Conhecida pelo som feroz e rápido de clássicos como “Balls to the Wall”, o Accept de hoje conta apenas com o guitarrista Wolf Hoffman como membro original, mas o DNA do som segue presente nas composições.
Vocês fizeram uma turnê pela Europa recentemente, certo?
Wolf Hoffman: Isso mesmo. Passamos dois meses em turnê pela Europa e foi um sucesso fantástico. Foram 30 shows e quase todos esgotados, muito cheios e foi incrível.
O novo álbum está muito bom, gosto muito quando as bandas clássicas mantém a agressividade e personalidade em novos lançamentos. Como vocês mantêm essa energia no estúdio?
Acho que acontece automaticamente porque amamos o que fazemos e acontece. Quero dizer, se é o mesmo que subir no palco e há uma certa energia que acontece quando você começa a tocar e consegue aquela vibração de energia do público, então isso te anima. No estúdio, você quase tem isso na sua mente de um jeito estranho. Na minha mente, já estou no palco, consigo visualizar os fãs. [Me pergunto], ‘Isso vai funcionar bem ao vivo?’ Quase consigo ver a plateia pulando na minha frente, não é algo isolado de estar em estúdio ou não, você ainda tem essa conexão na mente porque quer tocar essas músicas no palco um dia.
Mas conforme os anos passam, as bandas não conseguem tocar tudo que já lançaram… Como você equilibra o que o público quer e suas favoritas pessoais ao criar uma setlist?
Vou te contar um segredo. Eu realmente não me importo com as minhas favoritas ou a preferência de mais ninguém na banda. Só me importo com o público. Se a plateia gosta de uma música, é essa que vamos tocar. Não estou em turnê para agradar meu ego, estou na estrada para agradar os fãs. Se eles estão felizes, vão nos fazer felizes, é essa relação de Yin Yang, que vai e volta. Basicamente, escolho as músicas que causam as melhores reações nos fãs e não necessariamente algo que eu queira tocar, quem quer ouvir isso? Eu não!
Sim, isso é incrível. Bom, falando sobre o disco, gosto de como as letras discutem temas atuais da sociedade de forma interessante, como em “No One’s Master”, por exemplo. Ao mesmo tempo, você já falou em entrevistas sobre como todos na banda possuem diferentes visões e evitam ser políticos demais. Como isso funciona?
WH: Funciona muito bem porque simplesmente não falamos sobre a política atual, especialmente na América, onde eu nosso cantor, Mark, moramos. É quase uma regra não escrita. Temos visões de mundo diferentes. Sabe, eu venho da Alemanha, da Europa, onde as coisas são um pouco mais para o lado social, tenho a visão de que estamos todos no mesmo barco e dependemos uns dos outros. Mas na América também há essa visão muito oposta de cada um por si. E o público americano em geral está muito dividido, essa é uma tendência infeliz. Parece não haver mais meio termo, e o mesmo pode ser dito para a Europa. Geralmente há dois pontos de vista opostos extremos sobre qualquer assunto.
Quero dizer, olhe para a situação atual como a guerra da Ucrânia, tentamos não dizer nada sobre isso porque amamos nossos fãs russos tanto quanto gostamos de nossos fãs ucranianos. Sobre tomar partido, mesmo que individualmente, tenho uma visão muito clara sobre isso: enquanto músico, acho errado falar sobre essas coisas porque alô, somos apenas músicos, sabe? Como eu disse, mesmo nas letras, nós tentamos não escolher um lado sempre que possível. Às vezes você não pode evitar e meio que acontece porque sempre que você expressa uma opinião. Alguém pode não gostar, mas pelo menos estamos tentando ficar longe das questões divisórias e os assuntos mais polêmicos do momento.
Entendo, realmente existe muita polarização. Mas confesso que pensei nos políticos brasileiros que mais odeio quando escutei “Sucks To Be You”. Como você lida com as interpretações do público com as músicas depois de lançadas? Cada pessoa interpreta de um jeito.
É isso que essa música é! Não foi feita para uma pessoa específica porque cada ouvinte, como você acabou de dizer, pensa naquela pessoa na própria vida e diz: ‘É, essa aqui foi escrita para você’. Não nomeamos ninguém, então escolha seu político favorito, vizinho ou qualquer pessoa que seja para oferecer essa música.