresentação da tour de Once sem saber de nada em Helsinque em um show lotado e que geraria o dvd End of an Era. Após o excelente show, Tuomas entregou pessoalmente uma carta fechada à Tarja, disse apenas para abrir e ler no dia seguinte e estas foram as últimas palavras trocadas entre os dois até os dias de hoje*. Um dia depois, o site oficial publicou a carta e eu, um adolescente ainda de 19 anos que acompanhava a banda vorazmente, participando de fóruns e tudo mais, fiquei incrédulo. Não só eu como todo o mundo metálico. Só se falava disso no final de outubro de 2005. Os fóruns da banda bombavam em discussões sem fim entre aqueles que apoiavam a vocalista e os que apoiavam o restante da banda.

De férias, 2006 foi um ano morno para a banda acalmar os ânimos e a tensão ficava em quem substituiria Tarja naquele concurso que eles promoveram para escolherem a nova vocalista. Somente em maio de 2007 foi anunciado a sueca Anette Olzon como nova integrante, divulgaram o single “Eva” para demonstrar a voz dela e o novo disco sairia em setembro do mesmo ano. Ficava novamente a tensão entre os fãs devido Anette ter um estilo vocal totalmente diferente de Tarja, como seria o novo disco e como ela se sairia cantando o material antigo da banda. Eis que veio Dark Passion Play e aqui Tuomas bota um ponto final em relação aos sentimentos por Tarja e por composições que retratavam a si mesmo.

Dark Passion Play

The Poet and the Pendulum: eu considero esta até hoje, a música mais importante da carreira do Nightwish. Foi nesta letra que Tuomas finalmente revela que é ele mesmo o “Dead Boy”, “poet”, “songwriter”, “beast” e todas as outras referências que repetira em vários discos anteriores. “The Poet and the Pendulum” retrata a morte de Tuomas como o eu-lírico de várias de suas músicas. Dividida em partes, a primeira já é declarada que o autor está “morto” e foi para o limbo. A segunda e terceira partes são as reflexões finais do autor perto da morte sobre tudo aquilo que ele vivenciou nesses últimos anos. Seu amor, seus medos, inseguranças, o quanto ele se odiava, suas mágoas e tudo mais. Ao final da terceira, a própria música declara que ele ainda tinha apenas 3 minutos de vida antes da lâmina o cortar. Ao final da quarta parte, exatamente após 3 minutos, ele finalmente morre e um som de batidas de coração parando são ouvidas, além do som de uma lâmina cortando seu corpo. A quinta parte seria Deus falando com ele no limbo sobre os males que passou e que ao final, ele o amava. Tuomas, musicalmente, estava morto em suas letras. O restante do disco continua tratando de questões relacionadas a esta morte.

Bye Bye Beautiful: esta é a única música em que eles declararam que era realmente para Tarja. Nem precisavam declarar, quando saiu os títulos das músicas todo mundo já sabia sobre o que era. Aqui seria banda se despedindo da vocalista e dando umas “dicas finais” sobre o que possivelmente a espera o mundo lá fora.

Master Passion Greed: também claramente dirigida a Marcelo Cabuli. Aqui são várias ofensas e acusações de ganância, falsidade, hipocrisia e ingratidão. Esta música é tão negativa para Tuomas que ele nunca a tocou ao vivo e nem pensa na possibilidade disso um dia acontecer.

Sahara: aqui seria a banda fazendo o velório do corpo de Tuomas.

For the Heart I Once Had: nesta música, a alma de Tuomas elimina todos os sentimentos que haviam nele sobre Tarja e que o tempo, finalmente, irá matar de vez as cicatrizes do “Dead Boy”. Também declara que o resto do que havia de sua inocência finalmente se foi.

The Islander: a banda finalmente seguindo em frente sem todos aqueles problemas do passado e continuando a sua caminhada para novos horizontes.

7 Days to the Wolves: a missa de sétimo dia da “morte” do autor. Os lobos neste caso seriam a imprensa e os críticos que se resfacelaram na alegria de terem visto a banda se partindo por dentro na época da demissão de Tarja. Então, o “cadáver” de Tuomas era um prato cheio para que os “lobos” pudessem se aproveitar da polêmica.

Meadows of Heaven: finalmente, a última música é a alma de Tuomas chegando ao céu. Ele novamente se transformaria em um garoto feliz e inocente como nos tempos de infância e viveria por toda a eternidade da maneira que sempre quis.

Após este disco, Tuomas nunca mais teria a si mesmo como base em nenhuma das músicas que viria compor até então. Dark Passion Play foi o ponto final da história de si próprio abrindo os seus sentimentos para o mundo. Em termos de eu-lírico, o Dead Boy, Beast, poet e outras facetas dele próprio morreram em 2005. Os três próximos álbuns do Nightwish teriam temas mais gerais do mundo. Imaginaerum tratou de fantasia. Endless Forms Most Beautiful tratou de ciência. Este último Human :II: Nature tratou sobre a natureza. E, aparentemente, assim seguirá enquanto a banda existir.

Finalizo aqui esta série vista pelo lado de Tuomas, mas este assunto ainda não acabou. Tarja em sua carreira solo deu o troco em Tuomas em algumas de suas músicas. Por volta de fevereiro, serão as mágoas da vocalista em relação ao tecladista que abordarei. No mais, boas festas de fim de ano!

*Atualização Agosto/2021: Tuomas recentemente disse que, logo após a notícia do falecimento de seu pai, Tarja o enviou um email lamentando o ocorrido e prestando suas condolências. Tuomas a respondeu agradecendo e desde então, nos últimos meses, eles vem trocando emails esporádicos amigáveis. Como ele mesmo disse, ainda há feridas dessa relação mas que agora as coisas estão melhorando graças a estes breves contatos entre eles.

O AMOR DE TUOMAS POR TARJA NA SMUSICAS DO NIGTHWISH [Parte II]









Antes de começar a análise de algumas faixas do disco Oceanborn [1998] e Wishmaster [2000], é importante contextualizar um pouco em como eram os bastidores da banda em suas tours do período visto que em 1998 é o ano em que a banda passa a viajar primeiramente na Europa e depois na América do Sul e em outros países.

Basicamente, as tours nesse período eram compostas pelos cinco integrantes principais da banda (Tarja Turunen nos vocais, Tuomas Holopainen nos teclados, Emppu Vuorinen nas guitarras, Sami Vänska no baixo e Jukka Nevalainen na bateria), o produtor Tero Kinnunen, o empresário Ewo Pohjola, o técnico de luzes e motorista de ônibus Tommi Stolt, o roadie e vocalista de apoio Tapio Wilska e mais alguns músicos de apoio.

