segunda-feira, 16 de outubro de 2023
Roger Waters lança ‘Dark Side of the Moon Redux’:
Há 50 anos, um dos discos mais importantes da história da música foi lançado. O Pink Floyd finalmente alcançava o topo das paradas e o almejado sucesso comercial com o fantástico Dark Side of the Moon.
Até hoje um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, o trabalho era a prova de que rock era arte, e arte podia vender, e muito. Um álbum denso, original e único mostrava uma banda no seu ápice, no seu auge criativo.
Os quatro músicos extremamente talentosos e inteligentes, que faziam parte da formação clássica do Pink Floyd pareciam ter alcançado o ponto mais alto da cadeia criativa do rock, se equiparando aos Beatles em termos artísticos e comerciais, e disputando com o Led Zeppelin o posto de maior banda do planeta nos anos 70.
Apesar do talento indiscutível do incrível guitarrista da banda David Gilmour, o cérebro por trás de Dark Side of the Moon era o baixista, vocalista, líder do Pink Floyd, e compositor de todas as letras do álbum, Roger Waters.
Fast forward to 2023, no ano em que completa 80 anos, o líder do Pink Floyd decide regravar e relançar uma nova versão de Dark Side of the Moon. O que aconteceu nos últimos 50 anos? Muitos álbuns incríveis, inúmeras turnês mundiais; e para nós fãs, (infelizmente), muitas brigas e a separação; a saída de Waters da banda em 1985, a morte do tecladista Richard Wright em 2008.
O Pink Floyd continuou lançando discos e fazendo shows sem seu principal compositor, e Roger Waters se dedicou a uma bem sucedida carreira solo. Na minha opinião, Amused to Death e Is This The Life We Really Want? são os pontos altos dessa carreira solo, mas o sucesso comercial e financeiro realmente veio das turnês mundiais, lotando estádios mundo afora, tocando os clássicos do Pink Floyd; músicas de Meddle, Animals, Wish You Were Here, mas principalmente The Wall e as maravilhosas canções de Dark Side of the Moon.
Em 2023 Roger Waters decide relançar uma nova versão de Dark Side of the Moon. O fato em si me faz pensar em várias perguntas (e respostas): O mundo precisa de uma nova versão deste álbum clássico e perfeito? Provavelmente não.
Quais os motivos que fizeram Roger Waters regravar esse álbum? Não tenho ideia e não me interessa. A nova versão substitui a original? Não. Vale a pena ouvir a nova versão? Muito! O resultado ficou bom? Muito! Como não ficaria?
Com a excelente produção do próprio Waters e do baixista da sua banda solo, Gus Seyffert, Dark Side of the Moon Redux é uma viagem sonora e tem uma atmosfera bem diferente do disco original. Ouvir esse disco no fone é uma viagem musical e nos leva para lugares diferentes do álbum de 1973. O original é como um filme grandioso no cinema, a versão redux é uma peça de teatro.
É um álbum mais introspectivo, mais calmo, mais tranquilo, ao mesmo tempo que os textos recitados por Mr. Waters nos transportam para uma outra realidade bem tensa. É uma mistura de sensações. A nova versão é melhor ou pior que a original? É diferente, simplesmente. É a prova de que mais uma vez, essas músicas, esse repertório é eterno, maravilhoso, e ele fica incrível com arranjos e produções diferentes, novas, atuais.
Por que precisamos comparar um com o outro? Por que precisamos ter uma opinião definitiva sobre o que é melhor ou pior, se o artista deve ou não fazer uma releitura de uma obra clássica? A arte é livre, o artista é livre, pra fazer o que ele quiser, e por que nós temos dificuldades em aceitar isso? Bom, Roger Waters não tem, pelo contrário, tem que ter coragem pra mexer numa obra tão importante, tão perfeita, tão definitiva. Mas não seria esse o papel do artista? Levantar essas questões? Questionar sua própria obra? Seu passado? Se reinventar? Mesmo que seja reinventar uma obra perfeita? É, tem que ter coragem, e Roger Waters tem, e muita.
Controverso, polêmico, não há como duvidar da genialidade desse grande artista. Quanto mais eu ouço essa nova versão mais eu tenho certeza que essas músicas são eternas, absurdamente maravilhosas, atuais, e tem um papel tão importante na minha vida, seja na versão de 1973, o ano em que eu nasci, ou seja na versão de 2023, o ano do 80º aniversário do genial Roger Waters. E pensar que o Pink Floyd lançou Dark Side of the Moon quando o cara tinha 30 anos!
Vale a pena ouvir The Dark Side of the Moon Redux? Muito, as palavras de “Time” parecem ter outro significado, as letras do álbum parecem ter uma relevância distinta para quem as escreveu, 50 anos atrás: “The sun is the same in a relative way but you’re older, Shorter of breath and one day closer to death. Every year is getting shorter, never seem to find the time…” (em tradução livre: “O Sol é o mesmo, de uma forma relativa / Mas você está mais velho / Com menos fôlego / E um dia mais próximo da morte / Cada ano está ficando mais curto / Parece que nunca tem tempo.”
A nova versão de Dark Side of the Moon traz uma melancolia que talvez não existisse na versão original. Será que é assim que Roger Waters se sente? Mais melancólico? Com certeza com mais raiva do ‘sistema’ do que nunca, “The Great Gig in the Sky” se transformou numa nova peça completamente diferente, já estava sendo tocada de forma completamente diferente ao vivo. “Money” virou um blues raivoso, Roger Waters praticamente recita as letras com uma voz que lembra uma mistura de Leonard Cohen, Bob Dylan e Tom Waits. “Us and Them” é linda demais, seja em 1973 ou em 2023: “And after All, we’re only ordinary men” (em tradução livre: e no fim, somos apenas homens comuns”). Será? Mr. Waters definitivamente não é um homem comum.
A banda de Waters também ajuda, apesar de não ter nenhum solo no disco, Jonathan Wilson é um gigante nos arranjos de guitarra e violão, Joey Waronker é um gênio na bateria, dinâmica e precisão extrema.
Cada detalhe, nessa nova versão, é precioso, vale ouvir com atenção, desligar tudo, o celular, as luzes, colocar um bom fone, e viajar, nos novos arranjos, nas letras, na voz de Roger Waters, nos lindos arranjos de cordas. “Brain Damage” e “Eclipse” estão entre aquelas músicas que nos emocionam e nos fazem sentir algo inexplicável, pura arte. É uma sensação estranha, um pouco triste, talvez porque se passaram 50 anos, porque a morte está cada vez mais perto, a única certeza é que Roger Waters é um gênio e que temos sorte por habitar um planeta na mesma época desse grande artista.
Ouça, tire suas próprias conclusões, mas ouça, vale a pena. Revisite o original, compare, não compare, discuta com os amigos, leia as críticas, reclame, xingue, elogie, faça o que você quiser, mas não passe despercebido por essa obra de arte. E o melhor de tudo, Roger Waters está vindo para o Brasil! E vamos poder vê-lo ao vivo de novo, talvez pela última vez? Espero que não, mas ele não parece ser do tipo que faz 10 tours de despedida, então, não perca essa oportunidade. Nos vemos no show!
“Speak To Me” abre o álbum com as sábias palavras de Waters:
The memories of a man in his old age
Are the deeds of a man in his prime
You shuffle in gloom of the sickroom
And talk to yourself as you die
For life is a short, warm moment
And death is a long cold rest
You get your chance to try in the twinkling of an eye:
Eighty years, with luck, or even less
So all aboard for the American tour
And maybe you’ll make it to the top
But mind how you go, and I can tell you, ‘cause I know
You may find it hard to get off
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