Nenhum dos membros da banda ou da equipe era usuário de drogas recreativas. Porém eles bebiam. E muito. Muito mesmo. Aos níveis de um Mötley Crüe da vida. Até hoje bebem demais. E os principais líderes da farra eram o produtor Tero Kinnunen, o técnico Tommi Stolt e o empresário Ewo, com Tuomas e Jukka acompanhando e encorajando. Os dois primeiros principalmente. Eles são daqueles caras que fazem aquelas brincadeiras e piadas nível quinta série para baixo. Kinnunen então era do nível que fazia aquelas apostas bizarras do tipo beber a própria urina se os caras pagassem o seu aluguel atrasado ou andar pelado no meio do hotel para todo mundo ver. Emppu bebia junto e participava das palhaçadas durante o dia mas de noite botava os fones de ouvido para poder dormir no ônibus e não ouvir as gritarias dos outros. O baixista Sami Vänska se isolava completamente do restante, apenas tinha uma amizade com Ewo e Tapio e, as vezes, os convidava para beber e conversar em algum bar. Tarja nunca foi de participar das festas e farras.



Ainda sobre a vocalista, as tours eram um período complicado para ela. Sua personalidade e seus gostos eram completamente diferentes dos demais. Ela foge bastante daquele estereótipo padrão de mulher europeia, que é independente, arranja e se vira em tudo para si. Ela era mais dependente principalmente em relação ao seu vestuário, objetos pessoais, remédios e outras necessidades femininas visto que como ela mesmo dizia, ela não era nada mais do que uma “caipira do interior que mal saiu de Kitee em grande parte de sua vida”. Além disso, ela tem uma personalidade mais afável, gosta de conversar e, digamos assim, preferia “ter conversas de gente adulta” ao invés das palhaçadas infantis e piadas maliciosas que os outros faziam. Como eles só ficavam sóbrios para os shows, então era difícil ter esse tipo de conversa com aquele monte de bêbados.

Mesmo com o pouco contato e as conversas rasas, têm-se a impressão de que Tuomas nutria fortes sentimentos pela cantora. Como ele não se abria de jeito nenhum, o tecladista se expressava através de suas próprias canções. Veremos o que pude tirar destes dois discos:

Oceaborn

Gethsemane: a música inteira seria o compositor lamentando o seu amor não correspondido por Tarja mas sem a coragem de revelar-lhe diretamente. Basicamente ele implora a Deus que o abençoe com o amor que tanto deseja. Novamente, ele se refere a Tarja como “Beauty” e a ele próprio como “Beast”. O lado “Fera” de Tuomas seria a pessoa que ele transparece ao mundo real: um sujeito fechado e cheio de defeitos, mas que aguarda uma “Bela” para lhe ajudar a melhorar. O próprio compositor diz na biografia principal da banda que a última linha desta canção “Without you, the poetry within me is dead” é algo muito pessoal. Percebe-se aí que Tarja seria a principal força inspiradora para ele continuar compondo.

Passion and the Opera: nesta aqui eu não tenho muita certeza, deixo aberto à especulação. A temática é obviamente sexo e erotismo. Seria ele fantasiando sobre Tarja? Tenho minhas dúvidas, mas há esta possibilidade.

Wishmaster

She is my Sin: nesta música, já dá de se perceber algumas referências à vocalista. É uma música de luxúria, de desejo ardente em ir fazer sexo com a mulher amada. Tuomas disse que a música é “sobre os desejos reprimidos que cada um de nós temos, escondidos além da compreensão”. A linha “for the bride too dear for him” parece o medo de revelar isso diretamente visto que ele a ama demais.

Come Cover Me: pode não parecer, mas muitas músicas do Nightwish são sobre sexo. Esta é mais uma delas, porém, numa via mais romântica. O verso “In the war for the love of you” seria o tecladista tendo consciência que não está conseguindo os sentimentos dela, mas está ainda batalhando para isso.

Dead Boy’s Poem: esta é uma das canções favoritas de Tuomas e uma das mais pessoais sobre si. Segundo ele, a ideia da música era “e se eu soubesse que morreria amanhã, qual a mensagem final que eu gostaria de deixar às pessoas?” A música é basicamente um pedido de desculpas aos seus erros e defeitos, lamúrias e toda a vida em torno da banda que ele criou. Tuomas se chama de “Menino Morto” quando quer demonstrar o seu lado triste e melancólico após a sua perda da inocência juvenil. E aqui um recado bem claro à quem ele ama: “And you, I wish I didn’t feel for you anymore”.

Após a tour europeia promovendo Wishmaster, viria a América Latina e uma reviravolta total na vida de Tuomas, Tarja e do restante da banda.

O empresário argentino Marcelo Cabuli e sua empresa foram os principais responsáveis em trazer a banda para todos os shows na América Latina. Começariam pelo México, aí Panamá e depois desceriam para vários shows no Brasil, Argentina e Chile.



Cabuli a princípio era bem visto pela sua reponsabilidade com os shows e cuidados em relação a banda. Organizou tudo corretamente e a banda estava contente em tocar pela primeira vez em outro continente. Porém, Tarja continuava infeliz e se sentindo sozinha nas tours e ficava doente com frequência devido ao stress da situação.

Logo no México, uma situação horrorosa para Tarja ocorreu: em um show lotado, um fã invade o palco e agarra Tarja falando besteiras em seu ouvido em um claro gesto de assédio sexual. Ela fica em choque e sem saber o que fazer enquanto a banda, apesar de terem visto a situação, continuava tocando normalmente. Ao que parecia 15 segundos intermináveis para Tarja, Cabuli invade o palco e arranca o sujeito a chutes de lá. Aí a banda resolveu parar de tocar e se recolheram ao camarim com a cantora aos prantos. Claro que ela não estava em condições de continuar, mas o restante da banda “unanimemente” decide que devem tocar as últimas três músicas planejadas do setlist. Tarja sentiu uma mistura de tristeza e raiva pela desconsideração ao que ocorreu a ela mas retorna e a apresentação é finalizada.

Enquanto o restante da equipe e da banda segue para mais uma de suas farras, o baixista Sami Vänska procura Marcelo Cabuli e pede para que ele acalme e console a moça. Ele o faz e a cantora fica mais uma vez decepcionada com o descaso da banda com ela.

Após a banda seguir para América do Sul, no último show no Brasil, Tarja contrai uma forte gripe. Cabuli estava na Argentina organizando os shows por lá e alguém do Brasil (presumo que seja o empresário chileno Paulo Baron que cuidava da banda por aqui, mas não tenho certeza) liga para ele para que a levasse a um hospital na Argentina porque Tarja mal conseguia andar de tanta febre. Ela viajou doente e no que eles chegaram, o argentino a levou a um hospital e ficou o tempo todo cuidando dela lá. E a partir dessa consideração de Marcelo por Tarja que nasceu o amor entre os dois. Eles começaram a namorar.

Essa foi a grande tragédia até aquele momento na vida de Tuomas e isso quase levou ao fim da banda. Marcelo passou a cuidar de tudo em relação a Tarja e então ela se isolou ainda mais do restante da banda. Emppu era o único que mantinha um diálogo amigável com os dois. Ewo e Marcelo se odiavam pra valer. E assim, o relacionamento da vocalista com relação ao restante da banda virou mesmo apenas negócios.

Depois de tudo isso, você deve estar se perguntando “mas e Tarja nunca reparou que várias das músicas da banda eram sobre ou para ela?”

Claro que sim. Ela tinha plena consciência disso.

“Mas então ela só continuava na banda por dinheiro?”

Aqui vai uma teoria minha: não creio que fosse pelo dinheiro, ao menos inicialmente. Tarja tinha que se dedicar aos seus estudos de canto clássico desde os anos 90 até concluir por volta de 2003. Somente Tuomas como principal compositor ganhava mais dinheiro enquanto todo o restante ganhava bem menos. Os outros só começariam a faturar mais alto mesmo após o sucesso do disco Once [2004]. Logo, não creio que Tarja perderia muito dinheiro se tivesse saído naquele período entre 1997 e 2000. Nem eles mesmos imaginavam naquele período que seriam uma banda de sucesso mundial.

Apesar de Tarja nunca ter amado Tuomas, acredito que ela tinha esperanças de que finalmente ele “crescesse, amadurecesse e mudasse” e tivesse mais consideração por ela e aí, talvez, ela até pudesse desenvolver e retribuir aos sentimentos dele. Mas ele nunca fez isso. Ele nunca mudou. E isso se percebe claramente no dvd End of Innocence [2003] em que a banda se resume a piadas, bebedeiras, farras e trabalho. Após iniciar o seu relacionamento com Cabuli, aí sim creio que as relações se tornaram apenas dinheiro e negócios.

Na próxima parte, comentarei sobre o quase fim da banda e as letras que envolvem os discos Century Child, Once e Dark Passion Play.

AS MÁGOAS DE TARJA POR TUOMAS NAS MÚSICAS DE SUA CARREIRA SOLOS











Pois então, há pouco mais de 15 anos, Tarja foi demitida da banda e a incógnita ficou em relação ao que ela faria de sua carreira. Iria se tornar uma cantora lírica? Iria integrar outra banda? Iria se focar em sua carreira solo dentro do metal?

Ela optou pela terceira escolha.

Mas e como ela levaria esta sua carreira? Ela nunca havia composto uma melodia que fosse para o Nightwish até aquele momento. Os anos passaram e Tarja obteve um feito que poucos conseguiram no metal que é ter uma carreira solo que a sustentasse e até pagasse mais do que ela recebia quando integrava a banda. Até o momento ela possui cinco discos de metal, dois natalinos e um de ópera. Grande produtividade em tão poucos anos.



Apesar de no início haverem aquelas rixinhas de uns apoiando a banda e outros apoiando a cantora, a verdade é que a imensa maioria dos fãs gostam de ambos. Eu não acompanho tanto Tarja como faço com o Nightwish e acho o primeiro disco dela bem fraco, mas gosto dos seguintes e acho Colours in the Dark [2013] o seu melhor trabalho.

Falando brevemente sobre como a cantora lidou com a situação com o passar dos anos, posso dizer que me surpreendi positivamente. Logo após sua saída, em seu primeiro disco (de heavy metal) lançado, pude notar algumas diferenças grandes de postura da finlandesa. Ela deixou um pouco aquele lado meio “sisudo” que ela demonstrava na banda e passou a agir de maneira muito mais afável tanto com os fãs quanto com os músicos que trabalham com ela e com os produtores de shows. Obviamente, Tarja está muito mais feliz com sua carreira solo. Ao que parece, o ambiente pesado e ruim de isolamento que sentia na banda a deixava mal e não muito contente de lidar com o mundo da música como um todo.





Atualmente, Tarja é considerada uma das cantoras mais simpáticas do metal. Nunca isso era dito nos tempos em que estava na banda. Todo mundo ressalta o quão aberta ela é nas entrevistas, no atendimento aos fãs e mesmo em seus projetos. O clipe de “Railroads” ela montou com imagens de centenas de fãs de todas as partes do mundo cantando ou tocando a música. A meu ver, uma ideia fenomenal.

Mesmo nos shows, ela não renega seu passado com a banda. Ela sempre toca pelo menos uma ou duas músicas do Nightwish para os fãs irem ao delírio. Várias vezes ela escolheu músicas que estão esquecidas há muito tempo ou que mesmo nunca foram tocadas pela banda. Sem contar que ela também dança no palco, faz piadas, brincadeiras, está sempre sorrindo. Enfim, uma artista que faz um show que não há pagante que não saia ainda mais fã da cantora por onde ela passa.

Agora, uma das coisas que mais me impressionou foi que ao longo de seus discos, Tarja começou a soltar umas alfinetadas a Tuomas em suas músicas. Com a influência do próprio tecladista, a finlandesa percebe que falar um tanto mais de si e do que ela viveu são ideias muito boas para se transformarem em música. Ela não fez muitas músicas falando de Tuomas, mas na maioria dos álbuns há sim pelo menos uma ou duas faixas com algumas alfinetadas e deboches em relação a sua vida na banda e sua demissão. Segue então aquilo que eu interpreto como músicas de Tarja falando sobre Tuomas ou coisas relacionadas à banda.

I Walk Alone: está claro que é um recado a Tuomas e a banda que ela seguirá em frente. Uma resposta clara a sua demissão. Nos primeiros versos em que ela coloca “I left a thorn under your bed” seria como se fosse uma espécie de “vingança” ao demonstrar que mesmo que a dispensassem, ela ainda é parte importante da história da banda que nunca se apagará.

Boy and the Ghost: no disco My Winter Storm [2007], Tarja criou também alguns personagens e entre eles está o “Dead Boy” que sabemos que representa Tuomas. Há uma pequena estrofe no disco que faz referência a “Sacrament of Wilderness” do Oceanborn [1998]. E nessa parte, Tarja sentiu-se traída por terem descumprido o “juramento” que eles fizeram nesta música que podemos interpretar que todos os membros fariam do Nightwish uma banda grande (lembrando que a ideia da banda surgiu em um acampamento). A finlandesa aqui relembra o “Dead Boy” do “juramento que fizeram”.

Dark Star: essa música é cheia de veneno. Tarja se refere a Tuomas como uma “estrela negra”, o sujeito que se acha o tal, que se considera o grande líder mas que na verdade é somente um escravo do show business. Também o chama de vazio e insistindo em um amor que nunca terá por parte dela.

Never Enough: interpreto que Tarja aqui questiona que ela deu tudo de si para a banda e Tuomas nunca estava satisfeito com suas performances. E isso de fato ocorreu, principalmente na época de Oceanborn. No próprio livro do Nightwish eles mencionam que eles levaram Tarja ao limite para gravar seus vocais em que chegou um momento em que ela caía em choro por nunca estarem bons. Tanto é que Tarja nunca conseguiu repetir certas performances vocais do álbum nos shows.

Diva: aqui ela tira um sarro da situação quando na carta de demissão a chamaram de diva. Na letra, ela ri da situação, deixa as coisas para lá, dá umas alfinetadas que ela é a “diva” e dá a entender que a verdadeira “diva” da banda é o próprio Tuomas. Exemplos são uma passagem de diálogos perguntando sobre dinheiro, que sem bebida não tem show, que nunca tem certeza de nada, etc. Nos shows, ela também tira um barato colocando uma coroa como uma “diva”. O instrumental meio circense também tira sarro do ambiente interno da banda que se resumia a piadas bestas e bebedeiras. Um verdadeiro “circo”.

No último disco In the Raw [2019], não identifiquei mais nenhuma referência a Tuomas e ao Nightwish. Até acho bom ou seriam provocações baratas já que a banda nunca mais se pronunciou sobre Tarja. As respostas e alfinetadas ficaram no “ponto certo”. Mais do que isso já seria um exagero a meu ver.

Finalizo esta série de artigos sobre Tarja e o Nightwish com esse bônus. O Nightwish sofreu o recente revés com a saída de Marco Hietala. Espero que a banda encontre um novo baixista/vocalista para que entrem nos eixos e torço para que Marco passe bem nos seus projetos futuros. Já em relação a Tarja, ela vai muito bem na sua carreira solo e aproveitou o ano passado para interagir mais com seus fãs através de lives e postagens.



Yes e Jethro Tull: Os Dinossauros Estão De Volta?





Yes e Jethro Tull: Os Dinossauros Estão De Volta?





Por  Melina born
Este artigo especial focaliza em duas das maiores bandas do rock dos anos 70, que passaram pela sua dose de problemas no século XXI e ressurgiram recentemente: Jethro Tull e Yes. A primeira banda passou mais de vinte anos sem lançar nenhum álbum original, a segunda perdeu o último membro fundador da sua formação em 2015, com a morte de Chris Squire. Ambas lançaram dois álbuns de inéditas com pouco tempo entre eles, fazendo a gente pensar que as bandas estão efetivamente de volta (e não somente fazendo shows), e, como quando a esmola é muita o santo desconfia, vai-se aqui analisar essa produção recente.



JETHRO TULL: Existe vida sem Martin Barre?
O caso do Jethro Tull é curioso. A banda pertence a Ian Anderson, ninguém jamais questionou, mas entre 1969 e 2011 contou com o excelente guitarrista Martin Barre. Anderson, de acordo com Barre, quis encerrar o Jethro Tull, e lançou os seus álbuns seguintes com seu próprio nome: Thick as a Brick 2 e Homo Erraticus. Mas em 2017 o flautista anunciou uma turnê de 50º aniversário para o Jethro Tull, e como integrantes da banda, os membros de sua banda solo: Florian Opahle na guitarra, John O’Hara nos teclados, David Goodier no baixo e Scott Hammond na bateria. Também anunciou um novo álbum de material inédito. A turnê veio e terminou, e o novo disco não saiu.

Em 28 de janeiro de 2022, The Zealot Gene saiu com Anderson sozinho na capa e o nome Jethro Tull. Gravado ao longo de um período de quatro anos, o álbum registra uma banda que já não existia quando do lançamento, pois Florian Opahle tinha anunciado que iria sair para se dedicar à produção e ao trabalho em estúdio em 2020. Seu substituto, Joe Parrish-James, participa em uma música, “In Brief Visitation”, e outras quatro músicas do disco, que Ian Anderson decidiu lançar como estavam por causa da dificuldade de reunir os músicos por causa da pandemia, são gravações solo do vocalista.

Detalhes para lá, o que se tem em The Zealot Gene é um bom disco do Jethro Tull, aberto pela excelente “Mrs. Tibbets”, dedicada à sra. Enola Gay, mãe do coronel Paul Tibbets, que comandou o bombardeiro – batizado “Enola Gay – que lançou a primeira bomba atômica em Hiroshima. Arrisco dizer que é a melhor música da banda desde os anos 80, com um ritmo contagiante, uma bela melodia, bom arranjo e uma letra excelente, mas infelizmente nenhuma das posteriores é tão marcante; há boas músicas no disco, algumas mais rock, como “Shoshana Sleeping” e a faixa-título, outras mais elaboradas, como “Mine is the Mountain”, e várias com influência mais folk, como “Sad City Sisters” (com belo trabalho de O’Hara no acordeão), mas nenhuma se compara à abertura. Mas a guitarra de Opahle não é tão forte quanto a do velho Martin Barre, e em “Barren Beth, Wild Desert John” e “The Betrayal of Joshua Kynde”, este fez muita falta. “Three Loves, Three” faz menção ao livro “Os Quatro Amores”, de C. S. Lewis, e é provavelmente a melhor das músicas solo de Ian Anderson no disco, com uma bela melodia e um arranjo mais elaborado. “Fisherman of Ephesus” traz algumas memórias do Jethro Tull dos anos 70, mas, mais uma vez, Barre faz muita falta.



Um aspecto interessante é o número de referências religiosas na maioria das músicas. No belo livreto da edição Deluxe, Anderson chega a incluir uma lista de versículos da Bíblia que o inspiraram para compor as músicas; além disso, há várias fotos de igrejas e objetos religiosos. Essa edição é acompanhada por um segundo CD com as demos para as doze músicas do álbum final, mais “She Smells Sweet”, que não chegou a ser completada. Um DVD ou Blu-Ray completa a edição, trazendo a mixagem em Surround de The Zealot Gene, mas não as demos. Uma experiência que pessoalmente fiz e achei interessante: ouvi “Aqualung” e este disco com as letras nas mãos, e é interessante ver a mudança de posição de Ian Anderson sobre a religião, pois, se em “Aqualung” o ódio à religião é nítido, aqui se está diante de uma declaração de respeito. O livreto traz, inclusive, os acordes de cada música.

Em novembro de 2022, anunciou-se que um novo álbum do Jethro Tull, RökFlöte, seria lançado em breve (e de fato o disco saiu em abril deste ano). Baseado na mitologia nórdica, e inspirada pelo fato de que Anderson mapeou seu DNA para descobrir que tinha ancestrais vikings, RökFlöte traz a formação atual do grupo (Anderson, O’Hara, Goodier, Hammond e Parrish- James) e conseguiu uma boa colocação na parada britânica, atingindo o 4º lugar (The Zealot Gene foi 9º na Inglaterra). A atriz e cantora islandesa Unnur Birna participa do disco em duas faixas, declamando textos sobre a base musical da banda, incluindo a abertura, “Voluspo”, e o encerramento com “Ithavoll”. Pode-se destacar diversas músicas no álbum. “Ginungagap” traz generosas e bem-vindas doses de peso à música do Tull, ressuscitando a dinâmica de guitarras distorcidas e bateria pesada com a suavidade da flauta. O clima épico de “Hammer on Hammer” cativa, mas a música se beneficiaria de um acompanhamento mais forte – os músicos atuais são bons, mas fico imaginando essa música com Barre, Clive Bunker e Dave Pegg, por exemplo. “Wolf Unchained”, bem trabalhada e variada, é outra que chama a atenção, destacando o bom trabalho de guitarras. O acordeão de John O’Hara dá as caras em “Trickster (And the Mistletoe)”, que em alguns momentos me lembrou do clássico “The Whistler”. A bela “Cornucopia” é provavelmente a minha favorita, com sua melodia que remete aos grandes momentos do Jethro Tull no passado. “Ithavoll” fecha o ciclo trazendo de volta Unnar Birna e sua voz expressiva.



Particularmente, acho RökFlöte um álbum menos interessante do que The Zealot Gene, mas não é, de modo algum, um disco ruim. Pelo contrário, o fato de ser um álbum conceitual, em que as letras foram escritas seguindo um mesmo padrão, cada uma com três estrofes narrando a lenda ou mito que a inspirou e mais duas trazendo essa história para os tempos atuais, indica que Anderson não se aquietou e ainda tem lenha para queimar. Independentemente disso, é um esforço mais coletivo do que o disco anterior, e Joe Parrish-James se mostra um guitarrista bem mais presente do que seu antecessor Florian Opahle. A edição Deluxe traz as demos das músicas no CD 2, e o Blu-Ray, a mixagem em Surround, bem como uma versão alternativa para “Voluspo” e uma entrevista com Ian Anderson. No todo, os dois discos recentes do Jethro Tull mostram que a banda ainda consegue brindar seus fãs com boa música. Está à altura do passado? Não, ninguém deve esperar esses álbuns no Top 10 da banda, mas, convenhamos, nenhuma banda com 50 anos de carreira lançará seu melhor disco nesses tempos que vivemos…

YES OR NO? STEVE HOWE SE RECUSA A DEIXAR A BANDA MORRER



Em 2001, o Yes lançou Magnification, último álbum com Jon Anderson. Quando este, por problemas de saúde, não pôde participar de uma turnê da banda, Chris Squire, Steve Howe e Alan White simplesmente decidiram seguir em frente, contratando Benoit David para o vocal e Oliver Wakeman para os teclados. No álbum que lançaram em 2011, a banda retrabalhou um épico dos tempos de Drama que ficara inédito, Fly from Here, o que trouxe Geoff Downes de volta para o grupo, e resultou em um bom disco. Três anos depois, saiu o questionável Heaven & Earth, com Jon Davidson nos vocais acompanhando Squire, Howe, White e Downes. Essa formação também rendeu dois álbuns ao vivo, ambos intitulados Like it is, que revisitam álbuns clássicos do grupo.

Com a morte de Chris Squire no ano seguinte, parecia o fim da banda. Steve Howe, entretanto, tinha outros planos. De acordo com ele, Squire queria que o grupo continuasse, e sugeriu seu velho amigo e parceiro de composições Billy Sherwood (que participara do Yes nos anos 90, gravando Open Your Eyes e The Ladder) para o baixo. E, verdade seja dita, Sherwood não apenas desenvolveu um estilo que emula bem o mestre, como ainda por cima canta de maneira muito semelhante a Squire. O Yes continuou se apresentando ao vivo, lançando três álbuns ao (Topographic Drama, 50 Live e The Royal Affair Tour, provando que o grupo executava bem as composições antigas e honrava o passado) e em outubro de 2021 saiu The Quest, com uma formação composta por Howe, White, Downes, Davidson, Sherwood e Jay Schellen, que acompanhava a banda ao vivo devido aos problemas de saúde do veterano Alan White. Esse primeiro fruto do Yes liderado por Steve Howe (que o produziu) é muito superior ao disco anterior (o que não era difícil, convenhamos), e começa com a boa “The Ice Bridge”, parceria entre Jon Davidson e Geoff Downes, com créditos também para Francis Monkman, do Curved Air – Downes aproveitou uma velha demo que tinha tanto ideias suas quanto uma gravação de Monkman.

O sintetizador da abertura remete um pouco a “Touch and Go”, do Emerson, Lake & Powell, mas não se trata de plágio e nem compromete a música, que é favorecida pelas belas guitarras de Howe. A música seguinte, “Dare to Know”, é um AOR relaxado e tranquilo, que traz acompanhamento da orquestra do FAME Studios, localizado na Macedônia do Norte, e destaca o dueto entre Howe e Davidson. A música é boa mas fica muito aquém do que se espera do Yes – até porque eles já fizeram coisa muito superior nessa área. “Minus the Man”, que vem a seguir, não melhora muito e mantém o álbum numa vibe suave, desta vez com Billy Sherwood acompanhando Jon no vocal. “Leave Well Alone” é aberta por Howe, e seguida por um riff razoavelmente pesado para os padrões do Yes; com mais de 8 minutos de duração, a música é bem variada e faz a gente lembrar das glórias do passado. O que lhe falta é uma presença mais incisiva dos teclados (aliás, o desempenho de Downes está abaixo de sua capacidade), mas no todo é uma das melhores do álbum.



“The Western Edge” é outro destaque, com belo trabalho de vocais e as guitarras etéreas de Howe se destacando sobre a base orquestrada – mas mais uma vez sente-se falta de teclados mais proeminentes (o sintetizador de Downes ficou muito baixo na mixagem). Já a baladinha de Jon Davidson, “Future Memories”, é prejudicada pelo excesso de açúcar no arranjo, ainda que apresente mais um bom desempenho de Steve Howe. Felizmente, o álbum volta a ganhar força com “Music to my Ears” – outra balada, mas bem mais interessante, com Downes no piano e um dueto bonito entre Davidson e Howe; durante o refrão, a música tem um andamento semelhante às do Yes dos anos 80, com Trevor Rabin, mas o arranjo remete à década anterior. “A Living Island” encerra o disco normal, mas não se destaca, com melodia pouco atraente e sem grande variação no arranjo. O álbum foi lançado com um CD bônus de três músicas, a razoável “Sister Sleeping Soul”, a fraca “Mystery Tour”, cuja letra alude aos Beatles (e é a única coisa interessante da música) e “Damaged World”, que é a melhor das três, e poderia ter substituído “Future Memories” no disco principal.



Infelizmente, em maio de 2022 Alan White veio a falecer. Mais uma vez, Steve Howe se recusou a pôr fim no Yes, e a banda efetivou Jay Schellen na bateria. E outra vez com produção do guitarrista, saiu em maio de 2023 Mirror to the Sky. O 23º álbum de estúdio creditado ao Yes mostrou-se mais ambicioso do que os anteriores, com músicas mais longas (a faixa-título dura quase 14 minutos), e mais uma vez tem-se a participação da FAME Studios Orchestra. O álbum começa com a boa “Cut from the Stars”, parceria entre Jon Davidson e Billy Sherwood; a bela linha de baixo deste é digna de quem ocupa o posto de Chris Squire. Os nove minutos de “All Connected” são introduzidos pela steel guitar de Howe (um dos craques desse instrumento no rock), e a música tem suficiente variação para sustentar essa duração, com os vocais de Sherwood soando muito parecidos com os de Chris Squire. É um dos destaques não apenas do álbum, mas de toda a discografia do Yes sem Jon Anderson.

“Luminosity”, na sequência, tem uma introdução um tanto pomposa, diferente do resto da música, mas o que vem a seguir não decepciona e novamente tem-se uma composição de mais de nove minutos que consegue prender a atenção do ouvinte. Aqui há um pouco mais de presença dos teclados de Downes, que na maior parte do disco está muito discreto – e ele faz falta. Mas o final da música, com Howe solando acompanhado da orquestra, é marcante. Howe, aliás, é o astro de “Living Out their Dream”, com múltiplas guitarras e um ótimo solo – mas cujo final é um tanto abrupto, como se a banda não soubesse como encerrar a música. E a seguir, a faixa-título, música mais ambiciosa do disco, com longa introdução instrumental, seguida por um trecho acústico e orquestrado, com Howe, Davidson e Sherwood harmonizando nos vocais. A música é bem trabalhada, com um interlúdio instrumental que destaca a orquestra, e Howe mais uma vez é destaque absoluto, com um excelente trabalho de guitarras. Entretanto, mais uma vez sente-se a falta de maior destaque para os teclados, com Downes soando muito tímido. O trecho orquestral perto do final é muito bonito, tornando Mirror to the Sky uma das melhores músicas do Yes no século XXI. “Circles of Time” encerra bem o álbum, uma bela balada com bom desempenho de Davidson.



Como em The Quest, há um CD bônus de três músicas, todas de autoria de Steve Howe. “Unknown Place” poderia ter feito parte do álbum principal sem problemas, com mais de oito minutos de duração e belo trabalho de vocais, numa música em que Jay Schellen se mostra um substituto à altura de Alan White. Downes aparece um pouco mais no órgão, e Howe dá seu show no violão. “One Second is Enough” e “Magic Potion” completam o segundo CD; a primeira também traz Downes com um pouco mais de destaque, e embora não comprometa, não chega a se destacar. Já “Magic Potion” é mais animada, outra vez colocando o destaque nas ótimas guitarras de Steve Howe. No todo, o álbum se mostra um pouco superior ao seu anterior, em especial por conta de “Mirror to the Sky”, uma música que faz o fã se lembrar dos motivos pelos quais aprendeu a gostar do Yes. Como atestam os vários álbuns ao vivo, o Yes atual consegue honrar seu passado, tocando muito bem os clássicos, e até arriscando algumas novidades. Em estúdio, a banda sofre a falta de Jon Anderson, principal compositor da fase clássica, mas não chega a embaraçar os fãs ou os ex-integrantes com discos ruins (à exceção de Heaven & Earth, possivelmente o pior álbum lançado sob o nome do grupo); Steve Howe confessou que estava inseguro em gravar novos discos após a morte de Chris Squire, mas The Quest saiu-se melhor do que ele esperava – e Mirror to the Sky o agradou ainda mais (com o plus de serem bem-sucedidos comercialmente, pois ambos alcançaram o 22º lugar na Billboard). Os dois álbuns mais recentes, como os do Jethro Tull, não são bons o bastante para aparecer entre os favoritos dos fãs, mas são discos que trazem bons momentos em quantidade suficiente para satisfazer quem gosta do Yes.



YES E JETHRO TULL AINDA SÃO RELEVANTES?
A produção atual dessas duas grandes bandas, certamente, não se compara com a clássica, mas não chega a fazer a gente se perguntar por que eles insistem em continuar. Em ambos os casos, cada uma lançou dois álbuns que agregam positivamente ao seu legado, ainda que muito provavelmente as músicas não venham a sobreviver nos setlists após o encerramento das respectivas turnês. Além disso, “Mrs. Tibbets”, no caso do Jethro Tull, e “Mirror to the Sky”, no do Yes, são músicas surpreendentemente boas para bandas tão veteranas, e ajudam a justificar o lançamento de novos discos. É verdade que ninguém vai tirar Close to the Edge ou Aqualung para colocar qualquer um dos quatro discos recentes, mas pelo menos não são um Under Wraps ou um Big Generator. Ian Anderson e Steve Howe não deixaram suas bandas morrerem, mesmo que falte um Martin Barre para um e um Jon Anderson para o outro, mas não estão envergonhando seu passado ao lançarem novas músicas. Ian Anderson já declarou que não sabe por quanto tempo ainda conseguirá gravar ou fazer shows, mas não dá sinais de quem vá parar. E embora o Yes tenha adiado sua turnê de 2023, tudo leva a crer que a banda ainda irá circular por mais um tempo. Mas se eles encerrarem suas carreiras agora, pelo menos o farão com trabalhos melhores do que J-Tull Dot Com ou Heaven & Earth.


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Dieth “To Hell And Back”





“To Hell And Back” é o álbum de estreia da banda Dieth, uma nova banda de thrash/death metal formada pelo baixista David Ellefson, o guitarrista e vocalista Guilherme Miranda e o baterista Michał Łysejko. Esses três músicos renomados formam uma nova força musical, fundada na Polônia. O primeiro single “In The Hall Of The Hanging Serpents” foi lançado em meados do ano passado e já tivemos uma amostra do que teríamos pela frente, uma otima amostra.


O título do álbum descreve o processo individual pelo qual os membros da banda passaram. Eles foram para o inferno e voltaram. Para Ellefson, esse foi o desastre que levou à sua saída forçada do Megadeth. Michał Łysejko deixou o Decapitated depois que a acusação de estupro coletivo foi retirada para toda a banda. A batalha contra o câncer e a morte do grande amigo Lars-Göran Petrov, vocalista do Entombed AD, tem cobrado seu preço de Guilherme Miranda. Às vezes é preciso morrer por dentro para renascer. Todos esses problemas deram força para o trio formar a banda Dieth, como diz o velho ditado: “A males que vem para o bem”.

O primeiro single “In The Hall Of The Hanging Serpents” está no álbum. A faixa-título apareceu como o segundo single e é igualmente descolada e cativante. A transição da introdução limpa para a violência brutal é bastante abrupta e não muito agradável. A faixa pesada deixa claro que especialmente David Ellefson ultrapassou consideravelmente seus limites musicais. Quando “Don’t Get Mad … Get Even!” foi lançado, mostrou o lado thrash do trio. A melhor vingança é ser melhor do que antes. Esta faixa também tem um significado mais profundo e, de fato, se aplica a todas as músicas.



O que você pode esperar é muito mais do que apenas as faixas pré-lançadas. Não estou falando tanto de grooves esmagadores como em “Wicked Disdain” e “The Mark Of Cain” , ou o thrasher “Dead Inside”. Não, os números mais marcantes são realmente surpreendentes. “Free Us All”, com vocais limpos e grunhidos brutais, uma atmosfera psicodélica e um baixo sinuoso e jazzístico, é uma música que cresce a cada escuta. “Heavy Is The Crown” atinge imediatamente a nota certa com notas de blues e stoner.

Mais uma vez, a combinação de vocais limpos e grunhidos é o grande trunfo. Imediatamente depois vem a tão esperada estreia de David Ellefson como vocalista, em “Walk With Me Forever”, que é uma música séria sobre a perda de um ente querido e sua memória fornecendo forças para continuar. Como é o desempenho dele? É realmente muito bom. Dave certamente tem uma boa voz e é bom que ele finalmente tenha a saída criativa para utilizá-la. A música em si é diferente do estilo musical do resto do álbum do Dieth, mas funciona bem e ajuda a adicionar uma diversidade bem-vinda. Lembrando que Dave também divide os vocais com Guilherme em “Heavy is the Crown” e faz os backing vocals em “Don’t Get Mad… Get Even”, “To Hell and Back” e “Mark of Cain”.



Posso dizer que “To Hell And Back” é um álbum interessante de se ouvir. Riffs poderosos, grooves esmagadores e letras raivosas predominam e a produção própria também é excelente. David Ellefson, Michał Łysejko e Guilherme Miranda deixaram para trás os estereótipos de seus gêneros anteriores e aproveitaram sua própria dor e conflito para entregar um álbum de estreia forte. Você só pode admirar isso. Ficamos na torcida, para que essa banda lance outros trabalhos na sequência.



Músicas
1- To Hell And Back
2- Don’t Get Mad … Get Even!
3- Wicked Disdain
4- Free Us All
5- Heavy Is The Crown
6- Walk With Me Forever
7- Dead Inside
8- The Mark Of Cain
9- In The Hall Of The Hanging Serpents
10- Severance

KIKO LOUREIRO FORA DO MEGADEATH?




Na tarde desta terça-feira (05), o Megadeth, através de seu líder Dave Mustaine, comunicou em suas redes o aviso de Kiko Loureiro, que precisará dar um tempo da atual turnê de divulgação do álbum The Sick, The Dying… And The Dead! por questões familiares que, ao que tudo indica, demandam urgência.

Disse Mustaine na postagem:

“Drogies! Kiko teve algo acontecendo em sua vida familiar que o obriga a perder a próxima etapa da nossa “Crush The World Tour”. Vou deixar ele explicar…

“Kiko por aqui! Nosso novo disco, “The Sick, The Dying… And The Dead”, e nossa “Crash the World Tour”, têm sido ótimos. As posições nas paradas mundiais foram as melhores até agora! Queremos realmente agradecer por isso.

Tenho algo que é difícil de compartilhar, mas gostamos sempre de mantê-los informados com a verdade. Tenho que deixar a turnê por enquanto, para estar em casa com meus filhos, e ajudá-los a enfrentar os difíceis desafios que surgem de nós, sendo “pais que trabalham fora de casa”.

Encontrei um guitarrista, Teemu Mäntysaari, para me substituir durante o outono, e acho que vocês ficarão muito felizes. Ele é um guitarrista incrível, fantástico. Eu compartilhei isso com meu parceiro, Dave Mustaine, e sem nenhuma surpresa, ele disse: ‘Vá, vá ficar lá com sua família e nos mantenha informados!”

Aos meus companheiros de banda e a todos os nossos fãs ao redor do mundo, até breve, de volta à Killing Road“.

Não cancelaremos a turnê e apresentaremos Teemu a vocês no dia 6 de setembro em Albuquerque, Novo México, na Revel Arena. Pedimos seu apoio e compreensão neste momento” – DAVE MUSTAINE.






De outro lado, o guitarrista substituto, Teemu Mäntysaari, comentou:

“Estou realmente animado por tocar com o Megadeth em sua turnê norte-americana que começa amanhã, 6 de setembro! Aprender as músicas tem sido bastante divertido e eu estou feliz em sair e detonar com a banda!”.





O finlandês Teemu Mäntysaari é um guitarrista e professor de 36 anos de idade. Desde 2004, ele toca com a banda de death metal melódico Wintersun. Teemu também tem trabalhos com as bandas Imperanon, Induction e Smackbound.O finlandês Teemu Mäntysaari fará seu primeiro show com o Megadeth nesta quarta-feira (06)



CRYPTOPSY As Gomorrah Burns’



Os reis do death metal técnico canadense CRYPTOPSY anunciam seu retorno com ‘As Gomorrah Burns’, seu primeiro álbum completo em mais de uma década, com lançamento previsto para 8 de setembro pela Nuclear Blast Records. O inovador quarteto de metal extremo surge renovado e vital como sempre em seu massivamente antecipado novo álbum que continua seu pioneiro caminho pela exploração sonora com composições excepcionalmente complexas resultando em um de seus álbuns mais complexos até agora.

O vocalista Matt McGachy comentou o novo álbum:
“Estou animado para finalmente revelar ‘As Gomorrah Burns’. É um álbum no qual temos trabalhado nos últimos cinco anos. Um esforço meticuloso do qual nos orgulhamos muito. É a mistura perfeita da velha escola do Cryptopsy com algumas reviravoltas modernas. Nós nos inclinamos fortemente para os grooves e deixamos alguns dos riffs respirarem um pouco mais do que nos últimos lançamentos. Estou muito feliz com a nova era do Cryptopsy”

Hoje, CRYPTOPSY lança o primeiro single do álbum, ‘In Abeyance’, e o vídeoclipe que o acompanha foi dirigido por Chris Kells (THE AGONIST, BENEATH THE MASSACRE).

McGachy acrescenta sobre a nova faixa:
“‘In Abeyance’ é conceitualmente sobre se sentir isolado ao ser emergido em um novo ambiente. A busca por um sentimento de pertencimento enquanto lamenta uma vida anterior. Musicalmente, é um tapa na cara. É uma faixa que parece ser direta, mas permanece ultra complexa.”

Faça a pré-venda de ‘As Gomorrah Burns’ e ouça “In Abeyance” aqui: https://cryptopsy.bfan.link/in-abeyance.ema

Tracklist ‘As Gomorrah Burns’:Lascivious Undivine
In Abeyance
Godless Deceiver
Ill Ender
Flayed The Swine
The Righteous Lost
Obeisant
Praise The Filth



Sobre CRYPTOPSY:

O gigante do death metal CRYPTOPSY retorna para esmurrar nossos sentidos coletivos novamente com seu novo álbum, As Gomorrah Burns. O primeiro deles pela gravadora Nuclear Blast, o quarteto de Montreal – apresentando o membro fundador/baterista Flo Mounier, o guitarrista Christian Donaldson, o vocalista Matt McGachy e o baixista Olivier “Oli” Pinard – continuam avançando no mercado musical com seu típico som extremo e celebram já 30 anos de história como uma das bandas mais renomadas em seu estilo. As explosões impiedosas de ‘Lascivious Undivine’ e ‘Flayed the Swine’ oferecem um CRYPTOPSY em sua forma mais intensa e maníaca, enquanto ‘In Abeyance’ e ‘The Righteous Lost’ abraçam um lado mais selvagem. ‘As Gomorrah Burns’ ressalta a alma do álbum favorito dos fãs – o intitulado None So Vile (1996) como também o meticuloso tecnicismo de And Then You’ll Beg (2000) com uma vibração notavelmente sinistra.

Formado em 1992, o CRYPTOPSY lançou oito álbuns de estúdio – contando com o As Gomorrah Burns – até o momento. Fora do padrão, a banda que é da cidade de Québec estabeleceu novos padrões para o death metal com seu ataque sem compromisso e musicalidade de um nível completamente novo. O álbum de estreia, Blasphemy Made Flesh, chocou todos que o ouviram, pois os sucessores None So Vile, Whisper Supremacy (1998) e Once Was Not (2005) posicionaram os canadenses como predadores de ponta. Ao longo de sua carreira histórica, o grupo embarcou em turnês de alto nível, como a turnê inaugural Death Across America em 1998, a Summer Slaughter Tour em 2008 e a turnê Devastation on the Nation em 2017. A banda já completou 1.000 shows em 47 países. O lançamento de As Gomorrah Burns pela Nuclear Blast reposiciona o CRYPTOPSY em seu domínio dentro de um estilo em que são mestres supremos – o death metal.

As Gomorrah Burns não é apenas a continuação dos EPs The Book of Suffering – Tome I (2015) e The Book of Suffering – Tome II (2018). É um animal selvagem completamente diferente. Elaboradas ao longo de dois anos durante a pandemia, as sessões iniciais aconteceram em uma cabana nas florestas de Quebec. McGachy chama o cenário de terror de “surreal”, mas, como em tudo relacionado com o CRYPTOPSY, o processo de composição foi como esperado bem árduo. Donaldson foi o principal motivador por trás de As Gomorrah Burns. O guitarrista e produtor serviu como capataz e advogado, extraindo de seus companheiros de banda que no caso são McGachy, Mounier e Pinard tudo o que ele poderia retirar. Se CRYPTOPSY era formidável antes de As Gomorrah Burns, eles são absolutamente monstruosos agora.

Conceitualmente, As Gomorrah Burns coloca a história bíblica de Sodoma e Gomorra contra a Internet moderna. A ideia de McGachy era mostrar como é o local de nascimento da invenção e uma fossa de exploração. As histórias são baseadas em incidentes da vida real – perseguidores online, cultos, desinformação, isolamento e intimidação – mas todas situadas em um ambiente tortuoso para aumentar sua potência. CRYPTOPSY contratou o artista italiano Paolo Girardi (POWER TRIP, TEMPLE OF VOID) para complementar os temas líricos do velho mundo. Se os mestres renascentistas Hieronymus Bosch e El Greco fossem lançados na mente moderna de McGachy, a impressionante capa de As Gomorrah Burns seria o resultado.

Tal como acontece com The Unspoken King (2008) e o autointitulado (2012), CRYPTOPSY recrutou seu colega de banda Donaldson para dirigir a produção, mixagem e masterização de As Gomorrah Burns. Dom Grimard, famoso por Ion Dissonance, também entrou na produção. McGachy diz que o tempo no estúdio demorou muito mais do que o previsto, mas com a direção de Donaldson e todos finalmente na mesma sala novamente após a pandemia, CRYPTOPSY foi capaz de capturar vigor (e velocidade) recém-descoberta em As Gomorrah Burns. Faixas como ‘Godless Deceiver’, ‘Ill Ender’ e ‘Praise the Filth’ demonstram a maestria do death metal de Donaldson.

Agressivo ao extremo, mas atencioso em sua totalidade, As Gomorrah Burns – com canções como ‘In Abeyance’, ‘Flayed the Swine’ e ‘Lascivious Undivine’ – perfura a normalidade completa e implacavelmente. Este é um death metal sem limites, do tipo que nosso mundo belicoso precisava e que somente o CRYPTOPSY poderia oferecer.

“Estamos de volta”, diz McGachy. “Quero que nossos fãs saibam que somos mais do que uma banda com um legado. Sim, tivemos muitos álbuns favoritos e cultuados – como None So Vile – mas estamos criando música extrema moderna e relevante 30 anos depois. Estamos muito orgulhosos de As Gomorrah Burns e mal podemos esperar para que você ouça!”